B(r)anco mais sujo não há

Mesmo nos dias das mais negras tempestades, há sempre uma nuvem branca da esperança. Mas com tantos aviões no ar, já não há céu limpo sem o azul cortado pelo branco mais sujo da desesperança. Falou-se do avião de Musk em Tires… E os outros todos do BCE? Hipócritas!

Elon Musk, o adiantado mental multimilionário sem escrúpulos que criou os 100% elétricos Tesla e transformou o Twitter em X, passou por Lisboa no fim de semana passado.

Ninguém sabe ao certo o que veio cá fazer na companhia do filho de três anos e  muito provavelmente não passará de pura especulação qualquer relação entre esta visita relâmpago e um alegado interesse na exploração do lítio no norte de Portugal para o fabrico de baterias para a sua marca líder nos automóveis elétricos.

Para além do secretismo sobre a motivação da viagem, o que fez correr mais tinta nos meios de comunicação social e nas redes sociais foi o facto de Musk e o filho de três anos terem viajado num jato privado, que aterrou no Aeródromo de Tires, em Cascais, depois de uma escala técnica (para reabastecimento) no Aeroporto do Porto.

E logo correu viral a informação segundo a qual o excêntrico empresário terá partido no seu jato privado de Austin, no Texas (Estados Unidos), tendo gasto aproximadamente 21 mil euros em combustível, num voo que terá durado oito horas e que terá emitido para a atmosfera 43 toneladas de dióxido de carbono.

Ou seja, este falcão do ciberespaço e que multiplicou a sua fortuna pessoal à custa da venda de automóveis ditos ‘amigos do ambiente’ não tem, afinal, qualquer pejo em utilizar megapoluidores jatos privados nas suas deslocações pessoais.

Acontece que, neste fim de semana, Elon Musk não foi o único falcão a aterrar em Portugal a bordo de um jato privado.

Nos mesmos meios de comunicação social e nas mesmas redes sociais, circularam inúmeras notícias dando conta do encontro anual dos todo-poderosos banqueiros europeus, que se reuniram em Sintra, e, se não terão tido nenhum encontro com Musk (para isso, o empresário certamente não teria viajado na companhia do filho de tão tenra idade), tiveram entre os seus convidados especiais e oradores o presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos (FED), Jerome Powell.

Tratou-se do XI Fórum Anual do BCE, que junta os próprios dirigentes do regulador europeu liderado por Christine Lagarde, mais os governadores de bancos centrais, académicos e especialistas do mercado financeiro. O objetivo era analisar e discutir os desafios da economia europeia e global, sendo que o tema deste ano foi a Política Monetária numa Era de Transformação.

O que ninguém disse é que, tal como Elon Musk, Jerome Powell também veio dos Estados Unidos num jato privado que aterrou em Tires e daí levantou para o voo de regresso, este com uma escala em Madrid. E_lá se acrescentaram mais umas dezenas de toneladas de dióxido de carbono à saturada atmosfera.

 Mas não foram só estes dois insignes americanos que utilizaram tão exclusivo, oneroso e poluidor meio de transporte.

Aliás, era vê-los passar, com seus potentes e barulhentos reatores e ainda baixinho, a caminho ou a sair do aeródromo cascalense.

Consultados, os registos do Aeródromo Municipal são elucidativos: só no domingo levantaram 21 jatos privados de Tires e mais 16 no sábado.

O aparato securitário dissipa as dúvidas que restassem de que os dignitários passageiros foram, na sua esmagadora maioria, se não na totalidade (excluindo, claro Elon Musk se essa não foi a razão da sua curta estadia), participantes no Fórum Anual do BCE.

 Ou seja, as senhoras e senhores da insuspeita instituição reguladora presidida pela senhora Lagarde e respetivos convidados pelos vistos viajam à grande e à francesa e vieram a Lisboa para o seu faustoso encontro em Sintra em jatos privados.

A mesma senhora Lagarde que desde que ocupou cargo ministerial no Governo francês, tendo passado depois pela presidência do Fundo Monetário Internacional e, finalmente, ocupando a liderança do BCE,_sempre defendeu políticas de severa austeridade, com salários baixos para os trabalhadores e para a classe média e juros altos para lhes dificultar o acesso ao financiamento (estrangulando as famílias que se veem e desejam para pagar as prestações das suas casas aos bancos), já para não falar da defesa de pesados impostos sobre a pegada ecológica… para os outros.

Sim, porque os falcões do BCE_liderados por uma galinha de pescoço pelado têm direito a andar de Falcon à custa dos contribuintes europeus.
E cada um no seu, que isso de aglomerados é coisa de pobres do sul.
E impõem impostos sobre a pegada carbónica aos pombos.
E austeridade e salários miseráveis.
E juros altos para dificultar o acesso ao financiamento.
E ainda há muito boa gente que pensa que os ratos com asas são os pombos?

Olhem para os falcões que temos e para a classe dirigente que grassa nas instituições da União Europeia, e dos seus Estados-membros, e no mundo, e em particular das grandes potências (Biden, Trump, Putin, Lula, Milei…)…

Não, não se augura mesmo nada de bom, antes se prevê um futuro negro, e muito, porque até o b(r)anco é do mais sujo que há. l

P.S. – Partiu Floriano Lobato da Ressurreição, aos 88 anos. Foi meu professor na Escola doBacalhau, em Vila Franca de Xira, na 3.ª e na 4.ª classes (e a seguir do meu irmão João, na 1.ª e na  2.ª). Depois dos exames nacionais (uma prova escrita e outra oral), disse-me que eu faria o ciclo preparatório com uma perna às costas e no liceu bastava estudar um pouquinho. Ele sabia as bases que me tinha dado a Português, Matemática, História, Geografia ou Ciências. Era um pedagogo de exceção, o meu Professor Floriano. Saudade!

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