Uma das imagens de marca de Eriksson diz respeito ao chapéu arredondado a fazer publicidade ao brandy Macieira que o treinador não prescindia de usar na cabeça, até por razões contratuais. Diogo Saraiva e Sousa, então diretor de vendas da Seagram, não se recorda de quem partiu a ideia, mas sabe que nas reuniões com o treinador ficou logo com a impressão de que estava perante «uma pessoa fantástica, encantadora». «Não sei se a ideia partiu do patrão, José Joaquim Machado Leite, se do marketing ou da agência de publicidade. Sei é que foi um êxito estrondoso e que, de repente, havia milhões de chapéus assinados pelo Eriksson – toda a gente andava com um na cabeça – quando nós não tínhamos feito tantos. Ainda chegámos a pensar apresentar queixa, mas depressa percebemos que estavam a fazer publicidade à marca. E o Eriksson é que podia apresentar queixa pois ele fez um contrato que dizia respeito a um número limitado de chapéus, mas nunca quis saber disso, e nós não podíamos fazer nada».
«Na altura, a Macieira era a bebida espirituosa mais vendida em Portugal, mas com a campanha ainda passou a vender muito mais. Tenho ideia que se vendiam entre 400 a 500 mil caixas de Macieira por ano», recorda Saraiva e Sousa. «A última vez que o vi foi no 11 de março de 2004, no aeroporto de Barajas, em Madrid, no dia do atentado. Eu vinha de Cuba, com o Gigi, e encontrámo-lo sozinho no aeroporto. Ficámos horas à conversa, apesar das preocupações, motivadas pelo atentado. Os aviões estavam todos em terra e não se sabia o que se passava».
Já Bernardo Reino, dono do restaurante Gigi, na Quinta do Lago, recorda-se dos almoços intermináveis do treinador sueco com o amigo Toni, o seu «best friend». «Ele era um ‘chamador’ de clientes, pois recomendava-me aos seus amigos italianos, dizendo o melhor do restaurante.Quando foi selecionador de Inglaterra ‘obrigou-me’ a abrir o restaurante à noite para fazer um jantar especial para a equipa que estava a estagiar no Algarve. Morreu um homem bom, que representava os tempos do glorioso, quando o futebol era mais emoção e alegria e não havia tantos especialistas».
Demasiado novo?
Quem também o conheceu bem foi Raul Martins, filho do lendário presidente benfiquista Fernando Martins. «Recordo-me muito bem de quando ele chegou.Tinha vencido a Taça UEFA pelo Gotemburgo, aos 33 anos, e um jornalista questionou o meu pai: ‘Não acha que Eriksson é muito novo para ser já treinador do Benfica, quando não se sabe se ele é bom ou não?, ao que o meu pai respondeu: ‘Olhe, se ele com 33 anos não for bom, nunca será bom na vida. Portanto, isso para mim está resolvido’».
Eriksson e Fernando Martins criaram uma amizade que ficou para a vida, e não raras vezes encontrava-se com o presidente na sua quinta na Labrugeira, onde, por vezes, também levava a equipa. «Eu estava lá e assistia. Recordo-me de se estar a discutir a compra de jogadores e o meu pai dizer que o jogador X era bestial, que jogava muito bem, e por aí fora, e o Eriksson respondia: ‘Senhor Mártins, é preciso ver a cabeça, o homem, não é só se ele é bom jogador, temos que saber se ele como homem é bom’. Outra história engraçada foi quando o Benfica perdeu a Taça UEFA para o Anderlecht, e o meu pai o questionou: ‘Então Eriksson, não ganhámos, assim e assado’. E ele respondeu: ‘Senhor Martins, temos de ter no meio campo um homem alto para as bolas altas não passarem por cima, como aconteceu com o João Alves, que era o maestro da equipa’. Foi assim que veio o Stromberg para o meio campo, porque era alto, para as bolas não passarem facilmente. O Stromberg foi muito importante para o Benfica, como o Magnusson, o Manniche, todos jogadores escolhidos por ele, não era mais ninguém».
«Era um charmoso, muito educado e muito respeitador dos outros.Mas era muito incisivo e concreto», conclui.