André Ventura, já se sabe, muitas vezes dispara mais rápido do que o seu pensamento, pois, apesar de não ser o Lucky Luke da política, gosta de atuar por antecipação, apanhando os outros desprevenidos. Depois do grande sucesso nas eleições legislativas, estranhamente, passou a usar a cassete da pedinchice, exigindo lugares para o Chega no futuro governo. Independentemente da tática, que achei um disparate, esperava-se que Ventura usasse algum sentido de Estado ou pelo menos de responsabilidade. A novela mexicana da eleição do presidente da Assembleia da República pode ter agradado a alguns dos ‘Cheganos’, mas não acredito que a maioria se reveja na tontice do comportamento do partido. Se num dia diz que há acordo para a eleição do presidente da AR, no outro só pode dizer, antes da votação, que o acordo tinha sido rompido pela AD e que não vai cumprir o combinado. Percebo a irritação de ver um ator menor a comportar-se como se fosse o dono da bola, mas nada disso justifica o comportamento do Chega, que mudou de opinião sem o anunciar. Nuno Melo, que será ministro da Defesa, mostrando a apetência do CDS para o cargo – depois de Adelino Amaro da Costa e de Paulo Portas – parece comportar-se como aqueles gerentes de discoteca que falam muito alto para os clientes quando os guarda-costas estão a protegê-lo. Ah! E o que dizer da cena patética da colocação da placa na sala do CDS, com a presença de Portas e Narana? Fez-me lembrar, com todo o respeito, as cenas dos velhinhos combatentes da II Grande Guerra quando são convidados a inaugurar mais um memorial… Mas, repito, nada disso justifica o comportamento lamentável do Chega.
Só mais duas ou três notas sobre a composição do Governo. Parece óbvio que há meia dúzia de nomes fortes, entre os quais Margarida Blasco, ministra da Administração Interna, que aquando da saída do anterior diretor nacional da PSP chegou a ser apontada ao cargo – onde está muito bem vista –, ou Fernando Alexandre, além de Paulo Rangel, António Leitão Amaro, José Manuel Fernandes ou Manuel Castro de Almeida.
Sendo Luís Montenegro um aprendiz de Cavaco Silva, temos de reconhecer que não conseguiu usar a receita do seu mentor, que nunca deixava fugir para a comunicação social os nomes dos futuros governantes – apesar de tudo conseguiu surpreender com alguns nomes.
Por fim, são poucos os que auguram longevidade a este Governo, e Hugo Soares, um apparatchik criado na escola das juventudes partidárias, com um ar de rufia suburbano, terá de provar que tem mais talento político do que parece, até para conseguir os equilíbrios necessários para os acordos inevitáveis, ora com o PS, ora com o Chega. Mas não falta quem lhe reconheça talento, começando em Marques Mendes… Pode ser que se revele um grande líder parlamentar.
Deixando a política para trás, já que se adivinham tempos agitados, o que dizer do homem que encabeça a lista de Pinto da Costa ao conselho superior do FC_Porto? O cardeal Américo Aguiar, bispo num concelho, Setúbal, outrora vermelho, aliás, a cor futebolística do antigo padre Américo Aguiar, não tem vergonha em oferecer-se para a lista do conhecido Papa do futebol português, personagem com um passado cheio de pecados, para ser meigo. Américo Aguiar pensa mais no protagonismo do que nas questões espirituais. É um género.