Francisco Calheiros. “Estamos a chegar aos 2 mil milhões de euros de perdas por não haver ainda um novo aeroporto”

O agora reeleito presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP) acredita que o país vai continuar a crescer enquanto destino turístico, mas diz que esse crescimento seria mais fácil se já tivéssemos um novo aeroporto para permitir mais voos e a abertura de mais slots.

Que balanço faz do turismo em Portugal?

Sem dúvida um balanço muito positivo. O turismo continua a ser o motor da nossa economia e é gerador de valor. Gera riqueza e cria postos de trabalho como nenhuma outra atividade, induz efeitos muito significativos na economia pelo estímulo a outros setores e assegura uma importante fonte de receitas fiscais e leva mais longe o nome de Portugal. Os números recordes de 2023 assim o confirmam: mais de 30 milhões de hóspedes, 77 milhões de dormidas, receitas de 25 mil milhões de euros e sem esquecer os 31 Óscares europeus do Turismo conquistados no ano passado por Portugal.

É possível continuar a bater recordes atrás de recordes?

Sim, mas mais facilmente o conseguiremos se tivermos um novo aeroporto. Não há dúvidas que existe uma procura crescente do destino Portugal mas, como é óbvio, os turistas têm de ter condições de cá chegar e de entrarem no país. Ora se continuarmos a não ter um novo aeroporto que permita a aterragem de mais voos e a abertura de mais e novos slots dificilmente conseguiremos crescer muito mais em número de turistas, hóspedes, dormidas e receitas.

Estava à espera desta forte recuperação?

Portugal é um país seguro e tem uma oferta turística de qualidade e diversificada, o que permite que o nosso país seja sempre uma excelente opção. Na verdade, só durante a pandemia o turismo teve um grande decréscimo, tal como aconteceu em todo o mundo. Mas sabia-se que passada a pandemia iríamos recuperar e até melhorar os dados da nossa atividade.

Já é possível fazer um balanço da Páscoa? O mau tempo provocou cancelamentos?

A Páscoa foi positiva, mesmo tendo em conta as alterações climáticas. Não houve muitos cancelamentos de última hora.

E quais são as perspetivas para o verão?

Tenho muito boas perspetivas para o verão. Penso que se tivermos uma época alta igual à do ano passado já será muito positivo.

Acha que é necessário conquistar novos mercados? Se sim, quais?

É sempre positiva a conquista de novos mercados e isso é algo que está a acontecer. Veja-se o exemplo dos Estados Unidos e do Canadá. Penso que será positivo reforçar os novos mercados que nos começaram a procurar e reforçar a promoção em novos mercados alvo, como por exemplo o asiático.

Como vê as críticas de quem diz que o país não pode apostar apenas no setor do turismo e deveria diversificar o investimento?

Sinceramente, não vejo isso como uma crítica. Concordo que o país precisa de investir para ter mais setores estratégicos, além do turismo, que tragam inovação, desenvolvimento e emprego. Por outro lado, seria positivo que outros setores possam crescer como o turismo.

Mas o setor continua a ter um peso importante na economia, sendo um dos principais motores de crescimento…

Sim, isso não há qualquer dúvida e assim continuará a ser, mas o que não quer dizer que o país não venha a apostar em mais setores estratégicos e que impulsionem a nossa economia.

Também apresenta um peso significativo em termos de postos de trabalho… O setor continua a enfrentar um problema de mão-de-obra?

Sim, este continua a ser um problema, mas não tanto ao nível a que já esteve. Ainda assim, é necessária uma estratégia que envolva todos os interessados no tema, a começar pelo Governo e pelas empresas, para que cheguemos a soluções estratégicas de curto, médio e longo prazo.

Esse problema poderá ser resolvido com uma aposta na imigração e por aumentos salariais?

É o que a CTP tem defendido.

Há estudos que apontam para a abertura de novos hotéis no país. Temos capacidade e ou necessidade para receber nova oferta hoteleira?

Como deve calcular, qualquer empresa hoteleira, antes de decidir abrir um hotel, faz um estudo de mercado para aferir da sua viabilidade, ora se os resultados deste estudos apontam para a abertura de mais hotéis é porque há procura suficiente para esta oferta. Não sou contra que se abram mais hotéis, antes pelo contrário, sou é a favor que se mantenha ou que se aumente a qualidade da oferta hoteleira.

Quanto ao alojamento local. Seria positivo que fossem revertidas medidas, nomeadamente contempladas no Mais Habitação, que foram aprovadas pelo Governo anterior?

Sim, o atual Governo deveria reverter muitas das medidas relacionadas com o alojamento local.

Caso contrário, que impactos poderá ter para o setor o facto de terem sido suspensas novas licenças para o Alojamento local (AL)?

Terá com certeza um impacto negativo, já que o alojamento local estava a ser uma alternativa de hospedagem para um nicho muito importante de turistas, que preferem um tipo de alojamento mais focado na proximidade às realidades regionais, culturais e patrimoniais. Por outro lado, o AL ajudou a diversificar a oferta turística em praticamente todas as regiões do país e ajudou a que surgissem novas empresas que suportam a atividade do AL, pelo que foi um fator de criação de emprego.

Em relação ao aeroporto. Tem sido um dos principais críticos em relação ao impasse em torno da localização da nova infraestrutura. Já é possível fazer contas às perdas por não haver decisão?

Sim, é possível ter acesso às perdas ao segundo no site da CTP e no contador que temos na Segunda Circular. Mas posso dizer-lhe que estamos a chegar aos dois mil milhões de euros de perdas por não haver ainda um novo aeroporto.

Como viu as soluções propostas pela Comissão Técnica Independente? E qual acha que é a melhor solução?

Já nem me pronuncio sobre as alternativas. Já só quero é que se decida. Como sempre tenho dito, esta é uma decisão política, por isso, este novo Governo que decida e decida já.

O PSD já prometeu que irá tomar uma decisão nos primeiros 100 dias…

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, em plena campanha eleitoral, num almoço com associados da CTP, garantiu que a decisão sobre o novo aeroporto seria uma da primeiras decisões do seu Governo, por isso, aguardamos com expectativa.

Em relação ao futuro da TAP. A ideia de privatizar a empresa poderá avançar?

Veremos as decisões que serão tomadas por este Governo sobre o tema TAP. Mas a acreditar no que foi dito em campanha eleitoral, a privatização será sem dúvida a decisão mais lógica.

O que espera do novo Governo?

Que tenha um enfoque importante na economia, nas empresas e na reforma do Estado.

E do ministro da Economia

e do secretário de Estado

do Turismo?

Quer Pedro Reis, para ministro da Economia, quer Pedro Machado para secretário de Estado do Turismo são ótimas escolhas. Pedro Reis terá com certeza no turismo uma prioridade do seu Ministério. Conhece bem o setor, conhece bem as empresas e os mercados internacionais e sabe que a atividade do turismo, sendo motor da economia, deve ter toda a atenção por parte do Governo. Também Pedro Machado irá seguramente exercer bem as suas funções, já que conhece em profundidade a atividade turística, os seus problemas, desafios e intervenientes, graças aos cargos que exerceu no setor, pelo que irá com certeza dar a máxima atenção ao turismo e aos vários temas estratégicos que lhe estão subjacentes.

O turismo é um setor que está muito dependente das decisões políticas…

O turismo, mesmo sendo uma atividade transversal, tem vindo a desenvolver-se sem intervenção direta do Governo. Há, porém, temas que dependem de decisões governamentais, como por exemplo a questão do novo aeroporto.

A instabilidade que se prevê em torno do clima político poderá comprometer o crescimento deste setor?

Vamos aguardar para ver o que os próximos tempos nos reservam.

Foi reeleito agora presidente da CTP. Quais são as prioridades deste novo mandato?

Para este novo mandato foram definidos um conjunto de 11 eixos estratégicos: Crescimento, dimensão e internacionalização das empresas; transportes; acessibilidades aeroportuárias e ferroviárias (com destaque para o novo aeroporto) e privatização da TAP; promoção turística externa; fiscalidade e custos de contexto; reforma do Estado; Concertação social, capital humano e sua qualificação; transformação digital; Fundos comunitários: PRR e PT20230; sustentabilidade ambiental; reforço do papel do associativismo do turismo e demografia.