Paulo Marcos. “Qualquer empresa da distribuição moderna ou do turismo teve crescimentos mais altos do que os bancos”

O presidente do SNQTB reconhece os bons resultados dos bancos, mas lamenta que isso não se reflita nas negociações salariais.

Como vê os lucros recorde apresentados pelos bancos? Os portugueses compreendem estes lucros depois de terem sido confrontados com aumentos de prestações devido à subida das taxas de juro?

As parangonas fazendo menção aos valores absolutos dos resultados, sejam quais forem as empresas causam sempre ao cidadão comum uma certa estupefação e um sentimento que outros estão a enriquecer em detrimento deles próprios. Mas isto é, no domínio das perceções, de facto os resultados dos bancos são bons, estão nos níveis mais altos, mas a sua rendibilidade está dentro de uma linha média, média-baixa da generalidade dos setores da economia portuguesa. Só em 2023 é que os bancos conseguiram atingir resultados que, conjugados com os três anos anteriores, permitiram, na maior parte dos casos, eliminar quase completamente as perdas da década e meia perdida, desde a intervenção da troika às taxas de juro baixas. Se fizermos a média dos últimos 20 anos, o setor financeiro, nomeadamente o setor bancário em Portugal, é dos menos excitantes em termos de recompensa aos trabalhadores bancários, que tiveram uma perda real dos seus salários, e também aos acionistas, embora a perda destes tenha sido bastante mais reduzida. E qualquer setor da distribuição moderna ou do turismo teve taxas de crescimento mais altas e resultados em proporção dos seus capitais muitíssimo mais altos. No entanto, o setor da banca chama a atenção porque, devido à regulação, tem elevados valores de capitais próprios, mas em média não compara muito bem com outros setores.

Isso permitiu aos bancos voltarem a pagar dividendos, como é o caso da Caixa Geral de Depósitos, que vai pagar cerca 600 milhões. Os bancos estão agora a remunerar melhor os acionistas…

Estão e gostamos que estejam. O nosso ponto de desacordo é que, ao contrário do que acontece, por exemplo, em Espanha, os bancos em Portugal estão numa política atávica de não compensar adequadamente os seus trabalhadores, estejam eles no ativo ou estejam reformados. Pagar dividendos é bom, o que nos faz alguma estupefação é que se paguem dividendos – os casos que mencionou, muito altos, que correspondem a dividendos payout acima de 90% – e insiste-se em políticas de baixos salários ou políticas de atualização dos salários muito minguantes. Em Espanha, os sindicatos independentes, uma parte deles, firmaram agora acordos para as caixas de poupança – o equivalente aos Créditos Agrícolas – mas também na banca comercial, onde estão a ultimar um acordo muito semelhante, com atualizações de 5% para este ano, 3% para o próximo e 3% para o ano seguinte. Estamos a falar de 11% e com uma atualização extraordinária. Estamos a falar em três anos de atualizações na casa dos 12%/13%. Mas esses mesmos bancos, quando passam a fronteira para este lado, em vez de 5% querem fechar aumentos salariais de 2%. Não só os trabalhadores bancários espanhóis ganham em média 40% a 50% acima, como têm aumentos salariais que são mais do dobro daquilo que os mesmos bancos estão a propor deste lado da fronteira. Somos é contra isso. Agora, pagar dividendos é sinal que a economia está a funcionar. Já pagar dividendos muitíssimo altos, sacrificando os trabalhadores, parece-nos que não é uma boa política.

Temos estado a assistir a um braço de ferro entre as administrações dos bancos e os trabalhadores em torno dos aumentos salariais. Continua a haver resistência por parte da banca?

A resistência tem a ver com várias coisas. Uma delas é a de algum amorfismo dos trabalhadores, que têm de se fazer ouvir mais. Isto é muito simples, sociedades com altos níveis de sindicalização e de participação na vida sindical têm rendimentos do trabalho mais altos e uma melhor distribuição de rendimentos. Sociedades em que se participa menos, em que há menos sindicalização têm salários piores e apresentam discrepâncias muito maiores de rendimento. Por outro lado, encontramos mais sensibilidade nos bancos que têm uma componente de decisão mais local ou exclusivamente local. Os bancos que estão mais perto das comunidades, cujos decisores vivem e partilham o espaço comunitário com os seus clientes, trabalhadores e fornecedores são tipicamente mais propensos a perceber os problemas dos trabalhadores. Já bancos cujos centros de decisão estão mais longe, com uma lógica de cotação bolsista tem sido mais difícil de negociar. Nesses bancos de perfil internacional, a maneira como redistribuem ou como se propõem redistribuir os rendimentos de trabalho são bastante díspares entre os países e são mais favoráveis junto aos centros de decisão e aos países onde estão as suas sedes e são bastante menos favoráveis em relação às periferias. Isto é, o que se verifica nas empresas multinacionais do setor financeiro que são menos generosas com os trabalhadores portugueses do que são com os trabalhadores dos seus países de origem. Isso é lamentável.

Nos últimos temos assistido a greves por parte dos trabalhadores. Poderemos assistir a novas paralisações?

É provável que venhamos a ter greves este ano e a breve trecho. Este sindicato, que é o maior do setor e tem mais de metade dos trabalhadores no ativo como seus filiados, tem feito propostas no sentido de fazermos um acordo justo, célere, equilibrado e rápido. E o que é certo é que não tem havido um avanço do lado patronal, penso que isto é motivo de indignação e com certeza, nas próximas semanas, os sindicatos não deixarão de reagir de forma muito vigorosa e convocar os trabalhadores a esta reação.

É mais fácil quando os sindicatos falam a uma só voz?

Estivemos recentemente em Espanha numa enorme manifestação, em Madrid, convocada por todas federações sindicais bancárias espanholas, sem fazer publicidade, desde a extrema-esquerda à direita, até outros, como nós, os independentes. Marchei à cabeça da manifestação com os portugueses, embora a esmagadora maioria dos participantes fossem espanhóis. Vieram sindicalistas de toda a Espanha, com prenúncio de uma maior manifestação e uma greve, provavelmente em março. Estavam milhares de pessoas e, repito, em Espanha o salário médio no setor financeiro é cerca de 18 a 20 mil euros acima do salário médio anual em Portugal, portanto, a base de partida é bastante mais favorável e, mesmo assim, as pessoas manifestaram-se e estavam todos juntas. Não pude deixar de reparar como independentes, comunistas, socialistas, centristas marchavam lado a lado, o que em Portugal é bastante difícil. Temos sempre tentado unir a classe, mas acho que todos os sindicatos bancários estão numa convergência de ação e de interesses, o que se calhar nem sempre se verificou. No ano passado acho que isso foi notório e este ano não espero que seja menos. Diria que maior diversidade não tem problema, alguma competitividade sindical também não tem problema nenhum. O problema é quando existem estruturas de representação, seja de trabalhadores, de classes profissionais, etc. que não obedecem aos estritos interesses dos seus representados. E quando isso acontece, quando se misturam fenómenos anómalos e vimos o que aconteceu em 2022: a inflação estava no pico acima de 10% e houve sindicatos que fecharem acordos com aumentos de pouco mais de 1%. Claramente houve interesses e outras motivações que se introduziram nos processos negociais e deu um resultado medíocre. Mas penso que, em 2023, pela vergonha que alguns sentiram depois de terem feito acordos tão insignificantes  resolveram arrepiar caminho e estou convicto que em 2024 vão continuar consistentes, olhando para o futuro.

Havendo essa atualização terá efeitos retroativos?

Terá de ser com retroativos a janeiro, como aliás é hábito nas nossas negociações coletivas, independentemente da data em que se venha a chegar o acordo. O ponto essencial é que sociedades mais militantes do ponto de vista sindical têm melhores resultados, como é o caso dos países do Centro e do Norte da Europa, em que seria impensável haver empresas com resultados a crescerem 60 e 70%, uma inflação de 3% ou 4% e não quererem passar de aumentos, por exemplo, de 2%, como está a acontecer em Portugal no setor financeiro. Por outro lado, olhando para as empresas multinacionais no setor financeiro, apesar de aplicarem nos seus países de origem políticas tendencialmente restritivas são bastante mais generosas com os seus trabalhadores face ao que aplicam em Portugal. E, depois, a sensação que temos é que algumas empresas que não querem promover valorizações salariais aos seus trabalhadores em Portugal não se coíbem de mandar 92% a 95% dos seus resultados sob a forma de dividendos para a casa mãe. O acionista ser remunerado também pelo sacrifício dos trabalhadores bancários portugueses é uma situação que não podemos compaginar. É roçar o incompreensível.

Após a realização de greves há uma maior abertura da banca em negociar?

Quando há indignação cívica, manifestações e greves nada fica igual agora. Mas também achamos que tem de haver um processo razoável, uma negociação coletiva que seja feita com bases fundamentadas. O protesto cívico, o protesto na rua e a greve são já etapas muito avançadas, mas o que estamos a sentir é que estamos a ser empurrados outra vez para isso e, se tiver de ser, vai ser feito. No entanto, num processo negocial de boa fé não se pode partir fazendo uma greve, como também de início não se deve partir ficando fechados numa posição, em que não se quer sequer cobrir os custos da inflação, muito menos dividir, nem que seja de forma parcial, os ganhos de produtividade. Temos uma Direção Geral de Emprego e Relações de Trabalho, a DGERT, que devia ser um mediador institucional para dirimir conflitos, mas contam-se pelos dedos de duas mãos, e ainda sobram dedos, os processos que estiveram numa fase de mediação e grande parte destes foi o SNQTB que os promoveu. Temos um mecanismo do Estado que não funciona em Portugal, ao contrário do que acontece na Alemanha ou na França. É triste perceber que a DGERT não tem capacidade de atuação e o que se esperaria é que tivesse um papel ativo, interventivo, que procurasse ajudar a criar uma sociedade mais justa com rendimentos mais equilibrados. Temos uma DGERT amorfa, inoperante, incapaz e, aos cidadãos e aos sindicatos, não resta por vezes outra forma de atuação que não seja a mais desesperada, o que é uma pena. Na prática, a Direção Geral consome os recursos dos cidadãos, os impostos e não tem atuação palpável. O que o STB está à espera é que haja a tomada de posse dos nossos deputados para, nos primeiros dias de legislatura, levar um caderno de encargos de sugestões aos diversos grupos parlamentares para reformar e reforçar o mecanismo institucional na área do trabalho, nomeadamente dotando a DGERT de meios, de responsabilidade, de publicitação das suas atuações.

Há bancos que em vez de aumentarem salários para valores próximos dos que são pedidos pelos sindicatos preferem pagar prémios, tal como foi anunciado recentemente pela Caixa…

Num mundo equilibrado haverá aumentos salariais que compensam a inflação, que repartem ganhos de produtividade e isso deveria levar a aumentos acima dos 3% e depois poderia haver um sistema de prémios. Diria que pode haver dois níveis, um primeiro em que há um valor mínimo para todos, isto é como uma equipa de futebol que exige titulares e suplentes, cuja missão é darem o máximo de luta para que os titulares sejam melhores. Portanto, numa empresa todos contam, não apenas os talentos, mas os outros ditos menos talentosos, cuja missão é esforçarem-se e darem o melhor para tentarem substituir os talentos. E é desta competitividade que se quer saudável que deveria haver um nível de prémios igual para todos. E, depois, em casos mais excecionais, poderia haver um segundo nível de premiação. O que verificamos no setor financeiro é que há uma parte desproporcionada de prémios que são pagos a um punhado de pessoas. É duvidoso que meia dúzia mereça, às vezes, 20%, 30%, 40%, 50% dos prémios. Depois, poderia haver um terceiro nível, um bocadinho mais discricionário, mas ainda assim transparente e o menos subjetivo possível. O que temos verificado é que, no setor financeiro, o nível de aumentos salariais nos últimos 15 anos tem sido baixo, dificilmente cobre a inflação e não reparte sequer os ganhos de produtividade. E depois o nível de premiação abrange 2/3 dos trabalhadores e mesmos nesses há discrepâncias tão grandes que corremos o risco de não motivar e, até pelo contrário, passar sinais às pessoas de que umas são mais importantes do que outras, criando um desequilíbrio. Por alguma razão, as equipas mais competitivas do mundo, seja no futebol profissional, seja no basquetebol profissional têm um nível de prémios que é igual para todos os seus jogadores.

Voltando aos resultados dos bancos, é possível manter esta tendência de crescimento?

Em 2024 e em 2005, aquilo que é razoável prever e, por isso, lançámos um processo de negociação para três anos, é termos um cenário macroeconómico com boa razoabilidade. Mas, ao contrário do que aconteceu em Espanha, onde foi feito um convénio para três anos, aqui os bancos recusam-se a negociar para mais do que um. Acredito que os resultados vão ser sólidos, mas vão ser menos altos do que foram em 2023, porque uma grande parte dos resultados assentaram na evolução da margem que teve muito a ver com efeitos exógenos e relacionados com a política monetária do BCE. Imaginando que 2024 será como foi em 2023, então os resultados serão bastante sólidos e que sejam 85% a 90% do valor que foi conseguido em 2023. Estamos a falar já de patamares bastante razoáveis, que permitem uma remuneração de capitais próprios e uma capacidade de atrair novos trabalhadores e novos acionistas bastante razoáveis. Provavelmente, uma situação como a de 2023 será irrepetível nas próximas décadas, mas 2024 será melhor que 2022, que já tinha sido o melhor ano dos 17 anos anteriores. Logo, 2024 será o segundo melhor ano das últimas duas décadas e meia. E, se em 2025 conseguirmos manter níveis relativamente próximos dos de 2022, a banca terá capacidade de retorno aos acionistas, que compara já com a média alta e não média baixa face a outros setores, como tem acontecido até agora. Também há duas décadas e meia, os trabalhadores do setor financeiro em Portugal estavam na tabela superior das remunerações de trabalhadores por conta de outrem e o que é certo, é que nos últimos 20 anos, com esta concentração do capital em menos bancos, com a consolidação do mercado e com estas práticas de negociação coletiva que descrevi, os trabalhadores do setor financeiro têm sido invariavelmente aqueles que têm perdido rendimento. Hoje em dia, a profissão é bastante menos atrativa para jovens licenciados, porque existe um conjunto de outras alternativas que há 20 e tal anos não existiam e o setor também está confrontado com esta política de tentar embaratecer salários.

Ainda na semana passada, o Banco Central Europeu alertou a banca para o risco de exposição ao mercado imobiliário…

O que o Banco Central Europeu diz é muito contaminado por aquilo que acontece nas maiores economias do euro, como a Alemanha. E muitos bancos regionais alemães e até aquele que foi o maior banco de Europa tem problemas de excesso de exposição ao setor imobiliário nas suas carteiras e que não está resolvido. Nos países periféricos, nomeadamente o português, isso não acontece, a exposição ao imobiliário comercial é pequena. Estive agora a ver as contas de um grande banco e só 1,1% da sua carteira está no imobiliário não residencial. Percebe-se o tema dos bancos regionais alemães, mas isso não se verifica no sul da Europa, pelo menos, neste cantinho da Europa.

Portugal está mais exposto ao mercado imobiliário residencial, daí também os portugueses terem recorrido às moratórias…

Cerca de 80% das famílias portuguesas têm dificuldade ou incapacidade de conseguir poupar. Somos o país da Europa, a par da Itália, com mais exposição ao crédito habitação e às taxas variáveis. Banco após banco tem vindo a dizer que, em 2023, renegociaram dezenas de milhares de contratos. Tem havido essa flexibilidade, mas as taxas de juro também terão chegado ao seu pico no último trimestre e, a partir daí, irá existir um desanuviamento que provavelmente só se refletirá completamente a partir da segunda metade de 2025 e em 2026. Por isso, acredito que as novas gerações que contraírem créditos à habitação vão optar por taxas fixas ou por taxas mistas com períodos fixos muito elevados. O que é certo é que, com muito menos procura de crédito habitação, como os dados dos bancos têm revelado, pela insuficiência da oferta, pelo afluxo de imigrantes, os preços em Portugal, genericamente, continuam a aumentar e não há nenhuma razão para pensar que vamos ter uma oferta suficiente para colmatar as medidas que foram tomadas. Foram medidas tímidas, mais de PowerPoint do que dinheiro e obra no terreno e ainda não produziram qualquer efeito. O Governo tem de passar sinais corretos aos agentes económicos para aumentarem a oferta e, apesar de várias câmaras municipais, nomeadamente Lisboa e Porto, estarem a fazer um esforço é um esforço à medida da capacidade de uma autarquia e, por isso, é limitada. Falta claramente em Portugal 700 a 800 mil habitações e enquanto não houver habitações não vamos resolver o problema. Aliás, há duas maneiras de degradar uma cidade. Uma é congelar rendas por tempo indeterminado e a outra é com uma guerra. A guerra é rápida, mas o congelamento ou, se quiser, os bloqueamentos dos mecanismos de mercado produzem efeitos mais duradouros. Houve uma série de agentes políticos que não quiseram perceber isto ou fingem que não percebem e temos um problema a médio e longo prazo na habitação e, como tal, não vejo razão nenhuma para que os preços comecem a descer. O setor imobiliário continuará de relativa boa saúde e os bancos portugueses estão pouquíssimos expostos ao imobiliário comercial, estando mais expostos ao imobiliário habitacional. E hoje os rácios de financiamento face ao valor atual das casas são provavelmente bem menos de metade do valor das casas. E sendo um país de proprietários é importante reter que 90% dos proprietários não têm crédito à habitação ou têm prestações de crédito à habitação que não ultrapassam os 10% do seu rendimento. Mais problemático é quem comprou casa nos últimos sete ou oito anos, aí obviamente haverá 200 a 300 mil sobre pressão e é nesses que já está a ser feito o esforço de renegociação. É importante que seja feito e, se necessário for, deveria ter algum apoio estatal por períodos transitórios. Também é importante perceber na economia portuguesa é como é que vamos fomentar as pequenas e as médias empresas a ganharem escala, a conseguirem-se fundir e a libertarem recursos para a internacionalização e com isso, consigam reter mais e melhor emprego e como é que os bancos podem assumir esses riscos. Só com as empresas a ganharem quota nos mercados externos é que podemos dar um salto qualitativo nos nossos níveis de vida, como dão países com níveis de escolarização, com dimensão e com recursos semelhantes aos nossos. A verdadeira questão aqui como é que não vamos empobrecer, mas parece que é uma questão que está arredada dos debates.

O BCE já sinalizou que poderá descer as taxas de juro no verão e Mário Centeno também já disse que há condições para cortar os juros….

Sobre o papel de Centeno, enquanto oráculo tenho sérias dúvidas sobre a oportunidade ou sobre a sua capacidade de ser certeiro. Tudo aparenta, pelo menos, é o que dizem os mercados, é que algures no próximo ano, as taxas terão descido de forma significativa, mas repito no próximo ano. E temos duas guerras perto de nós, uma guerra com 60 anos que é a de Israel-Palestina, mais a Ucrânia, o que representa um conjunto de ameaças. Os profetas e os oráculos são bons para contar histórias.

Em relação à remuneração dos depósitos continua a ficar aquém do desejado…

Já não há muito caminho a fazer, é a vantagem de economias que têm concorrência. A principal desvantagem é quando o banco público não tem um papel pioneiro e aí podemos discutir verdadeiramente para é que serve a Caixa Geral de Depósitos. Dar dividendos monstruosos ao Estado não é claramente a missão da Caixa Geral de Depósitos e após ter sinalizado que iria remunerar de forma mais afirmativa os depósitos, o que acabou por fazer, demorou seis ou sete meses e isso teve consequências. Atualmente, a remuneração dos depósitos em Portugal compara bem com qualquer país da Europa.

O Governo até preferiu alterar a remuneração dos Certificados de Aforro que estava mais alta do que a maioria dos depósitos…

Esse é um tema que provavelmente carecia de um outro tipo de discussão. O que me parece é que ter um banco público cuja missão é maximizar resultados para o seu acionista é claramente perder o norte. Obviamente que um banco dito público deve ser rentável, deve ter uma remuneração na média do setor ou na média baixa, mas não deve ser liderante em retorno acionista. Isto é um perfeito absurdo, era mais importante não ter fechado balcões na fronteira, era mais importante ter começado seis ou sete meses antes a pagar remuneração nos depósitos a prazo condizentes com aquilo que se via pela Europa fora do que entregar 500 ou 600 milhões de dividendos e ganhar mais de 1000 milhões. Outro problema é porque é que os portugueses e as empresas portuguesas têm um tão elevado valor em depósitos à ordem, o que é meio bizarro.