Quase no fim da campanha. É mais fácil falar de temas europeus ou ser uma cara conhecida?
Eu acho que aquilo que deu mais gozo foi ser uma cara conhecida e poder falar de temas europeus. Foi isso a grande felicidade desta campanha, foi juntar essas duas vertentes.
E as pessoas têm interesse por esses temas?
Eu acho que, infelizmente, talvez por um catalisador menos feliz que é a Ucrânia, que obviamente é algo que nos deixa constrangidos, mas é um interesse redobrado.
Mas sente que as pessoas têm essa preocupação?
Sim, as pessoas estão preocupadas com segurança, estão preocupadas com o futuro da Europa. É que as pessoas gostam de estar na Europa e na moeda única, e agora estão interessadas não só na Europa, mas em defender a Europa daquilo que pode acontecer no futuro.
Teve 12 minutos para decidir se aceitava o convite do primeiro-ministro. Depois dessa decisão, quais foram as maiores dificuldades no confronto com as opções da AD?
Não houve.
Mas não sente incómodo com temas com os quais tem sido confrontado, como a questão da introdução do aborto na Carta dos Direitos Humanos europeus. Por que razão não se sente mais desconfortável a responder a temas como esses?
Quer dizer, é óbvio que houve um interesse dos partidos adversários da AD em quase transformar uma votação que era da legislatura anterior no tema protagonista de uma campanha para a próxima legislatura. Isso foi óbvio, não é? E eu não estive nessa situação. Mas para quê? Eu não posso estar desconfortável, porque está na tradição da Aliança Democrática dar liberdade de consciência aos seus eleitos. Até houve um eurodeputado, Ricardo Morgado, que se absteve nessa votação. E esse assunto está resolvido, o acesso das mulheres à IVG em Portugal não ficou questionado, nem condicionado por essa situação.
A ação do Governo e os anúncios dos últimos dias têm favorecido a sua campanha?
Num certo sentido, obviamente, do mesmo modo que as eleições europeias também têm impacto na vida nacional, mas faz parte. Agora, a questão é: quem é que tinha mais interesse em nacionalizar e governamentalizar esta eleição? Era eu, o primeiro-ministro acabou de ganhar as eleições. O Governo está a entregar resultados e políticas todas as semanas. Quer dizer, os jornalistas de maior imparcialidade têm dito que nunca viram um Governo em tão pouco tempo fazer tanta coisa em dossiês tão diferentes. Portanto, se havia alguma candidatura que tinha interesse em nacionalizar a campanha era a minha e mesmo assim, nós, por espírito de respeito à Europa e ao momento que a Europa está a viver e ao facto de acreditarmos profundamente que a Europa merece ser defendida com centralidade na vida pública portuguesa, nós queremos manter os temas europeus em cima da mesa.
Mas há um tema que é nacional e que teve grande impacto nos últimos dias, que é o pacote para a imigração que foi ontem (terça-feira) apresentado. Tem sentido que esta é uma preocupação real das pessoas?
Mas o problema não é de agora. Nenhum país poderia estar confortável com o facto de haver quase 400 mil imigrantes por regularizar dentro do seu país. Isto não é uma questão de discriminação, nem de xenofobia, isto é uma questão até de proteção e defesa dessas pessoas. Eu acredito muito na identidade democrata e humanitária do meu país e do meu povo. Eu acho que o cidadão português é um cidadão democrata, que é um cidadão que acredita nos direitos humanos. As pessoas têm pudor em falar deste assunto, mas eu acho que tem de ser falado. A dra. Marta Temido fazia parte daquele Governo, mas não era ministra da Administração Interna, era ministra da Saúde, eu não vou confundir as coisas, nem vou fazer nenhum juízo moral sobre este tema, porque nenhum Governo erra de forma tão flagrante num tema como as migrações de propósito, agora, tiveram responsabilidades e não assumem.
O Governo do PS errou em relação à emigração?
Claro que errou. A administração do Estado deixou quase meio milhão de pessoas à mercê das redes de tráfico humano e com a sua situação para regularizar, não se pode dizer que tenha sido um caso de sucesso.
O Sebastião tem-se queixado de ataques pessoais…
Eu não me queixei, eles existiram.
Mas daqui a 15 dias estão todos, ou alguns de vocês no Parlamento Europeu e é preciso haver ali algum trabalho em conjunto, porque em muitas matérias os deputados portugueses trabalham em conjunto, com qual dos adversários vai ser mais difícil trabalhar no Parlamento Europeu?
Repare que nós temos linhas vermelhas na pertença europeia, no europeísmo, na crença no projeto europeu. E incluímos a moeda única nesse europeísmo. Os direitos humanos, e uma linha vermelha que também é nossa no Estado de Direito e na luta pela paz da Ucrânia.
E acha que vai conseguir trabalhar bem com Marta Temido?
Eu não sou uma pessoa rancorosa, nem com a direita, nem com a esquerda. Não sou uma pessoa rancorosa e, sobretudo, sei que não deixei razões de rancor a ninguém nesta campanha. A dra. Marta Temido, num debate, já assumiu que votaria a favor de elevar a habitação um direito fundamental. Eu conto com o voto dela.