Os desafios psicológicos do cancro do intestino

O diagnóstico precoce do cancro colorretal é fundamental para um tratamento efetivo em busca da cura. O impacto no estado emocional dos doentes destaca a necessidade de uma abordagem global nos cuidados adotados, com um acompanhamento permanente das suas necessidades.

O cancro colorretal é uma condição que afeta o cólon ou o reto e pode ser uma experiência desafiadora tanto física como psicologicamente para os doentes. A doença, que atinge o intestino grosso ou o reto, também corresponde a um dos tumores malignos mais letais e mais frequentes no mundo. Apesar de agressivo, um diagnóstico precoce é fundamental para um tratamento efetivo em busca da cura. Na maioria dos casos, o cancro colorretal é silencioso e assintomático, o que gera um grande desafio para o diagnóstico.

É importante abordar esse assunto, já que esta doença se tem tornado muito comum e há diversos desafios relacionados com a prevenção, deteção e tratamento. Apesar das diversas possibilidades de cura, os métodos de tratamento podem desencadear muitas consequências na vida dos doentes e dos seus familiares, em que incluem os impactos físicos e psicológicos, relacionados com relações sociais e relacionados ao meio ambiente.

Receber o diagnóstico pode ser avassalador para os doentes e as suas famílias. Muitas vezes, as pessoas passam por um período de choque e negação, onde têm dificuldade em aceitar a realidade. O medo do desconhecido e da incerteza sobre o futuro é comum entre os doentes. Podem enfrentar ansiedade em relação ao tratamento, aos efeitos colaterais, à progressão da doença e à sua própria mortalidade.

A luta contra o cancro colorretal pode levar à depressão devido ao impacto emocional, mas também físico e social da doença. Os doentes podem sentir-se isolados e desconectados de amigos e familiares, o que pode piorar a saúde mental. Os tratamentos, como a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia, podem causar mudanças na imagem corporal e na função intestinal, afetando negativamente a autoestima e qualidade de vida.

Depois do tratamento, os doentes enfrentam o desafio de se ajustar a uma nova normalidade. Podem lidar com efeitos colaterais persistentes do tratamento, enfrentar mudanças na vida quotidiana e lidar com a incerteza em relação ao futuro.  No caso específico de haver necessidade de uma colostomia – definida como a exteriorização do cólon, ou intestino grosso, através da parede abdominal, desviando o trânsito intestinal – o doente depara-se com uma nova condição de vida. Pode vivenciar misturas de sentimentos: raiva, depressão e medo devido à alteração da imagem corporal, necessitando de suporte e apoio psicológico para além do apoio de familiares, amigos e restantes profissionais para facilitar a sua adaptação e aceitação.

O doente pode experimentar uma série de receios que vão desde a rejeição da família e amigos, às dificuldades em lidar com a sua situação, assim como barreiras para a reintegração social e a perda do emprego. Aliam-se a esta problemática as situações de constrangimento e ameaça à sua integridade que tendem a gerar um desequilíbrio emocional e a interferir na aceitação da nova condição de vida.

O apoio psicológico é essencial na recuperação e na manutenção da vida, sendo indispensável ter compreensão no dia a dia, para minimizar o sofrimento e para que possam descobrir novas possibilidades. Os significados atribuídos à colostomia são inúmeros, e, por vezes, estigmatizantes. Mesmo que temporariamente, apresenta mudanças no quotidiano. Há modificações nos hábitos de vida, seja na alimentação, no sono ou no controle do trânsito intestinal, existindo a necessidade de se adaptar.

É assim essencial reconhecer e abordar os desafios psicológicos enfrentados pelas pessoas com cancro colorretal, proporcionando apoio emocional, acesso a serviços de saúde mental e recursos com resposta às suas necessidades. O apoio de profissionais de saúde, familiares, amigos e grupos de apoio pode desempenhar um papel crucial no bem-estar emocional e na qualidade de vida.

Em resumo, os estudos sobre o impacto do cancro colorretal no estado emocional dos doentes destacam a necessidade de uma abordagem global nos cuidados adotados, incluindo a avaliação e o suporte adequados para as suas necessidades psicológicas e sociais.

Especialista em Psico-Oncologia na CUF Oncologia | hospitais CUF Cascais e CUF Tejo