Não há problema sem solução

Os próximos tempos dirão se os que têm mais responsabilidades acertam o tiro, e se saberão estar à altura das circunstâncias, na certeza que os portugueses estão a assistir.

Depois de uma semana em Macau, Shenzen e Zuhai, para acompanhar uma missão empresarial da agência de investimento de Oeiras a lugares onde quase tudo é vontade de realizar, voltar ao solo pátrio e assistir ao espetáculo miserável que os partidos com assento parlamentar ofereceram ao país na eleição da segunda figura do Estado é deprimente.

Se os eleitores portugueses queriam castigar os partidos centrais do regime com a votação expressiva no populismo, certamente que conseguiram. Todavia, castigar o sistema partidário assemelha-se a um ato de autoflagelação, pois corremos o risco de ‘enviar o bebé com a água do banho’. Claro está que importa dizer, mais uma vez, que o eleitor votou em situação de desespero e por não ver alternativa razoável.

Não obstante, há algo que já podemos dar como adquirido: seja com 1 deputado, seja com 50, o Chega é sempre problema e nunca será solução. A forma como o líder do partido se comporta, associado às barbaridades que lhe saem pela boca, implica um diagnóstico rápido, ‘o rapaz tem sarna’!
A não ser que ganhe eleições e consiga governar sozinho, o líder do partido Chega parece estar destinado a fazer-se acompanhar de ‘embaixadores que sacam veleiros’, advogados esquemáticos periféricos ou pela ‘fina flor do entulho’ que as outras forças políticas dispensaram. Não há muita pessoa normal que, quando olha com atenção, não pense: ‘Não me infetas da tua doença’!

Pode, quem tem como melhor o pior dos outros, ser solução? Claro que não! Se havia papel positivo para fazer, o Chega já fez: obrigar os partidos preguiçosos a fazerem pela vida. Leia-se, a governar para as pessoas reais. Claro que, não tendo dado ao pedal preventivamente, terão agora de o fazer contra a ‘horda de bárbaros’ que permitiram que crescesse.

Fazer pela vida significa dedicarem-se mais aos problemas reais dos portugueses e menos a ‘causas’. Economia a crescer, ordenados decentes, habitação digna acessível e serviços públicos que funcionam.
Claro está que foram estas questões que falharam nas últimas décadas e são estas as razões centrais do descontentamento dos portugueses. Nenhum governo, desde Cavaco Silva, conseguiu efetivamente responder a estas questões.

Note-se: é mais importante os portugueses terem uma fatura da luz razoável do que um anúncio que as centrais a carvão foram encerradas e que passamos a comprar energia produzida a carvão aos outros. A época dos anúncios espetaculares sem resultados concretos acabou, este terá de ser um tempo de pragmatismo e eficiência.

É a qualidade da governação e a seriedade da mesma que pode combater o populismo. O Chega não é um partido normal, com um ideal ou um ideário. Este é um partido que vem para combater o sistema de modo permanentemente confrontacional. Foi assim com a eleição do presidente do Parlamento e será assim em todo o momento.

Os próximos tempos dirão se os que têm mais responsabilidades (a saber, PSD e PS) acertam o tiro, e se saberão estar à altura das circunstâncias, na certeza que os portugueses estão a assistir. Os regimes não são eternos e os partidos também não. Se estes não se reformarem e não servirem o país, será preciso encontrar outros que sirvam.

O único obstáculo é saber onde estão as elites políticas, atuais ou novas, que percebam o momento do país e o quanto este precisa delas. Não há problema sem solução.