O candidato a candidato

A pouco mais de um ano das próximas autárquicas, não há férias nem tempo a perder para quem tem pretensões e para os aparelhos contarem espingardas, fazerem escolhas e tomarem decisões. Depois do verão já pode ser demasiado tarde.

Pedro Siza Vieira é um dos nomes falados no PS – e com crescentes apoios no partido – para uma potencial candidatura autárquica contra o atual presidente da Câmara de Lisboa, o social-democrata e seguramente recandidato de uma AD alargada à IL, Carlos Moedas.
Do movimento de socialistas promotor da candidatura do antigo ministro da Economia de António Costa faz parte o antigo vice-presidente e todo-poderoso vereador (tanto de Costa como do seu sucessor, Fernando Medina), Manuel Salgado.

Em declarações ao Nascer do SOL, publicadas na última edição, Salgado elogiou Siza. considerando que «se fosse essa a escolha, seria uma ótima hipótese» e acrescentando que «o Pedro é uma pessoa com a cabeça muito bem arrumada, muito inteligente e conhece muito bem a cidade».

Pedro Siza Vieira completou 60 anos no dia 14 e juntou mais de uma centena de familiares e amigos e, entre eles, alguns dos seus notáveis apoiantes.

Ou não. Entre os presentes estava também a antiga colega de Siza no Governo ­– aquela a quem António Costa deu a coordenação do Executivo sempre que foi de férias, evitando passar a pasta a Pedro Siza ou a Augusto Santos Silva, quando eram estes os seus ministros de Estado.

Aliás, a mesma que acabaria por promover
a número dois do Governo quando conquistou maioria absoluta e dispensou Siza, sem aviso prévio nem apelo nem agravo.

Mariana Vieira da Silva é amiga de há muito de Pedro Siza Vieira, tal como o era António Costa. Mas não será das suas mais entusiastas apoiantes – como se tornou óbvio que Costa também deixou de o ser.

Até porque ela própria – juntamente com a líder da bancada socialista, Alexandra Leitão – é um dos nomes apontados como mais prováveis para encabeçar a lista de candidatos do PS à Câmara de Lisboa nas eleições daqui a pouco mais de um ano (final de setembro ou outubro de 2025).

Ora, é precisamente por isso que têm crescido tanto dentro do partido os apoios à candidatura de Siza Vieira.

Para muitos, não por ser considerado o melhor candidato que o PS pode ter, mas porque, sendo ele, assim ficariam afastadas as hipóteses de a escolha poder recair em Mariana Vieira da Silva ou, sobretudo,  em Alexandra Leitão.

É certo que Pedro Nuno Santos não morre de amores por Pedro Siza Vieira – que até nem o terá convidado para a sua festa no Palácio na Carpintaria de S. Lázaro –, mas mais fortes ainda no PS são os desamores por aquelas duas senhoras, despachada que foi para a Europa a que se apresentava como primeira da lista, a antiga ministra da Saúde que António Costa conseguiu fazer eleger presidente da concelhia de Lisboa.

Tal como Marta Temido, também Mariana Vieira da Silva e Alexandra Leitão não colhem as maiores simpatias no aparelho do partido.

Antes pelo contrário, uma e outra evidenciam uma semelhante qualidade para somarem opositores internos na razão direta da respetiva ascensão na hierarquia do partido ou do aparelho socialista, sem nunca terem passado pela casa das máquinas. 

E daí as movimentações de bastidores para lhes arranjar alternativa. Uma qualquer…

Se o desejado, Duarte Cordeiro, ex-ministro do Ambiente que se afastou da política até ver (ou melhor, até o Ministério Público afastar todas as suspeitas sob investigação), se autoexcluiu, e todas as demais tentativas esbarraram na parede, a hipótese de Siza Vieira, diga-se o que se disser, tem feito caminho.

Siza saiu do Governo com uma boa imagem à esquerda e à direita – foi, aliás, também muito simpática a ideia com que dele fiquei quando o conheci num pequeno almoço no Ministério que à época era ainda na rua da Horta Seca, e para o qual o então ministro teve a amabilidade de convidar o diretor e a editora executiva do SOL.

Siza Vieira é polido, moderado, capaz de agradar à esquerda e à direita sem grande esforço e sem perder a face.
Mas essa que pode ser uma vantagem nos corredores de S. Bento e outros palácios, pode ser também o seu maior handicap para uma candidatura à Câmara de Lisboa.
Como já diziam Krus Abecasis, João Soares ou Santana Lopes, não é com sapatos de verniz e punhos de renda que se governa e ganha uma Câmara como a de Lisboa. É preciso sujar os sapatos, arregaçar as mangas e pôr a mão na massa.

Mas essa é a vantagem de Carlos Moedas, que não perde uma oportunidade para engraxar os eleitores lisboetas e, particularmente, os dos bairros – onde se ganham as eleições.

Moedas sabe que a maioria absolutamente relativa  com que herdou de Medina a Câmara não lhe permite fazer quase nada a não ser de Calimero por não conseguir governar.

E, por isso, cedo deu corda aos sapatos e começou a bater as sete colinas para conquistar o máximo possível de eleitores lisboetas.

E tem feito bem o trabalho.

O que dificulta e muito a tarefa a quem quer que seja o pretendente.

Pedro Siza Vieira já veio demonstrar que também sabe entrar a pés juntos e fazer cortes de carrinho, bem rasteiros.

Mas vai precisar de muito mais se quiser ver a sua candidatura passar da Carpintaria de São Lázaro.

E tem de pôr-se já ao caminho.

Porque, se está à espera que seja Pedro Nuno Santos a ir ter com ele e a dizer-lhe levanta-te e anda… bem pode  esperar sentado.

mvramires@gmail.com