Recebemos em Cascais, nos últimos dias, o EurAfrican Forum que reuniu líderes, empresários e políticos para um debate sobre o próximo capítulo das relações com África.
Tive o privilégio de, ao lado do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, e do presidente do EurAfrican Forum, José Manuel Durão Barroso, dar as boas-vindas ao um lugar que, não minha isenta opinião, não poderia ser mais apropriado.
Somos um povo atlântico. Vemos no Oceano liberdade e abertura, tolerância e oportunidade. Não vemos no Mar uma fronteira.
A divisão entre a Europa e a África dá-se sobretudo pelo Mediterrâneo. Mas não queria deixar de contestar essa visão de fronteira, essa ideia de Europa ‘fortaleza’ que vê no mar uma extensão da sua política de imigração.
Tenhamos, nós europeus, a noção da história. O Mediterrâneo, no centro da relação euro-africana, foi uma autoestrada de progresso e comunicação entre grandes civilizações e grades cidades. Mas esquecemos isso nas últimas décadas.
O espaço EuroAtlântico, reflete a nossa predisposição natural para o Atlântico e para as nossas principais alianças militares e comerciais.
O espaço EuroAsiático, tem sido um processo de integração hiperacelerado, tanto por efeitos da globalização como por visões estatistas como a ‘novas rotas da seda’, que deixaram a Europa mais dependente energeticamente da Rússia e industrialmente da China.
Surpreendentemente, o espaço EuroAfricano não existe nos discursos dos políticos.
O mais espantoso é que se trata do continente com quem nós, quase todos na Europa, temos uma história comum.
Para além da razão geográfica e histórico-emocional, não faltam elementos racionais para a Europa olhar para África e fazer dela uma prioridade estratégica.
Comecemos pelo território. A massa terrestre de África é equivalente à área combinada da China, Índia, Estados Unidos, Japão e Europa ocidental.
África é um gigante e só não temos bem esta perceção porque os mapas de Mercator criaram uma distorção na representação de África que a representa de forma mais diminuída.
Mas vamos à população. Até ao final da década, África será a segunda região mais populosa do globo e, até ao final do século, as projeções indicam que representará 40% da população mundial – a região demograficamente mais poderosa do planeta.
Olhemos para a Economia. Já em 2024, 10 das 20 economias mundiais com mais altas taxas de crescimento do PIB em 2024 estão na África subsaariana – com Níger, Senegal e Ruanda à cabeça.
África está no centro da transição energética, produzindo não só hidrocarbonetos que fazem o nosso mundo girar, como também os minérios raros que vão permitir ao mundo alcançar as suas metas de descarbonização.
África é o coração da produção agrícola do futuro e o palco de um vibrante ecossistema de inovação que está a mudar a forma como olhamos para muitos problemas nas sociedades avançadas.
É evidente que África tem ainda muitos problemas. A falta de infraestruturas, a fragilidade de instituições sociais e políticas, a violência étnica e religiosa ativa em muitos dos seus Estados.
Mas África será o futuro. Cabe aos Europeus decidirem se querem ou não fazer parte dele.
E, qualquer que seja a opção de Bruxelas, que Portugal saiba sempre fazer o seu caminho, fiel aos seus valores e à sua história. Desempenhando o seu papel no que há muito defendo ser o triângulo entre a Europa, África e América Latina.
Que de Cascais tenha saído um compromisso reforçado para a construção deste grande espaço Euro, Afro, Sul Americano.