Dar prioridade à Saúde Mental

Precisamos que as Instituições criem mecanismos que permitam monitorizar o bem-estar dos seus estudantes.

Dizem que a minha geração, a nossa geração, é a dita mais qualificada de sempre.

Ora, se assim o é, também podemos dizer que somos a geração mais deprimida de que há memória. Os problemas identificados na juventude portuguesa, e em particular nos jovens estudantes do Ensino Superior, são bem conhecidos e notórios. Contudo, ao contrário daquilo que muitos ditos especialistas dizem, a pandemia não veio acentuar problemas.

Simplesmente levantou o véu de uma problemática que rodeia o meio universitário em Portugal há muitos anos.

Segundo os dados mais recentes, a saúde mental dos estudantes universitários portugueses não está bem: quase metade (48%) mostra ter sintomatologia grave do foro psicológico, como depressão, ansiedade a perda de controlo. 23% dos estudantes tomam algum tipo de medicação para conseguir superar este flagelo. Infelizmente, são ainda também conhecidos os casos de estudantes que devido a estas e outras patologias foram obrigados a abandonar o Ensino Superior ou muito pior…

Os nossos governantes, que pela força do protesto foram obrigados a reconhecer esta realidade, têm-se mostrado incapazes de dar resposta a estes problemas. Hoje em dia no ensino superior público português existe, em média, um psicólogo para cada 3238 estudantes, um rácio mais de 6 vezes inferior ao valor recomendado internacionalmente de um psicólogo para cada 500 estudantes.

Para fazer face a esta realidade o movimento associativo teve de (novamente) chegar-se à frente e são cada vez mais os casos de Gabinetes de Apoio Psicológico que são geridos diretamente por Associações Académicas e de Estudantes. Estas estruturas que já por si são subfinanciadas são obrigadas a dar a resposta que durante demasiado tempo o Estado foi incapaz de dar. A iniciativa destas Associações é muito nobre, contudo acreditamos que esta solução deve ser vista como um remendo temporário e não como uma solução permanente.

O papel do Movimento Associativo é reivindicar e defender os direitos dos seus estudantes. Não é substituir as funções do Estado central. Quem de direito deve assumir as Suas responsabilidades.

Precisamos de mais psicólogos nas nossas instituições. Precisamos de uma revisão pedagógica que limite a sobrecarga académica e que consiga garantir que os estudantes consigam viver académica fora da sala de aula ou da sala de estudo. Precisamos que as Instituições criem mecanismos que permitam monitorizar o bem-estar dos seus estudantes e garantir que ninguém fica para trás. Só assim poderemos começar a resolver este problema e garantir que as nossas Instituições, mais que formar profissionais de excelência, conseguem formar homens e mulheres saudáveis e capazes de enfrentar os muitos desafios de mundo laboral.

Temos em Portugal um novo Governo e uma nova esperança. Exigimos que se faça o investimento concreto nesta área. Que as nossas Universidades tenham os recursos necessários para responder às necessidades dos seus estudantes. Só assim podemos ter um melhor Ensino para todos feito com todos.

Presidente da Associação Académica da Universidade de Lisboa