No Médio Oriente, para além da complexidade previsível das relações entre diferentes atores, os Estados vivem em permanente competição e sob constante dilema de segurança. Acrescem também, e ainda que Israel seja o único Estado de não maioria islâmica na região, as diferenças irreconciliáveis entre os sunistas wahabitas (liderados pela Arábia Saudita) e os xiitas (com sede no Irão).
Toda esta complexidade, e todas estas rivalidades, tornam a região um palco para permanente instabilidade e (quase) naturais conflitos. Este é um mundo de lobos, não de cordeiros.
Como tal, quando há algumas semanas Israel bombardeou (sem que o tenha reconhecido) o consulado iraniano em Damasco, sabia que o regime do Irão não resistiria a uma qualquer vingança. Da mesma forma, quando o Irão atacou Israel também sabia que, cedo ou tarde, Israel irá contra-atacar.
A retórica a que vimos assistindo nos últimos dias não passa de uma peça de teatro mal interpretada, como um jogo de sombras no qual toda a gente sabe que o que vemos não é o real. O atual regime iraniano tem o objetivo de fazer desaparecer Israel do mapa. Se não demonstrasse ter capacidade para responder ao ataque inicial, tal seria percecionado pelos seus rivais e aliados como uma atitude de fraqueza. Da mesma forma, se Israel não responder, colocará em causa a sua capacidade de projetar poder e colocar os inimigos na defensiva. Nenhum lobo pode parecer fraco.
Ainda que todos saibam estas regras, nas próximas semanas continuaremos a ver o ‘baile-mandado’ de visitantes em Tel Aviv, ora pedindo a Israel para não retaliar, ora avisando que se o fizer será por sua conta. Na realidade, a única preocupação reside em não ser arrastado para um conflito que ninguém diz que quer.
As consequências prováveis de uma escalada entre Israel e o Irão, destruição substancial de ambos e desequilíbrios (maiores) nos equilíbrios regionais, com impactos severos na economia global, impedem que publicamente se declare o óbvio: a haver um conflito com o Irão, este é o momento propício – antes do projeto nuclear estar concluído, não depois!
A questão regional, ainda que possa parecer-nos distante, não é: a destruição do Iraque, e consequente substituição do regime de Saddam Hussein (de maioria sunita moderada, por um regime liderado pelo xiismo próximo do Irão) desequilibrou a região, e a ponderação de poder entre Arábia Saudita e Irão – potenciando o ascendente deste e o êxito da exportação do xiismo e criação das suas antenas (ou na terminologia atual, os ‘proxys’).
Paralelamente, o impacto na economia internacional de um conflito de larga escala no Médio Oriente é imprevisível, seja pelo impacto na produção de hidrocarbonetos (mais de 30% do petróleo extraído no mundo vem desta região), seja pela insegurança em que colocaria as proximidades do canal do Suez e do mediterrâneo oriental. O conflito pode ser regional, mas as ondas de choque seriam sentidas por todos.
Esta é uma história interminável. Assim será até que as mudanças venham de dentro. Sem que os povos mudem os regimes, será impossível viver em Paz.