As costas largas do 25 de Abril

Os jovens não querem saber de uma revolução que está tão distante das suas vidas quanto a Monarquia. Mas, 50 anos depois, o 25 de Abril ainda é desculpa ou manifesto político.

Entre as duas grandes guerras do século XX passaram 25 anos. Do início da II Guerra Mundial e a queda do Muro de Berlim passaram 50 anos. Hoje, alguém com 30 anos tem uma vaga ideia do que era a moeda em escudos e não faz a mínima ideia que se tinha de apresentar o passaporte para ir a Badajoz comprar rebuçados. Aliás, só o conceito de ir a Badajoz comprar rebuçados é absurdo para esta geração. Quem tenha hoje 30 anos, 20, ou 15, está tão distante da Revolução quanto os hippies dos anos 60 estavam dos seus avós que viveram o fim da Monarquia. No entanto, o nosso pequeno mundo ainda debate o 25 de Abril como se tivesse sido ontem. Fala-se do 25 de Abril como se ainda fosse tema discutível: uns porque acham que os males do nosso tempo começaram ali, outros porque estão convictos de que «a revolução ainda não se cumpriu» e outros, ainda, porque não têm mais nada para dizer, apenas chavões que estão inscritos em todas as cartas de direitos Humanos de todas as organizações internacionais a que pertencemos. Só o facto de a direita ter ido rebuscar a AD de Sá Carneiro para se apresentar às eleições, diz quase tudo sobre a alienação e a desorientação que se vive. Sá Carneiro morreu em 1980: temos ministros que nasceram muito depois desta data.

Não há nada mais triste do que não saber envelhecer e Portugal, um dos países mais velhos do mundo, não sabe envelhecer. Os nossos jovens – que são cada vez menos – não querem saber de uma revolução que está tão distante das suas vidas quanto a Monarquia. No entanto, parece que de então para cá, não aconteceu mais nada. Ou que tudo o que aconteceu de bom deve-se ao 25 de Abril e tudo o que está mal justifica-se porque o 25 de Abril ainda está por fazer.

Mesmo os mais novos, estão velhos. Quem ambicionar intervir no espaço público tem de entrar no mundo dos velhos do 25 de Abril e como primeiro teste saber falar do Estado Novo, do PREC e da Constituinte como se tivessem sido protagonistas. E pior: têm de ter uma opinião. Daquelas do sim ou não. Opiniões feitas de barricadas e fabricadas por saudosistas ou revolucionários. Aquilo que falta em Portugal são jovens que sejam mesmo jovens e velhos que sejam mesmo velhos: uns para contarem a História e outros para fazerem História. Enquanto o 25 de Abril 1974 servir de argumento, de arma de arremesso ou de desculpa para o estado de Portugal em 2024, é impossível comprometer os mais novos com a política ou avançar e ver a realidade com o olhar do século XXI, que já vai longo.

Por mais novos que sejam os protagonistas atuais, o que os 50 anos do 25 de Abril revelam é que vivemos assombrados com o passado, reféns de um discurso vazio de barbas brancas. Discutir liberdade em 2024 não é como discutir a liberdade de 1974. Hoje, a nossa liberdade é condicionada pela censura das redes sociais e não pela censura da PIDE, a liberdade económica pelo peso dos impostos e o excesso de burocracia, não pelo dirigismo estatal. Hoje, os costumes são outros, as leis são outras e as fronteiras estão abertas, mas o desenvolvimento económico não pode ser comparado ao Portugal de 1973 mas sim com a Irlanda ou até a Roménia de 2024. O 25 de Abril é História, não é argumento e muito menos programa político.