A comunidade judaica portuguesa ficou preocupada com a passividade da PSP no dia em que a embaixada em Lisboa assinalou o 76.º aniversário da fundação do Estado de Israel. Vários dos convidados foram atingidos com ovos e por sacos com tinta. O próprio diretor nacional da PSP, presente como convidado, não foi atingido por pouco, como revelou ao Nascer do SOL, um dos visados dos protestos organizados pela Plataforma Unitária em Solidariedade com a Palestina (PUSP), junto ao Cinema São Jorge em Lisboa. APSP enviou para o local um dispositivo considerável, mas «teve um comportamento muito passivo, perante os protestos desbragados dos manifestantes».
Se no início da sessão, Dor Shapira, embaixador de Israel, agradeceu a presença dos convidados – entre os quais o novo diretor nacional da PSP, Luís Carrilho. Mas alguns dos judeus presentes ficaram incomodados com o comportamento da PSP. O São Jorge esteve cheio, mas «notaram-se muitas ausências, nomeadamente jornalistas, estando apenas meia dúzia deles», contou ao nosso jornal fonte judaica. PS, PSD, Chega e CDS fizeram-se representar. Mas mais notadas foram as ausências de Marcelo Rebelo de Sousa e de Carlos Moedas – presentes no ano anterior.
«A embaixada de Israel em Portugal vem, desta feita, agradecer às centenas de pessoas que estiveram presentes na cerimónia num momento tão especialmente desafiante para o país e que, exatamente por essa razão, se fundamentou, a todo o tempo, numa mensagem que se quis de paz, amor e inclusão».
No entanto, «este espírito contrastou com o das manifestações ocorridas no exterior do edifício, nas quais o Estado de Israel foi vilipendiado, os judeus foram alvo de insultos e os convidados foram perseguidos, ameaçados, injuriados e alvo de objetos atirados às suas pessoas», lê-se no comunicado da embaixada.
Líder da comunidade insultado
Isaac Assor, líder da comunidade judaica de Portugal, diz de sua justiça ao nosso jornal: «Não fui agredido, mas não lhes faltava vontade. Foi uma manifestação de ódio. A manifestação começou até antes do início do evento. Distribuíram ovos, tinta… As pessoas foram agredidas verbalmente e através do arremesso de coisas. No meu caso foi quando estava a sair. Vieram atrás de mim, até atravessar a Avenida da Liberdade, com manifestações de ódio a dizerem que sou nazi, que participo no genocídio de crianças. Com expressões faciais de um ódio impressionante e que não levou à agressão física por acaso». «A vontade deles é que andasse ali à pancada», frisa Isaac Assor, explicando que o evento teve início às 19h, mas os manifestantes pró-Palestina chegaram ao local antes dessa hora.
«Foi um evento organizado pela Embaixada de Israel, havia convidados variadíssimos. Muito especialmente, este ano, foi uma celebração menos festiva, por assim dizer, mas em que houve a presença da Shalva Band e pessoas de todos os estratos e campos da política e restante sociedade. A sala estava cheia mas, essas pessoas todas, foram molestadas por esses energúmenos que levam a cabo ações completamente incríveis de aguentar», evidencia o líder, lembrando que o secretário-geral da ONU, António Guterres, «disse que o 7 de outubro não aconteceu em vão».
«Porque é interminável o número de ações antissemitas que acontecem no mundo e a verdade é que uma ação destas só tinha uma resposta: a proteção e a defesa do Estado de Israel. Ao contrário do Hamas, que é uma organização terrorista que, incrivelmente, é equiparado aos governantes do Estado de Israel. Por exemplo, agora há países europeus a reconhecerem o Estado da Palestina, mas a pergunta que deve ser feita é: quem são os governantes do estado palestiniano? É o Hamas? Se é isso, estamos a falar de terrorismo», declara convictamente. «Se é a autoridade palestiniana, é estranho porque não tem o controlo de Gaza, por exemplo. Isto é mais uma ‘prenda’ dada ao Hamas por estes países. Um reconhecimento. Depois do 7 de outubro!», exclama com incredulidade.
«Não respondemos às ameaças porque somos pessoas civilizadas. Na semana passada, um grupo de turistas de Israel visitou a Universidade de Coimbra e foi sujeito a uma manifestação destes energúmenos e que levou a ameaças físicas e verbais», sendo que estes manifestantes «chamaram a polícia para a identificação deste grupo de turistas que ergueu a bandeira de Israel – e bem – quando viu a manifestação e tentou explicar que o país só quer paz e segurança».
«No meio desta discussão, tentaram tirar a máquina fotográfica a uma pessoa, tentaram agredir fisicamente outras, etc. Isto leva a que turistas de Israel deixem de vir a Portugal», diz Isaac Assor. O protesto junto ao Cinema São Jorge, também apoiado pelo Movimento pelos Direitos do Povo Palestiniano e pela Paz no Médio Oriente (MPPM), incluiu uma vigília com discursos de ativistas pró-palestinianos. A Comunidade Israelita de Lisboa (CIL) repudiou os cânticos «ofensivos e antissemitas» dos manifestantes e condenou os atos de intimidação e agressão.