O final do ano letivo sabe sempre a um período de tréguas. Por mais que nos angustie não saber o que fazer aos filhos durante quase três meses de férias, baixamos as armas em junho e respiramos fundo. Entramos em modo de voo de aulas, sem chamadas da escola, sem sinais de ocorrências, notas, trabalhos, visitas de estudo, recados que não lemos, o calendário dos testes que nos tira o sono e trabalhos de casa que temos de fiscalizar. Maio é a época alta da escola, assim como o Algarve em agosto. Somos postos à prova em tudo: a nossa capacidade em gerir a preparação para os últimos testes que servem também como última hipótese para as notas subirem e o sem número de atividades que vão desde o Dia da Criança, à festa de final de ano, passando pelas visitas de estudo e atividades extra guardadas para altura em que o calendário letivo alivia. Estamos no limite, o nosso email está no limite, os grupos de WhatsApp dos pais estão ao rubro e os dias crescem como se não quisessem acabar.
Em junho, no querido mês de junho, arrumamos os livros e todo o material escolar como se fossem armas, limpamos as gavetas, selecionamos os lápis de cor que ainda podem servir para o ano como se fossem peças de artilharia que ainda se podem aproveitar. Respiramos fundo como se o Natal tivesse chegado às trincheiras e as bandeiras brancas tivessem sido hasteadas para se poder esticar as pernas, sair dos buracos onde passamos os meses de outono e inverno e dormir algumas horas seguidas sem sobressalto. É a altura em que a tensão alivia e nos alivia. Acredito que os professores fazem e sentem o mesmo. Encostam-se para trás, no sossego das suas casas, estou a vê-los a sorrirem de satisfação por não terem testes para corrigir nem pais a pedirem contas às classificações, às ocorrências, ao excesso de trabalho de casa, à falta de exigência e tudo o seu contrário. Os professores entram em férias de alunos e pais, e nós, pais e filhos, rastejamos para fora das trincheiras em busca de um raio de sol sem medo das balas disparadas do lado de lá. Passamos pelo portão da escola de cabeça levantada, sem o nervoso que vem da sensação de que nos esquecemos de marcar uma data importante de testes ou atividades na agenda, sem remorsos pela falta de apoio que demos, sem culpa pelas asneiras que os nossos filhos ali fazem durante o ano. Os portões estão fechados e isso é tudo: é a maresia das férias.
É nesta altura, no final do ano letivo, que se fazem as promessas mais irrealistas mas que nos deixam gozar as férias de consciência tranquila. É agora, com o sol a aquecer as nossas almas, que nos comprometemos com objetivos que ano após ano deixamos pelo caminho. Prometemos aos professores que este Verão o menino vai ler todos os dias, que a época balnear não vai ser só de banhos e sol mas também de algum estudo e revisões e ainda garantimos que no próximo ano os nossos filhos começam a trabalhar com afinco logo no primeiro dia de aulas, vão ter sempre o material necessário, irão cumprir com todos os trabalhos de casa e vão-se portar de forma exemplar. Sem mácula. A melhor semana do ano é mesmo esta, a que ainda vivemos em honestidade: sem obrigações da escola por cumprir e sem ainda termos faltado às promessas das férias. Daqui a uns dias voltamos às trincheiras.