Cumprindo ‘Abril’

A chantagem da palavra ‘fascista’ acabou. O efeito da pressão social que impediu até há pouco que inúmeros eleitores manifestassem em liberdade as suas preferências políticas esbateu-se.

  1. Com os 50 deputados do Chega agora eleitos e Abril à porta, ouve-se mais hipócrita a choradeira dos fanáticos que tudo fizeram e continuam a fazer para impedirem e reverterem o essencial que ‘Abril’ trouxe: a conquista da Liberdade e da Democracia.

Acontece que a vitória eleitoral do Chega é prova inquestionável que ‘Abril’ se cumpriu em 10 de março. A prova que graças a ‘Abril’ «todos podemos ser de esquerda, de centro ou de direita, do que quisermos, nos termos das leis, respeitando a liberdade de cada um. A Democracia não tem donos. Celebremos, pois com júbilo ‘Abril’!» (Como escreveu Manuel Fonseca, expressivo e frontal, numa das suas crónicas no CM).

Mas não foi fácil chegar-se aqui e é preciso lembrar isso.

  1. Depois de um longo período de resistência aos que nunca deixaram a liberdade e a democracia serem como a verdadeira liberdade e democracia são. Como as quiseram os militares que as trouxeram, e combateram por elas Mário Soares, Sá Carneiro, todos os verdadeiros democratas. Ei-las significativamente reafirmadas com a vitória eleitoral de uma Direita direita, cuja existência e representação política na AR os inimigos da Democracia tinham até há pouco impedido. (Lembro que o CDS teve de ser Centro Democrático e Social e ficou a dever essa representação ao herói da resistência Mário Soares).

A chantagem da palavra ‘fascista’ acabou. O efeito da pressão social que como agora ficou provado impediu até há pouco que inúmeros eleitores manifestassem em liberdade as suas preferências políticas esbateu-se. Se no futuro uma palavra for usada para o mesmo efeito, essa palavra será provavelmente ‘socialista’. O que seria igualmente intolerável e reuniria igual repúdio dos verdadeiros democratas e homens livres.

  1. Num texto notável publicado na edição do Nascer do SOL de 15 de março, O labirinto de Montenegro, Diogo Pacheco de Amorim explica tudo, as circunstâncias e o significado, e abre espaço para conjeturarmos sobre o provável quadro político que aí vem. E não é por ser um fundador do Chega a explicar que a explicação não tem valor e não deve merecer atenção. Faremos isso.