Pesadelos de Verão. Melhor altura do ano? Não para todos!

Há quem adore o verão, mas também há quem o odeie. Sabia que quando as temperaturas estão altas é natural que tenhamos mais pesadelos?

Há quem passe o ano inteiro à espera da altura do calor. Dos dias longos e luminosos, das roupas leves, das noites quentes, das férias. Não é segredo para ninguém que a luz solar é capaz de estimular a produção de serotonina, um neurotransmissor responsável por regular o humor. Em 2021, investigadores da Universidade de Binghamton e da Universidade Estatal de Nova Iorque corroboraram essa premissa através de um estudo que mostrou a influência da estação mais ensolarada. Os especialistas enfatizam fatores importantes, como o sono, o exercício e a dieta, que influenciam o estado e a função mental. Segundo a investigação, durante o verão, a nossa alimentação e as nossas atividades físicas melhoram. Uma explicação lógica para isto são os muitos vegetais sazonais que colhemos na primavera e no verão. Além disso, os dias mais longos contribuem para a motivação para a realização de atividades ao ar livre. Tanto uma dieta saudável quanto a prática de exercícios contribuem para um bom sono e um ritmo circadiano melhorado. Além disso, as férias permitem estar com as pessoas de quem gostamos, sem as preocupações do trabalho. Por outro lado, a falta de luz solar pode afetar profundamente o humor e o estado de espírito e a chegada do outono e do inverno, podem desencadear uma depressão, também conhecida como desordem afetiva sazonal (DAS). A depressão sazonal é mais comum no inverno.

No entanto, há quem não suporte o verão. E, tal como escrevemos em 2023, as razões podem variar amplamente e podem ser influenciadas por fatores físicos, psicológicos ou culturais: intolerância ao calor;  problemas de saúde, preferências climáticas pessoais; stresse e preocupação com as alterações climáticas, por exemplo.

Ao mesmo tempo, muitos especialistas já comprovaram que o calor pode aumentar os pesadelos. De acordo com o médico britânico Neil Stanley, antigo presidente da British Spleep Society, o calor aumenta as hipóteses de experienciarmos pesadelos. “De modo a conseguir dormir uma boa noite de sono, é necessário que a temperatura interna do seu corpo arrefeça cerca de 1 grau centígrado, temperatura esta que geralmente se encontra nos 37 graus”, explicou à publicação The Telegraph, em 2018. “Ao dormir num espaço muito quente, o corpo não consegue perder a temperatura necessária e consequentemente o sono será perturbado”, referiu, explicando ainda que quando o sono é repetidamente incomodado “tal promove a deprivação de sono”, o que por sua vez “causa uma maior atividade cerebral aumentando assim a ocorrência de pesadelos. “Essa atividade alterada torna os sonhos mais vividos quando alcançamos o sono REM (o estado mais profundo de inconsciência), tornando os sonhos mais reais e desagradáveis”, acrescentou.

O problema dos carteiristas

Mas, afastando-nos dos factos científicos e dos pesadelos que temos enquanto dormimos, há muitos pesadelos reais que os portugueses vivem nesta altura do ano. Os carteiristas, por exemplo, são um deles. Em março, a PSP revelou que deteve 160 suspeitos da prática de furto por carteirista e identificou 533 nos últimos dois anos. Só em 2023, a PSP identificou 295 suspeitos como autores deste ilícito (+19,3% que em 2022).

Em comunicado, a Polícia indicou que em 2022 foram registados 4.850 crimes de furto por carteiristas e em 2023 esse número terá ultrapassado ligeiramente os 5.000. De acordo com a PSP, em 2023 o número de detidos aumentou 43,1% em relação a 2022 (de 58 detenções para 102) e o valor do prejuízo patrimonial causado por estes furtos ultrapassou os 2,4 milhões de euros. Além disso, a força de segurança sublinhou que existe uma correlação entre os locais com maiores aglomerados populacionais e os locais com maior número de ocorrências, destacando-se os centros turísticos das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto e também os transportes públicos.

Filipe Duarte, de 25 anos, passava na passadeira de uma das ruas do Largo de Camões, na capital, quando foi abordado por um homem. É loiro de olhos azuis e, por isso, muitas vezes é confundido com um turista. “Um homem parou à minha frente para me perguntar se eu precisava de ajuda para ir para a Baixa”, conta ao i. Nesse momento, sentiu que alguém lhe tentava tirar a carteira do bolso. “Cheguei-me ao pé do ouvido dele e disse-lhe em português: ‘Se o teu amigo me tentar tirar a carteira outra vez é bom que corras mais rápido que eu’. Ele deu um passo atrás, disse ao amigo para se irem embora”, revela. “Com a afluência de turistas nesta altura é natural que aumentem este tipo de furtos”, acredita. De acordo com a PSP, o objeto de furto são sobretudo carteiras, mas o interesse em cartões de débito/crédito é cada vez maior.

Estacionamentos e falta de lugar na praia

A época balnear ainda não estava aberta e as temperaturas altas já levavam as pessoas à praia. Além disso, são cada vez mais os turistas que escolhem Portugal como seu destino de férias, o que, em vários locais, acaba por comprometer o espaço para colocar a toalha no areal. Mária Benedito vive em Sesimbra e, com o passar dos anos, tem sentido cada vez mais dificuldade em aproveitar a sua vila nesta altura. “Sesimbra de inverno é quase uma vila fantasma, de verão uma vila de multidão”, desabafa. “Sempre vivi em Sesimbra, uma vila piscatória com uma praia virada a sul (sem ser o Algarve) com uma baía calma e pequena. Na última década a vila tem mudado muito, devido ao elevado preço das casas. As habitações perto do mar deixaram de ser habitadas por pescadores e foram vendidas como segundas habilitações. Com isso, deixámos de ter alguns serviços como médico permanente nas urgências e correios”, continua. Segundo Maria, no inverno tudo é calmo, a maioria das pessoas conhecem-se e cumprimentam-se na rua. Algumas lojas fecham e é fácil estacionar ou ir jantar a um dos muitos restaurantes que existem na vila.  “Assim que começam os dias quentes e começa a confusão, é quase impossível estacionar (o estacionamento é pago todos os dias/todo o ano de inverno até às 18h de verão até às 22h). Deixo de conhecer as pessoas, filas e trânsito caótico, supermercados cheios, farmácias com fila de espera”, revela. Para piorar, acrescenta, se a maré estiver cheia é quase impossível ir à praia. “Já me aconteceu tentar ir à praia durante a tarde e vir embora por não ter lugar para colocar a toalha”, admite. Recorde-se que, no princípio de junho a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) revelou que as praias portuguesas tiveram uma redução do seu areal durante o Inverno.

Um lugar para ficar

Em 2023, o turismo atingiu seis mil milhões de euros de receitas, dos quais 4,6 mil milhões foram arrecadados em dormidas. Segundo os dados preliminares do INE, estes valores indicam uma subida de 20,1% nas receitas totais face a 2022 e de 40,2% face a 2019, antes da pandemia. Com estes resultados, 2023 foi o melhor ano de sempre do turismo em Portugal. Por isso, calcula-se que este ano esses recordes possam ser ultrapassados. Mas, ao mesmo tempo que isso representa um fator importante para a economia do país, faz com que muita gente tenha cada vez mais dificuldade em encontrar uma casa de férias para os meses de calor. Isabel Pereira nasceu em Portugal, mas os seus pais mudaram-se para França quando ainda era bebé. Apesar de ter construído a sua vida toda longe, faz questão de regressar todos os verões para ver a família. E, muitas vezes, traz casais amigos para lhes dar a conhecer as suas raízes.  Com o passar dos anos tem ficado cada vez mais complicado arranjar um lugar em conta com as características que procura. “Antigamente encontrávamos casas com piscina perto do mar (Porto Covo, Zambujeira, Algarve, etc…) por 1000 euros por semana. Agora é super complicado encontrar uma casa do mesmo estilo por menos de 1800/2000 euros por semana”, lamenta. A casa que alugou este ano em Sines é uma simples casa de vila, antiga, e o preço é de 2500 euros por duas semanas. “Foi o que encontramos de mais barato para 5 pessoas”, diz.