«Oh que caraças! Agora, parti o vidro do meu carro». A exclamação é de Sousa Cintra, presidente do Sporting nos idos anos 90 do século passado, apanhado em direto – pela TSF – a tentar jogar pela janela do carro que conduzia uma «daquelas garrafas de atirar fora». «Estava aqui a falar consigo (…) Tinha acabado de beber uma água (…) Ía a passar ali por um… Atirei a garrafa fora» e o vidro estava fechado. Pelo que a vasilha de Águas das Pedras (de cuja empresa era então proprietário) obviamente fez estragos. «Como é que é possível fazer uma coisas destas (…) pensei que tinha o vidro aberto. Esta é inacreditável!».
A gravação pode facilmente encontrar-se na web e é hilariante. Mas, como o próprio Sousa Cintra admite, é mesmo ‘inacreditável’ e dá que pensar.
Com Jorge Nuno Pinto da Costa apeado por André Villas-Boas da presidência do FC Porto, no final da época finda, depois de Frederico Varandas ter sucedido a Bruno de Carvalho na liderança do Sporting e de Rui Costa ter rendido Luís Filipe Vieira no Benfica, esperava-se que o futebol português entrasse numa nova era, com a mudança de geração no dirigismo.
Com outra preparação, menos fanatismos e, principalmente, mais educação.
Aliás, a escolha de treinadores com perfis mais racionais e menos emotivos também augurava uma época finalmente disputada mais dentro do campo do que fora dele.
A contribuir para este otimismo, acresceu o facto de também a Liga portuguesa ter adoptado a regra de só o capitão poder interpelar o árbitro durante o jogo, que deu resultado no recente Europeu de França.
Regra, aliás, muito bem recebida pelos principais protagonistas do nosso campeonato, ainda que, numa primeira e bem humorada reação, Ruben Amorim tenha ironizado que, se já o soubesse quando escolheu Hjulmand, talvez tivesse mudado «para Nuno Santos, para ele não ser expulso». E mais disse que ele próprio iria tentar evitar refilar com os árbitros, sublinhando acreditar que «devagarinho chegamos lá».
Isso foi exatamente antes da final da Supertaça, disputada no sábado passado em Aveiro pelo campeão da época passada, o Sporting, e o vencedor da Taça de Portugal, o FC Porto.
Um jogo de futebol como há muito por cá não se via, com o Sporting a fazer jus à sua condição de favorito nos primeiros minutos (chegou ao 3-0 ameaçador de uma goleada), mas com o FC Porto a igualar a partida no tempo regulamentar e a assegurar a conquista de mais um troféu no prolongamento, beneficiando dos erros do adversário.
O pior soube-se a seguir, já depois de termos assistido ao amuo de Frederico Varandas, que mal o jogo terminou e começou a festa dos dragões cruzou os braços para não cumprimentar ninguém nem aplaudir os jogadores e equipas técnicas durante a subida à tribuna: nem os do seu Sporting, que deixaram fugir a vitória de forma quase inexplicável, nem os vencedores do FC Porto, por lamentável falta de desportivismo e fair play.
Uma jovem adepta leonina ficara ferida (viria a ser suturada com 30 pontos na cabeça) na sequência de ter sido atingida por um pedaço de vidro quebrado por Nuno Santos após o golo do FC Porto.
Não há imagens do momento. Mas circularam virais as que dão conta da comemoração de um dos golos do Sporting pelos seus jogadores que não foram convocados e assistiram ao jogo naquele camarote – e, mais do que efusivas, revelam exagerado fanatismo nas reações, com evidência para Nuno Santos, às palmadas e murros na separação envidraçada.
Obviamente que não é suposto ainda haver em estádios de futebol vidros de proteção que não sejam de segurança reforçada e cuja quebra possa representar semelhante risco. Mas a pancada para quebrar e projetar aquele vidro – que, como se viu, resistiu a muito no momento de comemoração filmado – tem de ter sido mesmo violenta (certamente a pontapé). O que não é admissível e muito menos a um jogador profissional.
Nuno Santos tem de saber conter-se nas suas reações. E não vai lá «devagarinho».
Como todos os protagonistas do futebol português têm de aprender a comportar-se melhor, a saber ganhar e a saber perder.
Ah, Ruben Amorim viu cartão amarelo aos 90+4 por não ter resistido a refilar com o árbitro.
Voltando a França, agora aos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Nesta segunda-feira à noite, já não havia mais provas a decorrer no Estádio de França e as medalhas estavam atribuídas, mas o sueco Armand Duplantis ainda não tinha dado por terminada a sua participação no concurso de salto à vara no Estádio de França.
Saltara até aos 6,10 m sempre à primeira e mandou subir a fasquia mais 15 cm. Já tinha ultrapassado o recorde olímpico do brasileiro Thiago Braz (ouro no Rio de Janeiro em 2016 com 6,03 m), mas queria bater pela nona vez o seu próprio recorde mundial (6,24 m alcançado em abril passado).
Ninguém arredou pé naquele estádio. E ninguém resistiu sentado a assistir ao último ensaio do sueco, acompanhando com um bater palmas cadenciado à medida que o atleta se aproximava do seu objetivo, até cravar a vara e empurrá-la até ao limite por forma a ganhar o impulso suficiente para voar por cima da fasquia a altura nunca antes vista.
Passou!!! No derradeiro ensaio, Duplantis bateu o recorde do mundo. A felicidade estampou-se na cara dele, na da namorada, na dos pais Duplantis e na de todos os que estavam naquele estádio. E houve festa. Com o segundo e o terceiro classificados (um americano e um grego) a felicitarem o campeão e a partilharem uma alegria contagiante.
Assim, vale mesmo a pena!
Há uma disciplina obrigatória nas escolas portuguesas com o nome de Educação para a Cidadania que tem dado muita polémica pelos conteúdos absurdos e desadequados à formação das nossas crianças e jovens.
Era bem melhor que se aproveitasse para termos mesmo… educação para a cidadania. Civismo.
Talvez chegássemos lá mais depressa.
E se já era urgente, caraças!