É obrigatório trazer os reféns de volta a casa

É preciso uma dinâmica revolucionária em ambos os sentidos – do povo ao governo, e vice-versa – para termos uma real possibilidade de sucesso em construir uma paz duradoura no Médio Oriente (e quanto desafiante isso vai ser).

Na sexta-feira, dia 19 de Abril, a seis dias do dia da Liberdade em Portugal, contaram-se 196 dias de sofrimento, dor, abuso e terror que os ainda 134 reféns capturados em Israel têm passado às mãos do Hamas, do Jihad Palestiniano e de toda a atividade militar que continua a encher o território de Gaza. Destes reféns, mais de 40 já são conhecidos estar sem vida, enquanto muitos outros (se não todos) se encontram, no mínimo, num estado muito crítico de vida. O conhecimento que se tem deles é quase nenhum, e o sofrimento que traz aos seus familiares, amigos e aos muitos cidadãos neste país, que se abraçam e choram em solidariedade para com eles.

Não menos do que eles, os palestinianos em Gaza também continuam a viver no inferno, reféns das decisões dos políticos e dos militares de ambos os lados que teimam em finalmente acordar um entendimento para um cessar-fogo, troca de prisioneiros por reféns e um regressar às suas ‘casas’ (leiam-se escombros). Por eles, pelos palestinianos na Cisjordânia que simplesmente querem poder ter uma vida justa e em paz, e pelos israelitas que buscam há muito viver em segurança e que, uma boa quantidade deles, estão dispostos a partilhar o seu país e a sua cultura com pessoas de origens, culturas e religiões diferentes. Esperemos chegar a acordos diplomáticos e ao emergir de mais e mais iniciativas grassroots que tragam uma reforma de valores e a maneira como eles são educados e comunicados. É preciso uma dinâmica revolucionária em ambos os sentidos – do povo ao governo, e vice-versa – para termos uma real possibilidade de sucesso em construir uma paz duradoura no Médio Oriente (e quanto desafiante isso vai ser).

O grande destaque nos acontecimentos destas últimas duas semanas foi, claramente, o massivo ataque aéreo do Irão sobre o território de Israel, no passado dia 13 de abril. Cerca de 170 drones (veículos aéreos auto-pilotados), mais de 30 mísseis de cruzados e 120 mísseis balísticos, foram lançados a partir do território iraniano nas primeiras horas da madrugada, o que representa cerca de 6 toneladas de material explosivo. Como foi extensivamente noticiado, vários países intervieram na proteção aérea de Israel – Estados Unidos, Reino Unido, França e Jordânia os mais conhecidos -, e outros tantos no desvendar de informação prévia sobre o tempo previsto do ataque – entre eles a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos -, o que resulta numa taxa de interceção superior a 99%. Pondo isto em números práticos, apenas 5 destes mísseis caíram em território israelita intactos, com apenas meia dúzia de pessoas a serem hospitalizadas devido a ataques de pânico, assim como uma jovem menina beduína de 7 anos ferida com ferimentos graves depois da queda de fragmentos de um míssil. Ora, está bem claro que, o ataque iraniano teve consequências muito menos graves do que aquelas que foram planeadas atendendo ao uso de todo este armamento, seja nos danos causados ao estado zionista, seja na ‘coligação’ internacional, que impediu maus bem maiores. A questão agora é: até que ponto é que as forças armadas e o gabinete de guerra de Israel estão dispostos a agir ‘não militarmente’ na ressaca de tal evento, podendo assim evitar um mau-olhar do resto do mundo. Infelizmente, a minha expectativa é que esta atitude de ‘macho-alfa’ que todos estes políticos e líderes militares carregam consigo se sobreponha ao aspeto racional, e que entraremos noutro ciclo de ‘agora eu ataco, mas não o suficiente para abrir uma guerra all-in’ que só engana quem quer e que torna a resolução de tudo isto muito mais complicada. Mas não metamos ‘a carroça à frente dos bois’ e esperemos que os eventos futuros nos digam o que realmente acontecerá.

Pessoalmente, senti-me até relativamente tranquilo nos dias pré e pós-bombardeamento, por mais estranho que a muitos de vós possa soar. Em primeiro lugar, não tenho controlo sobre quase nada. Sei que me precavi (e que me vou precavendo) o mais possível, particularmente ao passar a noite num quarto que serve de ‘bunker’ dentro de casa, portanto se alguma coisa me tivesse acontecido, sinto que mais nada podia ter feito. Em segundo lugar, fomos tendo notícias nos dias anteriores sobre o timing da situação e estarmos preparados, no caso de uma investida aérea do Irão. E em terceiro lugar, não só pelos rumores avançados por vários repórteres ou figuras militares mas também pela pequena ‘experiência’ de um viver numa situação de guerra, o mais provável teria sido (e como em grande parte foi) que somente as zonas com bases militares proeminentes fossem alvo do ataque, e na zona onde agora resido, não haja nenhuma infraestrutura militar de grande magnitude. No entanto, não deixou de colocar toda e qualquer pessoa presente em território israelita em estado máximo de alerta, e isso com certeza, afeta emocionalmente a moral do povo e instala-se o medo por todos os lados.

Com votos de dias mais sossegados e de que se faça luz no coração destes homens que vivem na ‘escuridão’ da vida, tragam os reféns de volta a casa AGORA (os vivos e os corpos daqueles já sem vida) e a liberdade dos povos no Crescente Fértil (região que compreende os atuais territórios da Palestina, Israel, Jordânia, Kuwait, Líbano e Chipre, bem como partes da Síria, do Iraque, do Egito, do sudeste da Turquia e sudoeste do Irão)!

#BringThemHomeNOW

P.S: Na próxima edição do Diário de um kibbutz, escreverei o artigo a partir da minha 7.ª residência desde o dia 8 de Outubro (and counting…).