As reparações. ódio, ignorância e hipocrisia

A África tem uma população principalmente jovem e deve chegar a 2,5 bilhões em 2050. A maioria terá fugido ou terá o sonho de fugir para o Ocidente, a terra dos seus colonizadores e esclavagistas.

“A raça branca é o câncer da história humana”
Susan Sontag, Styles of Radical Will

A vulgata sobre as reparações históricas, a culpa branca, o racismo estrutural e o colonialismo ocidental perante o resto do mundo como vítima, fazem parte da história ficção e das visões pseudocientíficas e do ódio ao ocidente por parte dos órfãos rancorosos de Marx, de um progressismo doentio e da sua expressão wokista. Esta visão odiosa nasceu nas universidades americanas do papel e caneta que trocaram o conhecimento por ideologia esquerdista pós-moderna.

Eis um conjunto de notas demonstrativas de como essas ideias são cínicas, falsas, irracionais e absurdas.

• Saberão os radicais de esquerda e os seus admiradores que tiveram muitas culturas escravos e recorriam à tortura e matavam os inimigos de modo cruel, algumas chegaram mesmo a arrancar corações e vísceras e a sacrificar crianças vivas aos seus deuses. A história infelizmente está repleta de conflitos, guerras, violência e injustiça. Esses factos legitimam a normalização desses comportamentos? Claro que não, mas há uma distinção entre o que é presente e o que se passou há séculos. A escravatura teve beneficiários negros e brancos, árabes e ocidentais, católicos e muçulmanos. 

• Julgar o passado com as lentes do presente, o anacronismo, é um erro inaceitável para o bom historiador e nunca pode ser um fundamento de uma política séria. Ainda assim, pior só o duplo critério de condenar esse passado, mas simultaneamente praticar no presente esses mesmos erros. As democracias liberais negoceiam com ditaduras, cleptocracias e teocracias em África e na Ásia. Alguns governos africanos, normalizados, a troco de dinheiro, pelos políticos e organizações ocidentais, perseguem homossexuais, as mulheres são secundarizadas, as práticas esclavagistas não chocam, há perseguições brutais de dissidentes, as crianças não têm direitos, aceita-se o casamento infantil e a mutilação genital.

A Arábia Saudita está na comissão do Género na ONU e o Irão numa comissão sobre o desarmamento. Organizamos também grandes competições desportivas no Qatar. Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo, esteve recentemente na Guiné-Bissau onde foi condecorado, pergunte-se à oposição desse país o que pensa sobre o sistema político e o tráfico de droga.

• O político Emamnuel Macron, um paladino da conversa sobre as reparações colonialistas, é o presidente de um país que tem na actualidade um controlo político e económico sobre vários países africanos e mantêm nestes a respectiva presença militar. Essa França cunha a moeda de vários países africanos, explora os seus recursos e recebe impostos. O Mali é um desses países. O Mali tem 800 minas de ouro, mas não tem qualquer ouro, França não tem minas de ouro, mas tem das maiores reservas de ouro do mundo.

 Em 2023 no continente africano situam-se as zonas do planeta onde há mais pobres, mais doenças sem cuidados médicos, mais desigualdade social, mais exploração, mais prostituição, mais crianças a morrer à fome e mais trabalho infantil.

A área do continente africano é de 30,37 milhões de km², o triplo da área de zonas como China, EUA e Europa. África tem 60% da terra arável, 90% da reserva de matérias-primas, 40% da reserva mundial de ouro, 33% da reserva diamantífera; 80% da reserva mundial de coltan (minério para a produção de telefones e electrónicos), 60% da reserva mundial de cobalto (mineral para a fabricação de baterias de automóveis). É também rica em petróleo e gás. Há protestos e medidas concretas por parte da esquerda sobre o destino dessa riqueza que não chega às populações? Onde estão os activistas de esquerda, a gente dos cursos de literaturas e dos pós-colonialismos? África precisa deles.

A África tem uma população principalmente jovem e deve chegar a 2,5 bilhões em 2050. A maioria terá fugido ou terá o sonho de fugir para o Ocidente, a terra dos seus colonizadores e esclavagistas.

• Um exemplo, entre centenas, a guerra do Mali dura desde 2012, morreram já milhares e milhares de pessoas principalmente idosos, mulheres e crianças. Nos últimos 3 anos foram entregues ao Mali pela U.E. 250 milhões de euros que se evaporaram e 600 milhões à União Africana entre 2022-2024. A mesma U.E. e a O.M.S. e a O.N.U. têm canalizado nas últimas décadas biliões de euros para apoiar África, mas a pobreza e a fome intensificam-se. Não será este um problema mais premente que os “crimes” do século XVII ou XVIII, ou XIX?

A maioria dos países africanos actuais caracterizam-se por uma corrupção endémica, há até fortes indícios de desvio dessas verbas de apoio Ocidental e do enriquecimento das oligarquias no poder à custa de populações cada vez mais miseráveis. Quem fecha os olhos, como a ONU e não só, não será cúmplice? O problema de África é o colonialismo Ocidental do passado ou um certo tipo de elites políticas e a hipocrisia do Ocidente? Essa hipocrisia dos ditos democratas e progressistas ocidentais tem gerado vagas massivas de imigrantes, pessoas que fogem em condições miseráveis, e sujeitas a esquemas desumanos do tráfico e a um duro destino que os espera no Ocidente. Se essas pessoas tivessem condições condignas nas suas terras, não prefeririam viver nas suas casas e nos seus países?

Como explicarão os activistas anti-racistas a fuga das pessoas do inferno, desculpem, paraíso, dos seus países, para o inferno, desculpem, paraíso, do colono e racista ocidental?

O ocidente prefere negociar com tiranos e enriquecer a insurgir-se com medidas concretas contra a exploração das pessoas e as suas condições de vida. Alguém vê a esquerda e os média ocidentais insurgirem-se contra essa podridão moral e política?

• O relatório de 2022 da Freedom House diz-nos que metade da população africana vive em países não livres. A maioria das ditaduras mais brutais tem proveniência esquerdista e transformaram-se em cleptocracias, onde tem predominado ao longo de décadas as guerras civis e com vizinhos, os morticínios étnicos e religiosos e a crescente desigualdade social e económica e o desprezo por qualquer princípio democrático. Resolver esse quadro monstruoso não devia ser a prioridade de quem alega preocupações humanitárias?

• Portugal teve colónias, sim, mas não dominaram os mouros durante mais de sete séculos a Península Ibérica? E os romanos não dominaram a Ibéria? E Portugal não foi invadido por franceses? Que esquemas de reparações infinitas deveriam concretizar-se seguindo a lógica do delírio progressista?

            A ministra da igualdade racial, (que ministério), do Brasil, por exemplo, quer uma qualquer reparação devido à escravatura, conhecerá ela um pouco a história? Saberá que o Brasil é independente desde 1822 e que aboliu a escravatura depois de Portugal em 1888? Que esse Brasil independente é responsável por quase dois milhões de escravos?

• Temos a ideia que África será o maior devedor líquido mundial ao resto do mundo. O colonialismo subtraiu as riquezas de África e o continente tem de se endividar. O que se investiu e subtraiu com o colonialismo dariam contas curiosas… Retirou o ocidente mais bens e dinheiro de África que as elites africanas no século XX e XXI?

Vamos a factos, no final de 2008 a dívida africana Subsariana era de 177 mil milhões de dólares. A riqueza que as suas elites transferiram para ‘offshores’ entre 1970 e 2008, foi de 994 mil milhões de dólares, cinco vezes a dívida externa… África afinal não é um devedor, mas um credor líquido do resto do mundo. Por que existem ‘offshores’? Quem as controla? Qual o papel de países como os EUA e Inglaterra na existência das ‘offshores’ e até dos magníficos mercados livres dos grandes democratas?

A riqueza e as receitas fiscais dos países em desenvolvimento no caso de África têm destino dúbio com o beneplácito da banca e do sector financeiro ocidental, especialmente das ‘offshores’. Nunca a ONU e outros aceitaram órgãos imparciais de fiscalização da proveniência de verbas colossais de certas figuras africanas, considerando até a pobreza das populações desses países.

• As facções de esquerda e os liberais progressistas têm no tema do racismo uma das suas coutadas e fonte de angariação de verbas junto dos governos Ocidentais. Quanto mais racismo detectam mais será legitima a sua existência, se desaparecem as notícias sobre racismo, rapidamente nos explicam que este está a ser silenciado e que necessitam de mais verbas. Sim, há racismo e de todas as cores, mas é no Ocidente onde há menos racismo. A xenofobia e o racismo em África e na Ásia excedem em muito o que acontece no Ocidente.

• O que foi no século XX mais devastador para o Brasil, Angola, Guiné, Cabo Verde e Moçambique, a presença portuguesa até aos anos 70 ou que se passou depois com a descolonização? Pensemos na influência do totalitarismo comunista, nos números de mortes, e nos casos de miséria e pobreza? Um exemplo, em 2023, sabemos que na Guiné-Bissau cerca de 70% da população vive no limiar da pobreza, com maior incidência nas zonas rurais. Já algum esquerdista pediu a cubanos, russos, chineses, americanos e franceses alguma reparação sobre a exploração?

O direito à autodeterminação e independência dos povos é fundamental e irrecusável, mas os maus processos de descolonização não deviam ser também revistos e julgados, considerando as consequências?

Actualmente várias organizações fiáveis como a OIM e a Walk Free Fundation (dados da Global Slavery Index) referem pelo menos a existência de 50 milhões de escravos e milhões de casamentos forçados e de menores em todo o mundo, uma parte significativa deles em África.

Porque têm países como Portugal e Brasil relações normais com países que têm escravos? Estamos no século XXI, falamos de escravos que estão vivos e não do século XVII ou XVIII.

• Existem várias organizações e associações, bolsas e programas de universidades e mesmo cursos que dependem de verbas do Estado para que se celebre a língua portuguesa pelo mundo. Ora, essa não é a língua do colonizador e do opressor? Então deviam acabar as verbas em tudo o que se relacionasse com a língua e as antigas colónias, especialmente na literatura e nas ideias pós-colonialistas? Seria esse um modo de começarmos a apagar as marcas do colonizador ou a língua portuguesa só é boa quando implica dinheiro para os activismos e os estudos de cariz pós-colonial?

É insultuoso e até criminoso julgar o passado pelas lentes do presente e uma prova de ignorância e/ou má-fé, lançar o opróbrio sobre século e séculos e sobre pessoas concretas e modos de vida de gente que migrou para outras terras, por lá ficou, em interacção com os locais e construíram as suas culturas conforme as dinâmicas de cada século. Sem portugueses existiria o brasileiro? Sem os europeus existiram os norte-americanos, sem os deportados anglo-saxónicos existiria a Austrália? Provavelmente, sim, mas que ideia sobre o ser humano e a história é esta, em que cada cultura ficaria preservada de modo puro na sua geografia sem qualquer contaminação e apenas seriam permitidas relações idealizadas à luz de conceitos do século XXI? Vamos reconduzir cada um à sua geografia original? A ideia de uma pureza original é uma fantasia absurda. Não há paraíso africano e asiático antes da invasão do homem branco.

Imagine-se que realizaríamos o experimento grotesco das reparações e dos pedidos de desculpas unilaterais e falaciosas com o código jurídico e cultural do presente para sentenciar e decidir sobre reparações acerca os factos do passado. Exigimos também a devolução ou reparação dos bens, infra-estruturas e património material e imaterial (como, por exemplo, a língua) que ficou nessas geografias?

Ser defensor de uma sociedade decente e da dignidade humana significa também ser intransigente com aqueles que querem impor os seus delírios usando a cor, a orientação sexual e o sexo para impor divisões, conflito e ódio. A luta contra este tipo de terrorismo intelectual liberal progressista e esquerdista é cada vez mais uma guerra pela defesa da nossa sanidade mental e pela liberdade, mas também por um mundo mais justo, principalmente para com os vivos e aqueles que vão nascer.