Temos dois factos que me parecem indiscutíveis: Primeiro facto: Luís Montenegro, antes das eleições e no seu pleno direito, um dia decidiu dizer «não é não» a qualquer acordo com o Chega.
Segundo facto: com o mesmíssimo pleno direito quanto ao que assistia a Luís Montenegro, André Ventura igualmente antes das eleições, decidiu – e bem avisou – que ou LM fazia com ele um acordo de governo ou então o Chega, depois das eleições, mantinha a sua liberdade estratégica.
Terceiro facto: No núcleo duro de LM afirmava-se que não valia sequer a pena falar com AV uma vez que ele, AV, não teria outra solução, em caso de vitória do PSD, que não a de ir votando, obedientemente, tudo o que o PSD quisesse fazer aprovar sob pena de perder o seu eleitorado, bastando ao PSD denunciar essa ‘traição à Direita’.
Na sua última crónica aqui no Sol, José António Saraiva reconhece isso mesmo quando escreve:
«Deve dizer-se, em abono da verdade, que AV nunca deixou de dizer ao que vinha […] ninguém o pode acusar de falta de clareza. O problema é que ninguém acreditou – a começar por mim. Todos acharam que, na hora da verdade, André Ventura acabaria por viabilizar, no essencial, as medidas do Governo e não votaria ao lado do PS. Pensou-se que, de um modo ou de outro, a maioria de direita acabaria por funcionar. Mas tal não aconteceu».
Até aqui tudo certo, mas chega agora a conclusão de JAS e essa já está só certa pela metade: «André Ventura quer ser Primeiro-Ministro e isso supõe derrotar LM». E está certa apenas pela metade, por isto:
De facto, quando AV propôs a LM um acordo de Governo, foi com a firme intenção de ajudar a construir uma sólida maioria de Direita que permitisse um ciclo de governação de uma, ou talvez duas legislaturas completas, condição essa indispensável para que se pudesse meter ombros às profundas reformas estruturais de que o país tão urgentemente necessita. AV estava perfeitamente consciente de que poderia, com isso, comprometer o futuro do Chega como partido hegemónico à Direita, mas corria de boamente esse risco dado o que estava – e continua a estar – em jogo.
Contudo, a partir do momento em que ficou claro que LM preferia manter o seu ‘não é não’ AV tira a óbvia conclusão: com a fraca maioria relativa que tem, LM jamais conseguirá partir para reformas estruturais. E de que a única forma de partir para aquelas reformas seria a de levar o Chega a ser um partido claramente hegemónico à Direita. E é aqui que me parece termos chegado à parte meia certa da conclusão de AJS: «André Ventura quer ser primeiro-ministro e isso supõe derrotar LM. Para ele LM não é um aliado, mas um adversário».
Momento, agora, da conclusão. E esta só pode ser uma: quem tomou a decisão matricial que nos fez chegar a este impasse foi Luís Montenegro. Se por arrogância, se por erro de cálculo, é indiferente. A verdade é que, se alguém quiser recriminar um dos dois por «desrespeito pelo interesse do país» porque acusar André Ventura e não Luís Montenegro, quando foi este que colocou as famosas ‘linhas vermelhas’ e não aquele? O ser o PSD partido mais antigo e enraizado no sistema político não o exime de se render ao interesse nacional. Bem pelo contrário, dá-lhe mais sérias responsabilidades nesse campo. Tudo o resto é o que é e vale o que vale: muito pouco, ou nada.