O jogo da Supertaça mostrou algo que me pareceu óbvio – o que não quer dizer que esteja certo, aliás porque não faço questão de viver de certezas e se assim fosse a vida não tinha piada nenhuma. Refiro-me à forma como, durante a primeira parte, a superioridade leonina foi de tal monta que abafou por completo o seu adversário e só não ganhou por uma goleada de apavorar hipopótamos porque Debast e Kovacevic resolveram insuflar uma nova vida ao_FC_Porto com uma daquelas barracas à antiga, todas as às risquinhas como é próprio da Barra e da Costa Nova.
Cabe-nos a nós, críticos, debruçarmo-nos a posteriori, não apenas sobre os acontecimentos mas também sobre o resultado que fica por cima desses acontecimentos. E, neste caso, registou-se a vitória portista por 4-3 e a consequente conquista do primeiro troféu da época. Vamos por partes. A forma como o_Sporting pisou duramente o opositor, golpeando-o agressiva e contundentemente, deixando-o como um pugilista sem fôlego, encostado às cordas e à beirinha de um_KO prematuro, foi deveras impressionante e mostrou à sociedade que o ataque de Rúben Amorim está melhor do que nunca. Apenas as fragilidades da defesa sportinguista impediram que o jogo ficasse fechado ao intervalo, demonstrando por seu lado que ainda está muito longe de ser inteiramente fiável.
Faço um desvio na interpretação do que aconteceu no Estádio de Aveiro e entro pelo campeonato nacional no qual, frente a adversários de meia-tijela, como são quase todos desta liga transformada numa verdadeira fraude pela absurda administração chefiada por Pedro Proença – tão, tão cego pela sua insuportável vaidade que parece recusar-se a perceber os ínvios caminhos pelos quais se tem arrastado e ainda tem o descaramento de se apresentar como elegível para a presidência da Federação Portuguesa de Futebol («Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?», escreveria Cícero nas suas catilinárias, só alterando o sujeito da frase) – os leões escavacaram os seus três adversários até ao momento somando o exagero de 14 golos marcados. Ora tubérculos! Só mesmo os fanáticos empedernidos verão, sedentos de sangue, estes espetáculos circenses travestidos de jogos de futebol. Não tenhamos medo das palavras: a principal prova do futebol português tornou-se degradante a ponto da náusea.
Desfez, portanto, o Sporting os pichotes que lhe surgiram pela frente e a culpa não é do Sporting, pelo contrário. Conseguiu Rúben Amorim montar um conjunto que também fez gato sapato do FC_Porto durante a primeira parte do jogo da Supertaça. Em seguida, só um toque de pouco aceitável sobranceria e erros da tal defesa que é o calcanhar de Aquiles do grupo, fizeram com que os portistas dessem a volta ao resultado até atingirem o 4-3 final. Uma proeza que terá inflacionado o orgulho dos moços de Vítor Bruno mas que não reflete, na minha opinião – e é só minha – a real diferença entre as duas equipas.
Não repetir erros…
Aceitemos que, mais uma vez, o Sporting se apresenta como favorito neste jogo de amanhã, pelas 20h30, em Alvalade. Estou convencido que, sem as barracas de Aveiro, os leões ganharão com naturalidade, a menos que tenham ficado com algum complexo difícil de resolver até pelo dr. Sigmund Schlomo Freud. Vamos e venhamos: se a equipa de Rúben Amorim não conquistar este campeonato que entrou agora em disputa com uma perna às costas é porque o jovem técnico ainda está muito mais distante do que eu pensava de atingir a maioridade como treinador. Se os adeptos e a direção de Frederico Varandas deram de barato aquele quarto lugar que se seguiu ao anterior título, desta vez não há nada que minimize um descalabro dessa envergadura, até porque os seus adversários diretos (mas existem mesmo adversários diretos para o_Sporting?) estão mais frágeis do que nunca – o FC_Porto embrulhado numa crise financeira terrível, o Benfica à toa, sem treinador e sem equipa.
À beira da primeira interrupção da prova para que a seleção nacional faça mais dois joguinhos de pacotilha, é mais do que tempo para o leão rugir a sua absoluta superioridade e dar desde já um golpe decisivo no caminho rodeado de margaridas e gipsofila em direção ao bicampeonato que brilha ao longe com o fulgor do sol nascente. Com uma vitória amanhã deixa o FC_Porto a três pontos e, muito provavelmente, o Benfica, que visita esta noite o Moreirense, a cinco ou seis, porque só mesmo a ingenuidade confrangedora de Roger Schmidt, aliada à sua incompreensão da realidade na qual se submergiu, pode levar alguém a colocar um dois no totobola. Claro que, nestas coisas de se ser melhor, não basta bradar aos quatro ventos. Não é aos gritos e a bater com os punhos no peito que os sportinguistas vão provar que são campeões por antecipação, ainda que se prevejam, jornada a jornada, muitas goleadas como as que conseguidas até aqui. É preciso entrar em campo e ganhar. Quando não por muitos, talvez por poucos e de aflitos. Mas o jogo de amanhã será de inequívoca importância e, ao mesmo tempo, demonstrativo da resistência que os meninos de Vítor Bruno podem apresentar em ambientes adversos como o que vão encontrar. De resto, siga-se a máxima do grande cronista Mário Filho: «São melhores? Então mostrem-no. Se não a malta começa a desconfiar».