Quando o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, na semana passada, anunciou que nas galerias do hemiciclo se encontravam a assistir aos trabalhos parlamentares 11 soldados ucranianos feridos de guerra, a bancada do Governo e todas as demais, com exceção da do PCP, juntaram-se numa ovação de pé que teria sido unânime se os deputados comunistas não tivessem ostensivamente marcado a diferença.
Com efeito, como documentaram as imagens da ARTV (a televisão do Parlamento), a bancada do PCP não só não se levantou como nem sequer aplaudiu, colocando-se à margem daquela singela homenagem aos combatentes ucranianos.
Já quando Volodomyr Zelensky se dirigiu ao Parlamento português, por videoconferência, em abril de 2022, os deputados da bancada comunista tinham primado pela diferença recusando o aplauso ao Presidente ucraniano.
Embora nessa ocasião também todos os membros do Governo liderado por António Costa, incluindo o então primeiro-ministro socialista, mantiveram-se sentados e quedos nas respetivas cadeiras da bancada destinada ao Executivo (os que ainda esboçaram a tentativa de umas palmas foram imediatamente cerceados pelo olhar crítico do PM).
Com todo o restante hemiciclo – com exceção dos deputados do PCP – de pé, foi mais acintosa a atitude dos governantes portugueses.
Ao ponto de António Costa ter sentido necessidade de se justificar, afirmando ser da praxe parlamentar os membros do Executivo presentes na bancada governamental do hemiciclo de S. Bento nunca se levantarem nem baterem palmas.
A verdade é que, como aqui se referiu na altura, mesmo que essa seja a praxe, não faltam exemplos em que os membros do Governo se juntaram aos deputados da maioria num aplauso de pé a oradores convidados, como o Rei Filipe de Espanha, ou até após votações como a da aprovação de propostas do Orçamento do Estado. E daí maior a estranheza com tamanha desconsideração.
Mas, enfim, António Costa ao menos teve a preocupação de tentar justificar a sua manifesta incorreção.
Já o PCP, desta vez, nem isso.
Lamentável!! A todos os títulos, censurável!
Mesmo acreditando-se no discurso oficial do PCP de defesa da paz, é inconcebível
que os parlamentares comunistas, incluindo
o líder do partido, Paulo Raimundo, acabem sempre por alinhar ao lado de Vladimir Putin,
e das suas forças invasoras, na guerra
com a Ucrânia.
Até porque, na realidade, nem o PC russo está tão comprometido com a defesa de Putin.
O PCP sabe que por muito pouco não ficou fora do Parlamento Europeu – teve de esperar pelo fecho da última assembleia de voto para saber que João Oliveira conseguira ser eleito – e que a sua posição em relação à invasão da Ucrânia pelas tropas russas também não é alheia à perda de votos, antes pelo contrário.
Uma perda de votos que tem caráter estrutural e progressivo, confirmando uma tendência que ameaça o futuro do partido.
É uma evidência, por muito que Paulo Raimundo e a Soeiro Pereira Gomes celebrem a eleição de um eurodeputado único como a negação das previsões de quem, para os comunistas, não passa de força da reação ou profeta da desgraça.
Ora, é precisamente o definhamento do PCP nas sucessivas eleições – não só para o Parlamento Europeu (em que ainda salvou um dos dois mandatos que tinha), mas também para a Assembleia da República (os deputados eleitos pela CDU já cabem num táxi, porque são só quatro), para as Assembleias Regionais (os comunistas deixaram de ter assento no Parlamento da Madeira, como já não tinham no dos Açores) e para as autarquias (restam à coligação liderada pelo PCP apenas 19 câmaras e, dessas, em 11 os respetivos presidentes atingiram o limite de mandatos) – que pode justificar o injustificável.
Se o Partido Comunista Português foi o único da Europa ocidental a resistir ao fim do império soviético, mantendo-se teimosamente agarrado à ortodoxia que sempre se opôs à Perestroika e à Glasnost de Mikhail Gorbachev, que culminaram na implosão da União Soviética e do Pacto de Varsóvia e na queda do Muro de Berlim, não deixa de ser coerente defender a não condenação da invasão da Ucrânia.
O que, tendo um preço óbvio – e à vista de toda a gente – na implantação social, política e eleitoral do PCP, pode, porém, ser a garantia de uma fonte de financiamento essencial para a sua sobrevivência.
Só que está do lado errado da História.
O que lhe será fatal – e mais rápido do que muitos dos tais profetas da desgraça ou das forças da reação poderiam imaginar.