Computadores à espera de serem reparados, alunos sem kits digitais e muitas escolas sem condições técnicas para realizar as provas do final do 3.º ciclo em formato digital. É este o estado em que estão as escolas a três meses da realização dos exames de Matemática e Português que servem para a ponderação das notas finais do 9.º ano, com um valor de 25 por cento.
Depois do pré-aviso de greve dos professores de informática para os dias dos exames e a três meses da realização das provas digitais em que o concurso para reparar os portáteis das escolas não teve interessados, o Governo tomou a derradeira decisão. Ontem, na penúltima reunião do Conselho de Ministros da legislatura e no dia seguinte à indigitação do novo primeiro-ministro, foi aprovada «a realização de despesa» para a «aquisição de novos computadores por parte dos Agrupamentos de Escolas e Escolas não Agrupadas». Sem mais. Uma vez que o concurso lançado pelo Ministério da Educação para a «aquisição de serviços não só de reparação, mas também de recondicionamento dos diferentes equipamentos», ficou vazio e o tempo é limitado, cabe agora às escolas comprarem os computadores necessários para fazerem cumprir o desígnio do Governo em gestão, da realização dos exames em formato digital. Isto apesar de a tutela ter garantido ao Jornal de Notícias na semana anterior que «o número de equipamentos disponíveis nas escolas é suficiente para a realização das provas que estão previstas em formato digital». Recorde-se que é o mesmo Governo que se comprometeu em fornecer computadores às escolas durante os anos letivos da pandemia os quais chegaram depois.
O risco da realização generalizada dos exames do 9.º ano, assim como das provas de aferição dos 2.º, 5.º e 8.º anos, em formato digital tem sido motivo de preocupação dos diretores das escolas. Além da falta de equipamento, as possíveis falhas da rede de internet, levantam sérias dúvidas. «Por aquilo que me tem chegado de vários diretores do país, muitas escolas não têm condições para realizar estas provas em formato digital ou dificilmente conseguirão», disse ao Nascer do SOL_ Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas. «A rede de internet cai frequentemente ao ponto de os nossos professores terem de levar para a sala dois planos: recorrer à internet ou recurso ao papel». A melhor solução para acautelar os riscos que se adivinham, seria, no entender deste diretor, que «as provas se realizassem em papel e esferográfica». E aconselha a que a primeira medida do novo ministro da Educação, «mesmo antes da recuperação do tempo de serviço dos professores, devia ser uma palavra em relação ao modelo em que este ano se vão realizar as provas do 9.º ano: ou mantém ou altera».
Pedro Freitas, investigador da Nova SBE e autor do estudo feito ao projeto piloto das provas de aferição de há dois anos, considera essencial uma análise ao piloto feito o ano passado às provas do 9º ano, antes de se avançar para a sua generalização. «Saber como é que correu, que tipo de escolas é que fizeram o piloto, etc.». No seu entender, «é essencial que haja segurança por parte das famílias e dos professores do que está a acontecer e, para haver essa segurança, é fundamental que esse exame não seja o primeiro momento em que os alunos estejam a fazer uma prova em formato digital». O que não é o caso em todas as escolas.
Na verdade, não foi realizado nenhum relatório ao projeto piloto das provas do 9.º ano no qual participaram mais de 50 escolas. Ao que o Nascer do SOL conseguiu apurar junto de fontes do Ministério, concluiu-se «através de estudos internos, assim como de informações recolhidas nas escolas, que não houve qualquer problema». Quanto aos possíveis constrangimentos da internet, o IAVÉ preparou um sistema offline, no entanto, mais de 90% das escolas escolheu o formato online. Ainda assim, durante o último mês, o IAVE fez sessões em todas as escolas para dar a conhecer o sistema offline de forma a acautelar o risco, assim como a respetiva formação de implementação. Também para conseguir aproveitar ao máximo os computadores disponíveis, optou-se para fazer dois turnos consecutivos para realização do exame.
Perante tudo isto e o nervosismo que se vive nas escolas, a possibilidade de reverter o processo e optar-se pela realização dos exames em papel, pelo menos os dos 9.º ano, é uma decisão que depende apenas dos novos titulares da pasta. Uma vez que «é simples adaptar as provas feitas para digital, pois elas são muito idênticas», segundo dizem as mesmas fontes. Mesmo em termos logísticos, ou seja, impressão, ensacamento e distribuição, que é da responsabilidade do Júri Nacional de Exames (JNE), não é uma missão impossível apesar do prazo ser cada dia mais estreito, garantiu uma fonte do JNE ao nosso jornal. Ou seja, a decisão é meramente política, Seja ela qual for, as escolas irão ter disponíveis as verbas para comprar novos computadores. Para somar aos que se encontram à espera de reparação, de novo concurso e de interessados em concorrer.