Os sucessivos governos de Portugal foram desenvolvendo políticas no sentido de garantir que o país se tornava numa referência na área das energias renováveis, nomeadamente eólica e solar. Esse investimento em infraestrutura e comunicação tem valido ao país a criação de uma imagem de modernidade e inovação. Essa realidade não tem contudo evitado, da parte de um largo grupo de especialistas, um conjunto de críticas, assentes em dados económicos que, segundo esses mesmos especialistas, demonstram a ausência de racionalidade económica. O facto é que ao viajar pelo país neste mês de Agosto vimos com satisfação a crescente proliferação de eólicas, parques solares e uso de painéis vários em casas por essas aldeias de Portugal. Apesar de na globalidade respeitar os argumentos dos mais céticos estou convencido que a tendência do uso das renováveis é benéfica para o planeta. No Taguspark – Cidade do Conhecimento, mais de 30% do consumo elétrico é já proveniente de painéis solares, tendo também lá sido criada a primeira comunidade produtora baseada em fonte solar.
A outra discussão que se levanta diz respeito à eletrificação dos automóveis. Também os sucessivos governos promoveram, nomeadamente através de incentivos fiscais, a aquisição de veículos elétricos cujas vendas crescem semestre após semestre (segundo dados oficiais, a taxa de crescimento relativamente a período homólogo de 2023, foi de 10,8% no 1.º semestre de 2024). Quer isto dizer que o mercado está gradualmente a aderir aos veículos elétricos. Também nas viagens de agosto pelo país, verifico, enquanto utilizador de veículo elétrico, várias situações absolutamente contrárias ao espírito de desenvolvimento deste tão importante fator de diferenciação do nosso país.
1. Vários são os postos de abastecimento em autoestradas fora do litoral que não possuem qualquer posto de carregamento para veículos elétricos.
Essa é uma das situações onde o governo facilmente pode resolver de forma simples, condicionando as licenças, certificações e autorizações de serviço público de posto de abastecimento à obrigatoriedade de carregadores para veículos elétricos.
2. Várias são as vilas e cidades onde a maioria dos carregadores existentes (verifiquei por observação e contagem própria) onde apenas 1 em cada 6 funcionava. Questionando os funcionários dos locais desses postos de abastecimento (geralmente supermercados e postos de combustível) sobre há quanto tempo se encontram sem funcionar, a resposta foi invariavelmente a mesma: «Vários meses».
Também esta matéria deveria estar enquadrada numa regra de período máximo admissível para manutenção e reparação.
No Taguspark – Cidade do Conhecimento, existe a maior rede de carregadores de veículos elétricos por veiculo e por m2 do país. Conhecemos a volatilidade da robustez técnica dos carregadores de veículos elétricos. Contudo verificamos que a velocidade de resposta, na manutenção desses carregadores, é muito diferente quando comparamos os da nossa rede privada com os da rede pública no território do Taguspark.
Estas situações revelam que apesar do legislador estar, aparentemente, motivado para a promoção do uso de veículos elétricos, o conhecimento que aparenta ter da realidade é relativamente diminuto e por essa razão, uma área em que fomos ganhando posicionamento, demonstra na prática um desleixo a que Portugal se foi habituando a admitir em muito do espaço público. O desleixo é o oposto de competência e da obsessão em fazer bem feito. É o que acontece com a manutenção dos carregadores de veículos elétricos e é o que acontece com o pandemónio de lixo amontoado pela cidade de Lisboa, os sem-abrigo nos Anjos, na Av da Liberdade, nos diversos prédios de Lisboa com halls de entrada, no Cais do Sodré, em Santa Apolónia, das diversas estações de metro e de comboio, com particular destaque para Restauradores e estação Oriente, na Praça do Chile, em Belém e noutros vários locais esquecidos pela Câmara de Lisboa. Ou seja, o poder político falha no básico e falha no mais inovador e sofisticado.
Houston: We have a problem!
CEO do Taguspark, Professor universitário