Está instalada a crise no setor do vinho. O consumo caiu e existe um excedente de produção. A garantia foi dada por fontes ligadas ao setor e confirmada ao Nascer do SOL pelo secretário-geral da Confederação de Agricultores de Portugal (CAP), Luís Mira. E lembra que esta situação não afeta só o nosso país e o responsável admite que há muitos produtores mundiais a arrancar a vinha. O aumento geral de preços causado pela covid-19 e pela guerra na Ucrânia trouxe preços elevados em algumas matérias-primas, como combustíveis e fertilizantes, e a somar há que contar com os aumentos nos seguros e os desafios provocados pelas alterações climáticas. «Países como França, Itália e Espanha estão a equacionar arrancar vinhas», salienta e pedem a Bruxelas incentivos para avançarem com destilação «temporária e excecional» para fazerem face a uma acumulação de stocks «sem precedentes». Para já, a Comissão Europeia atribuiu apenas 15 milhões de euros em compensações.
O montante do apoio é de 0,42 euros por litro, o que corresponde a 80% do menor preço estimado, tendo por base os dados disponíveis ao nível da produção na campanha de comercialização de 2023/2024. Já no caso do vinho produzido na Região Demarcada do Douro, ao valor referido no número anterior acresce um pagamento adicional de 0,33 euros por litro, num montante total de apoio de 0,75 euros por litro.
É de referir que este regime de apoio visa a produção de álcool destinado exclusivamente a fins industriais, incluindo produtos de desinfeção ou fármacos, ou para fins energéticos.
Outra dor de cabeça para os produtores é o facto de Portugal ser o quinto país do mundo que mais importa vinho a granel. Luís Mira recorda que, segundo as regras em Portugal, o vinho regional pode ter até ter 50% de vinho de outra região. «Como na Europa não há regiões pode ser espanhol, pode ser italiano como pode ser de outro lado qualquer, não estão a enganar ninguém porque a legislação permite isso, no caso do vinho regional», afirma ao nosso jornal. Situação diferente é se for vinho de Denominação de Origem Controlada (DOC) ou com outra denominação de origem. «Nestes dois casos não pode fazer isso», afirma.
É certo é que há muitos responsáveis do setor que se mostram preocupados ao considerarem que esta ‘proibição’ não é seguida à risca. Tanto que a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) se viu obrigada a reforçar o controlo da origem na vindima de 2024. E apertou as regras e procedimentos a seguir pelos produtores durante a vindima, «para proteção da origem e integridade dos vinhos da Denominação de Origem Protegida ‘Alentejo’ (vinho DOC) e Indicação Geográfica Protegida ‘Alentejano’ (vinho Regional)».
A CVRA explicita que este reforço de controlo «será focado nos agentes económicos que, durante a vindima, recebem uvas, mostos ou vinhos de diferentes origens nas instalações de vinificação localizadas no Alentejo». Francisco Mateus, presidente da Comissão, explica que «este reforço de controlo tem como objetivo principal a proteção da origem e integridade dos vinhos DOC Alentejo e Regional Alentejano através de procedimentos nas adegas e regras muito claras que contribuem para um controlo mais ágil e mais eficaz por parte das equipas da CVRA», destacando ainda que «o período de vindima é a altura mais crítica para fazer este controlo, porque há movimentações frequentes de uvas, mostos e vinhos, logo possibilidade de entrada nas adegas de produtos que não são originários da região, o que justifica intervenção rigorosa na defesa da origem Alentejo».
Aguardente ‘falsa’?
A vida não é mais fácil com os vinhos do Porto e da Madeira. Apesar de terem de usar, de acordo com a regulação europeia, aguardente de origem vínica, ao que o jornal apurou existem casos de destiladoras que estão a importar aguardente do Chipre, que é feita a partir de cereais – como arroz, milho, etc. – uma vez que, os preços são mais baixos. «O Chipre não tem produção de uva, logo seria impossível ser exportador de produtos à base de uva (centrados em Portugal, Espanha, França e Itália). Falamos de uma região com forte importação de cereais, daí a produção de álcool agrícola é trabalhado de modo a ser exportado para Portugal com o rótulo de ‘vínico’ e, assim, chegar ao Vinho do Porto ou, no caso de seguir para outros países, ao cognac», denuncia fonte do setor.
Recorde-se que, de acordo com os dados do INE e detalhados pelo Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP), mostram que as trocas comerciais de bens transacionáveis entre Portugal e Chipre representaram um total de 56,2 milhões de euros em exportações e 11,3 milhões de euros em importações no período de 2019 a 2023. Nas importações, um dos destaques vai para aguardente com um crescimento de 12%.
Esta já não é a primeira vez que algo deste género acontece na União Europeia. Há uns anos, uma destiladora da Geórgia fixou-se em Espanha para produzir aguardente para França e acabou por ser desmantelada pelas autoridades.