O cenário não é o mais animador e nos próximos dias poderá agravar-se com a publicação do Relatório Anual de segurança interna (RASI). A criminalidade está a crescer e os grupos de indivíduos de Leste europeu, com foco nos Balcãs, são das maiores ameaças à segurança interna. «São muito profissionais, alguns têm formação militar, não ficam muito tempo no mesmo sítio e deixam pouco rasto». É assim que um responsável da segurança interna explica ao Nascer do SOL os desafios que Portugal enfrenta. A juntar a esses dados, é preciso acrescentar, na opinião do mesmo, que casos como o dos traficantes que foram libertados na semana passada devido à greve dos funcionários judiciais vão ser cada vez mais frequentes, se não forem tomadas medidas para obrigar sempre a serviços mínimos.
«Veja-se os traficantes que foram detidos e acabaram por ser libertados devido a uma greve dos serviços judiciais. Será que se pode continuar a fazer operações destas com este risco? Será possível continuarmos sem serviços mínimos da Justiça para casos destes? Ninguém pensa nisto? Podemos conseguir apanhar o maior traficante ou o maior assassino do mundo mas devido a uma greve dos tribunais ele vai ser solto e desaparece? Horas depois já está noutra parte do mundo. Com as condicionantes das horas mínimas que podes ter uma pessoa detida [48 horas], é normal ela ser libertada. Em nome dos direitos humanos, hoje, há toda a liberdade para os criminosos e toda a restrição para a Polícia. O problema é se isto não está a violar mais os direitos humanos, porque está a deixar o crime à solta», defende o oficial ouvido pelo nosso jornal.
Ainda há duas semanas foram detidos vários cidadãos albaneses que faziam assaltos no norte do país, tendo ‘roubado’ joias no valor de dois milhões de euros. Também os jogadores de futebol têm sido vítimas destes gangues que atuam um pouco por toda a Europa. «Eles sabem que os jogadores, por norma, têm muito dinheiro vivo e joias em casa. É provável que muito desse dinheiro tenha a ver com pagamentos por baixo da mesa, mas os gangues de Leste sabem bem isso e têm atuado em Portugal, Espanha e Reino Unido, por exemplo», explica ao Nascer do SOL fonte da GNR.
Já não existe o Zé do Telhado
«A velha imagem do Zé do Telhado já não existe, do homem que sozinho assaltava pessoas ou bancos. Isso acabou. Hoje está tudo muito bem organizado, com muita ciência, e que aproveitam todas as possibilidades que a lei lhes dá, face às limitações da atuação policial. A Polícia está muito limitada para atuar, e eles não. O ocidente tem de resolver uma questão muito pertinente. Em nome da liberdade, o ocidente, digamos, amarrou imenso a atividade da investigação criminal. Mas não amarrou a atividade dos criminosos», diz, acrescentando: «O tráfico de droga é o principal problema para Portugal neste momento. Há uma proliferação por tudo o que é lado. Nunca tivemos tantos jovens traficantes a exibirem um luxo, inclusive em carros de alta cilindrada, vê-se em todo o lado, principalmente em Lisboa. Nunca se viram tantas lojas de rua, que estão a dar cobertura. E não é só cá, é pela Europa toda. Alguém vai ter que tomar uma decisão definitiva de como combater o tráfico da droga a nível europeu. E já se percebeu que, se calhar, o combate não é policial. Se calhar a Europa vai ter que liberalizar. As fronteiras também estiveram fechadas e tiveram que ser abertas».
Brasileiros atuam a partir das prisões
O caso do assalto a um edifício em Lisboa cujos contornos se assemelham ao seguido pelos gangues brasileiros, nomeadamente pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores organizações criminosas da América Latina com epicentro na cidade de São Paulo, foi acompanhado de perto pelo Sistema de Segurança Interna (SSI).
Não são de agora as notícias de que o PCC estaria a alargar a sua atividade para Portugal, usando o nosso país como base para o narcotráfico nos países europeus. As notícias de assaltos usando as técnicas utilizadas no Brasil aumentaram a apreensão em relação à importação de gangues brasileiros para o território nacional, mas fonte ligada ao SSI garante ao Nascer do SOL que, apesar de ser verdade que alguns elementos desta organização criminosa estarão a atuar em Portugal, esses indivíduos estão monitorizados e não representam um risco elevado. «São elementos que estão muito acompanhados e que atuam sobretudo a partir das prisões». Além disso, garantem-nos, «estas movimentações são acompanhadas de perto pela polícia e pelos serviços de informações, que estão em estreita colaboração com as congéneres brasileiras».
Ao mesmo tempo que considera que o risco da criminalidade de organizações criminosas provenientes do Brasil é baixo e que as notícias a esse respeito tentam sobretudo espalhar o medo, porque «a venda de medos rende», o SSI revela que há outras redes criminosas a atuar em Portugal que se revestem de muito maior perigo, nomeadamente indivíduos ligados a organizações dos países dos Balcãs.