O Presidente Marcelo, à saída de um banho nas águas cálidas do mar algarvio e em pleno areal da praia de Monte Gordo, veio esta semana apelar a um pacto de regime para a Saúde, que é como quem diz para o SNS.As urgências continuam um caos, os casos de grávidas obrigadas a percorrer dezenas de quilómetros para terem acesso a uma maternidade repetem-se, e há ainda o caso dramático e polémico de uma jovem que sofreu um aborto espontâneo e chegou ao Hospital das Caldas da Rainha com o feto num saco de plástico.
E lá vieram as histéricas do regime clamar contra o novo Governo e a desgraçada da nova ministra da pasta, como se Ana Paula Martins em 100 dias pudesse ter tirado da cartola uma qualquer solução mágica para os problemas da Saúde que só se agravaram ao longo dos mais de oito anos de poder socialista e de ‘geringonças’.
Sim, como se a culpa do estado a que chegou o SNS fosse de quem acabou de chegar e não de quem por lá andou anos a desbaratar milhões sem explicação.
Adiante, que só para a frente haverá caminho. Muito embora haja que atalhar enquanto é tempo, porque também já se percebeu que nem tudo o que está mal foi herdado.
Num artigo de opinião em edição desta semana do jornal Público, Gandra d’ Almeida, que substituiu Fernando Araújo, veio falar de «Um SNS renovado e fortalecido».
Ou melhor, esse foi o título que o novo diretor executivo do SNS deu a um texto que se resumia a um mero enunciado de ideias e frases feitas sem novidade nem rasgo.
Estratégia e soluções… nem vê-las.
E, para quem fala em renovação e fortalecimento do SNS, o que dizer de a sua primeira nomeação, para presidente da ULS de Viseu, ter recaído num gestor com contradições nas notas curriculares publicadas em Diário da República e com registo de procedimento disciplinar com queixas de assédio por parte de antigas funcionárias?
Se atendermos ao facto de o dito gestor se enredar nas explicações sobre as tais contradições curriculares e de ter, sim, o cartão de militante do PS talvez se perceba melhor quais os critérios ou motivações da sua nomeação.
Um processo que não é abonatório para o próprio gestor, nem para o diretor executivo do SNS, nem tão pouco para a ministra, que foi a primeira a ter a coragem de assumir publicamente (em audiência na Assembleia da República) a existência de um problema de falta de qualidade e de qualificação na gestão dos hospitais.
Ora, não é com exemplos como este que se resolve o problema tão bem diagnosticado.
E não, não é só na Saúde ou no SNS. É mesmo um problema generalizado, que muito contribui para o facto de todos os serviços que asseguram funções do Estado estarem à beira da falência. Em toda a Função Pública, há maus dirigentes a mais e pessoal devidamente qualificado a menos.
Por algum motivo o crescimento significativo do Orçamento da Saúde – tão propalado pelo primeiro-ministro e pelo ministro das Finanças anteriores, António Costa e Fernando Medina – não se traduziu na melhoria dos cuidados prestados aos utentes.
E continuam a faltar médicos e enfermeiros, por mais que nos tenham dito que há mais não sei quantos contratados, mais vagas a concurso e por aí fora.
De facto, os números não enganam: a Função Pública continuou a crescer desmesuradamente na última década.
Mas a verdade é que faltam profissionais em todo o lado: não é só na Saúde que faltam médicos e enfermeiros; é na Educação que faltam professores, psicólogos, tradutores, pessoal auxiliar; é na Justiça que faltam juízes, oficiais de justiça, conservadores e oficiais de registos; é na Polícia que faltam agentes, como na AIMA não há quem dê vazão aos pedidos; como nos três ramos das Forças Armadas faltam mancebos; e nos bombeiros já nem há quem possa abrir uma porta inadvertidamente trancada; e os exemplos não têm fim. De facto, não há serviço ou repartição pública que não tenha falta de pessoal disponível para atender e bem servir o mais comum dos cidadãos.
Olhe-se para o que está a passar-se nos cuidados paliativos. Não há camas nem pessoal (seja médico, seja de enfermagem ou de qualquer outro tipo de acompanhamento) que cumpram os mínimos dos mínimos. O relatório divulgado esta semana pela Entidade Reguladora da Saúde é monstruoso. Como pode não se cuidar minimamente da incapacidade alheia, da doença, do sofrimento, da dignidade de quem já deu tudo o que podia dar?
É vergonhoso!!! Desumano!!! Inaceitável!!!
E as carpideiras do regime ficam quedas e caladas com o estado miserável em que se encontram (ou simplesmente não se encontram) os cuidados paliativos em Portugal.
Elas a quem não falta tempo de antena na casa da democracia e nas televisões e meios de comunicação social que recebem apoios do Estado e que não desistem de causas como a eutanásia, como se a única solução para os problemas da vida fosse apenas e só a morte.
Já não há paciência para ouvir essa espécie de classe político-comentadora encartada na arte da indignação, na negação de princípios e valores tradicionais e na defesa de causas fraturantes a quem pouco ou nada importam a vida, a dor e a dignidade alheias. E que, em nome de um suposto coletivo, eleva ao seu expoente máximo a um egoísmo amoral.
Façam o favor de se indignarem com o estado a que Estado chegou! Porque é catastrófico.
É como se houvesse em Portugal uma barragem daquelas bem antigas em risco de rutura total e toda a gente continuasse a assobiar para o lado.
(E não é que por acaso até há?! Santa Luzia!!!)