Há uns valentes anos, quando passava parte do meu tempo profissional em esquadras de Polícia, acompanhava muitas vezes as equipas policiais em ações de rua, fosse no combate ao tráfico de droga – andei durante três semanas a ir ao Casal Ventoso com os furões do Calvário, chefiados pelo então conhecido comissário e o modelo João Rocha, de quem me tornei amigo –, fosse em ações de combate ao crime generalizado. Houve uma época em que os assaltos na Fontes Pereira de Melo e na Avenida da Liberdade envolviam mais de 100 jovens oriundos dos bairros periféricos da Amadora, fazendo estes o chamado arrastão: roubavam todas as pessoas que lhes aparecia à frente, às vezes, com recurso a violência. Nessa altura, o comandante de Lisboa era Vasco Durão, por quem tive grande admiração e amizade, e decidiu atacar o problema de frente. Dizia-me ele: «Vítor, todos sabemos que o problema da criminalidade não se resolve só com a força policial, pois é preciso que os organismos do Estado ligados à Segurança Social façam a sua parte, mas se a Polícia não fizer nada então é que isto descamba completamente».
O principal problema naquela altura dizia respeito à segunda geração de africanos que tinham vindo para Portugal, tendo os jovens já nascido cá, mas dizia-se que se sentiam perdidos, já que não se sentiam africanos, local onde os pais tinham nascido, nem portugueses. Felizmente, hoje já não se ouve falar disso, pois a comunidade integrou-se e são quase todos portugueses. Mas como é que Vasco Durão resolveu o problema dos arrastões? Simples, montava quase todos os dias grandes dispositivos policiais à saída desse bairros, onde identificavam toda a gente.Dessa forma já não saíam aos magotes e perceberam que a Polícia estaria em cima deles, caso fossem assaltar indiscriminadamente quem andasse pela zona do Marquês.
Vem esta conversa a propósito do que se passa atualmente. Com o aumento exponencial dos toxicodependentes, é natural que estes precisem de arranjar dinheiro. Se não o têm, o que fazem? Dedicam-se a assaltar pessoas, carros, lojas e por aí fora. Tendo Portugal um enorme contingente de imigrantes ilegais, muitos deles com poucas ou nenhumas habilitações, o que podem fazer para sobreviver? Dedicam-se, muitos dos desempregados, à criminalidade, pois preferem ser presos emPortugal a regressarem às suas terras, onde muitas vezes estão as máfias à sua espera para cobrar o que emprestaram para eles virem. É só perguntar às associações que trabalham com eles, com os ilegais e sem emprego, para se perceber que eles preferem tudo a voltar à sua terra. Mas serão os únicos a fazer assaltos em grupo? Claro que não, há muitos portugueses, como os números das cadeias o indicam, a dedicarem-se ao crime. Mas também não é mentira que 17% da comunidade prisional já é estrangeira. A 31 de dezembro do ano passado andava mesmo pelos 20%.
Quem quer esconder estes dados, como as associações radicais que nos Anjos não deixam jornalistas e autarcas aproximarem-se dos ilegais, só dão azo à extrema-direita, que aproveita o silêncio dos outros para faturar. Nada como explicar tudo direitinho e pedir ajuda a todos os organismos que podem ajudar a resolver o problema. Até lá, é fazer como Vasco Durão fazia: deter os criminosos, independentemente da sua nacionalidade