O inexplicável ‘orgulho gay’

Se achei os ataques aos homossexuais lamentáveis, hoje acho este mês do ‘orgulho gay’ inexplicável. Há o Dia da Mãe, o Dia do Pai, o Dia de Portugal, etc. Poderia, no limite, haver o Dia dos Gays. Mas por que carga de água a comunidade gay tem direito, não a um dia, mas a 30?

Eu sei que é um tema polémico, talvez o mais polémico de todos, sobre o qual poucos têm coragem de falar abertamente. É um tema tabu.  O meu avô Virgílio, a quem me referi na semana passada a propósito da fundação do Belenenses, era amigo de António Botto, um conhecido (e talentoso) poeta, homossexual. Um dia, Botto foi ao seu consultório (o meu avô era médico), e a minha mãe, andando por ali, ouviu entre portas a seguinte frase: «Tu sabes, Virgílio, que eu tenho aquele terrível vício …». Botto referia-se à sua homossexualidade, de que mais tarde faria provocatoriamente alarde, com versos escandalosos como «Gosto de fedelhos. Vou-lhes ao cu, dou-lhes conselhos…». Mas naquela altura ainda falava do assunto com vergonha.

Por qualquer razão, a minha mãe, que na altura era uma criança, nunca mais esqueceu aquele desabafo do poeta.

Nessa época, a homossexualidade era considerada um vício, uma vergonha, que se procurava esconder. E salvo raras exceções, sê-lo-ia ainda durante muito tempo. Nos meus verdes anos, três décadas depois daquele episódio, ainda me lembro de ver miúdos da minha rua a perseguirem os homossexuais do bairro, chamando-lhes nomes.

Mesmo entre os adolescentes, a homossexualidade era motivo de chacota. Um dia fiz um acampamento organizado pela Mocidade Portuguesa – que tinha algumas iniciativas meritórias, como essa – e na minha tenda ficou um rapaz que, por brincadeira ou por outras razões, tentou apalpar as ‘pilas’ dos colegas que ficaram deitados ao seu lado. Confesso que não dei grande importância ao caso. Mas no dia seguinte comecei a ouvir chamarem-lhe «Papa pilas! Papa pilas!». E pouco depois organizaram-se duas filas de rapazes, obrigaram-no a passar no meio delas e cada um tinha de lhe dar um pontapé no rabo.

Fui o único a não o fazer. Achei aquilo lamentável. Uma deplorável humilhação, feita em público e para gáudio dos presentes.

Depois disso trabalhei com várias pessoas homossexuais e tive amigos homossexuais. Nunca houve entre nós qualquer problema. Nunca discriminei ninguém e tratei sempre os homossexuais como os outros. Era um assunto deles, que não me dizia respeito.

Entretanto, os ataques aos homossexuais foram rareando, e numa geração passou-se de um extremo ao outro: a homossexualidade passou de ‘vício’ a motivo de ‘orgulho’. Os que criticavam os homossexuais passaram a ser criticados, catalogados de ‘homofóbicos’. E nos dias de hoje há mesmo um mês do ‘orgulho gay’ e até o Parlamento português – e outros pelo mundo fora – se veste das cores do arco-íris.

E, se achei os ataques aos homossexuais lamentáveis, hoje acho este mês do ‘orgulho gay’ inexplicável.

Há o Dia da Mãe, o Dia do Pai, o Dia de Portugal, etc. Poderia, no limite, haver o Dia dos Gays. Mas por que carga de água a comunidade gay tem direito, não a um dia, mas a 30 dias? As mães que trazem as crianças nove meses no ventre são homenageadas um dia por ano – e os gays têm direito a trinta.

E, já agora, por que razão existe ‘orgulho’ em ser gay? Orgulho pelo facto de os homens só quererem ter relações com homens e as mulheres com mulheres? E se, como eles próprios dizem, se ‘nasce gay’, terá algum sentido falar de ‘orgulho’? O orgulho existe relativamente a atos (ou atividades) com um alcance social e que em geral envolvem sacrifício. ‘Eu tenho orgulho em ser bombeiro e salvar bens e pessoas, com risco da própria vida’. Isto faz sentido. Mas ter orgulho em ser gay porquê?

Ser gay é um assunto pessoal. Íntimo. Ninguém tem nada com isso. Os outros não têm de saber se fulano ou fulana é ou não homossexual. Ser gay não tem de constituir motivo de orgulho nem de perseguição. Nem de descriminação negativa ou positiva.

Pintar o Parlamento de um país com as cores do arco-íris, não em homenagem à Natureza mas à comunidade gay, é uma perfeita tolice.

Não sou grande fã de comemorações, condecorações ou homenagens, mas, se fosse um tributo às mães, ainda perceberia. Todos temos uma mãe. Nascemos do seu ventre. E ser mãe é uma opção. Uma opção que tende a ser cada vez mais rara no Ocidente, e deveria ser saudada e acarinhada, pois garante a continuidade da espécie. Mas fazer uma homenagem destas a uma comunidade minoritária, que enquanto comunidade não desempenha nenhuma ação social útil nem em prol do país, é incompreensível.

Nem mesmo alguns gays perceberão a sua razão de ser. Não perceberão por que motivo são homenageados apenas por serem gays.