Nova Iorque, junho 2024
Queridas filhas,
Sempre fui um admirador do projeto europeu. Não só fomentou a paz durante décadas, como levou a forte crescimento na segunda metade do século XX. Em Portugal, criou um projeto nacional de reformas estruturais que nos abriu ao mercado único de serviços, bens e pessoas como também à moeda única. Desde então, nos últimos 25 anos, sucessivos governos portugueses adotaram políticas socialistas para comprar votos: Portugal divergiu da média europeia e contentamo-nos com vitórias esporádicas do futebol, Eurovisão ou diplomacia (Durão Barroso, Guterres) que nada acrescentaram ao futuro dos portugueses. Agora, outro problema surge: a Europa vai na direção certa? Portugal atrasa-se em relação a um bloco que se atrasa em relação ao Mundo.
Quando era pequeno, seguia o exemplo de pessoas mais velhas. Por vezes, isso levava a decisões menos felizes. Quando os meus pais me perguntavam porque as tomei, justificava que apenas seguia o meu ídolo. E se ele se atirar de uma ponte, também te atiras? retorquiam os meus pais. Conselhos sábios! Desde então desenvolvi uma visão mais global e abrangente da vida e uma postura mais crítica e independente. Penso que os portugueses, os governantes sim, mas todos os outros também, deviam pensar bem que modelos seguem, pois, a Europa vai numa direção perigosa.
Em termos económicos a Europa cada vez mais se marginaliza no mundo. Em 2000, de acordo com a Standard & Poors, a economia europeia representava 26.5% da economia global. Atualmente, representa apenas 17.3%. De forma que empresas de ponta tecnológicas atrasam o lançamento dos seus melhores produtos na Europa: por exemplo a Apple anunciou que não lançará a Apple Intelligence na Europa por enquanto. Sem acesso às melhores tecnologias, os empreendedores europeus dificilmente conseguirão lançar os melhores produtos a nível mundial. Terão de se limitar em competir regionalmente na melhor das hipóteses. Um risco alto que Portugal deve pensar.
Em termos financeiros, os pilares europeus da moeda única são frágeis. Vimos isso durante a crise das dividas soberanas de Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda. Desde então algum progresso foi feito nas periferias. Mas as baixas taxas de juro tentaram muitos governos a se endividarem, e agora a França começa a mostrar dificuldades em se financiar a taxas competitivas com as da Alemanha. Com as potenciais mudanças das eleições dos próximos dias, estes tremores podem aumentar para uma crise mais séria. Uma vez instalada, a crise estender-se-á a Portugal rapidamente. Os governos socialistas não deixaram muita margem de manobra aqui, e Portugal está vulnerável.
Em termos militares, toda a Europa está vulnerável. Não se investiu e contou-se com os gastos dos USA para garantir a defesa. A defesa dos USA diz que neste momento tem condições para lutar uma guerra num grande teatro e outro num teatro intermédio simultaneamente. Com guerras na Ucrânia, Israel e tensões no mar da China (com Taiwan e Filipinas) não é inconcebível que os USA não possam acudir ao mesmo tempo outra frente na Europa. Se Portugal tiver de defender sozinho a sua integridade territorial, podemos ter más noticias. O mesmo para os restantes países europeus com talvez a exceção do Reino Unido.
Resumindo, a Europa não cria tecnologia de ponta há décadas, tem uma situação financeira muito frágil, e não se consegue defender sem os USA. Portugal conseguiu atrasar-se em relação a este baixo progresso europeu. Os portugueses devem abrir os olhos, inspirarem-se no progresso feito nos USA e na Asia e cortar distâncias para terem acento nos centros de decisão da segunda metade do século XXI.