Europeias: ‘Outra vez campanha!’

Depois dos debates, os candidatos mergulham na campanha de rua. E fora da bolha os cidadãos dão mostras de que estão fartos de campanhas eleitorais. Os candidatos lutam pelo reconhecimento público para combater a abstenção

O cansaço de campanhas eleitorais nota-se na rua. Os candidatos começaram oficialmente a campanha na segunda-feira, mas os debates, que se tornaram a imagem de marca das mais recentes campanhas eleitoral, foram começando a mobilizar as atenções duas semanas antes do início oficial da campanha.

As primeiras incursões de campanha na rua têm vivido essencialmente da animação das caravanas que com bandeiras e slogans procuram chamar a atenção dos cidadãos que frequentemente exclamam: «Há eleições outra vez!».

A tarefa dos candidatos não tem sido fácil, até porque mais uma vez se constata que os temas europeus não ocupam, nem preocupam a cabeça dos portugueses.

Temido e Bugalho testam notoriedade

A indiferença diante do ato eleitoral que se avizinha não corresponde ao entusiasmo que as passagens de Marta Temido e de Sebastião Bugalho tem suscitado em mercados e praças do país. 

De cada vez que percebe que é reconhecido, Sebastião Bugalho tira partido, com conversas de circunstância e puxando por elogios, sabendo que as câmaras estão a captar as imagens, afinal, estas são imagens que têm passagem garantida nas notícias da noite e o seu efeito replica-se por todo o país. Para trás ficam normalmente as prospostas eleitorais, essas, estão escritas nos flyers de campanha que o candidato entrega por onde passa. Mas o argumento que Bugalho repete é quase sempre o mesmo:«Se gosta de me ver, não se esqueça de votar em mim no dia 9». Se a estratégia vai ou não ter sucesso, é um dado que só se ficará a conhecer no dia das eleições, mas, para já, parece estar a resultar a aposta de Montenegro na notoriedade de Sebastião Bugalho.

Aposta certa, pelo menos no que respeita ao reconhecimento público, tem sido também a escolha de Marta Temido para liderar a lista socialista. Apesar de muitos dos locais de paragem serem escolhidos a dedo pela máquina socialista, a verdade é que a antiga ministra da Saúde também tem ouvido elogios e agradecimentos pelo que fez durante a pandemia. 

Temido tem tentado ganhar na rua o que não conseguiu conquistar nos debates televisivos, onde se sentiu menos à vontade na defesa dos temas europeus. No contacto direto com as pessoas, os dossiês europeus ficam guardados e a candidata puxa pela simpatia dos que se vão cruzando com ela. A notoriedade tem sido um bom auxílio, mas a presença quase constante de Pedro Nuno Santos na campanha tem ofuscado nalguns momentos de Marta Temido, sobretudo quando o líder assume o protagonismo, tendo mesmo chegado a tirar-lhe a palavra quando a cabeça de lista do PS respondia aos jornalistas sobre o pedido de desculpas de Sebastião Bugalho, a propósito do despique entre os dois candidatos no debate da RTP. 

A experiência, o erro de casting e dois desconhecidos

Catarina Martins e João Cotrim de Figueiredo são apostas ganhas. Seguros em temas europeus, causaram boa impressão nos debates e a rua não é um lugar estranho para nenhum dos dois. Comparando com as últimas legislativas, vê-se como os ex-líderes do BE e da IL, não só não perderam o jeito, como, no acolhimento na rua, conseguem muito mais apoio e simpatia do que os líderes que os substituíram. 

Catarina Martins tem escolhido os fóruns que lhe permitem agitar as suas bandeiras de campanha: escolas e associações, onde pode defender os temas da inclusão e dos direitos adquiridos que acusa a direita de querer retroceder. 

Cotrim de Figueiredo está de regresso aos bairros de classe média e às zonas universitárias, onde consegue cativar as atenções e o entusiasmo de grupos essenciais para a conquista de eleitorado liberal. 

Francisco Paupério e Pedro Delgado Marques são os dois estreantes desta campanha. Desconhecidos do eleitorado e com máquinas partidárias mais frágeis, fazem o caminho das pedras nas ruas do país, até porque o desconhecimento junto da população, não facilita a conversa e as propostas europeias não são o melhor cartão de visita.

Francisco Paupério tem um problema acrescido, é que Rui Tavares, porta voz do Livre e a pessoa com maior notoriedade no partido, não tem dado uma ajuda ao jovem candidato que foi escolhido para cabeça de lista, numas eleições diretas abertas a não militantes, à revelia da direção do partido.

Pedro Delgado Marques não se queixa do apoio da líder, Inês Sousa Real, mas, à semelhança do que aconteceu na campanha das legislativas, a campanha tem estado muito centrada nos temas do bem estar animal e das visitas a associações do setor.