Depois de ouvir a ministra da Igualdade Margarida Balseiro Lopes, usar a expressão «pessoas que menstruam», numa linguagem moderna, inclusiva e científica, decidi que também gostaria de ter essa experiência sanguinária. Se, afinal, o sexo é uma construção patriarcal e fascista, a natureza e a evolução nunca existiram e basta considerarmo-nos mulheres, ou homens, ou golfinhos, para o sermos, logo, por mera curiosidade, também me julgo no direito de ter umas gotinhas de menstruação.
Já deitei sangue pelo nariz, mas, segundo dizem, não é bem a mesma coisa.
O objetivo da minha experiência menstrual é compreender melhor o sexo feminino que não se sente homem ou golfinho. Aliás, se todos os homens deste mundo, sobretudo os mais brutos e violentos, experimentassem as dores e os incómodos da menstruação, se tivessem de enfiar um tampão sabe-se lá onde, a discriminação e a violência sobre as mulheres poderia ser um resquício de um passado bárbaro.
Imagine-se um Taliban menstruado.
Em Portugal, depois de tantas campanhas contra a violência conjugal e no namoro, o número de agressões contra mulheres parece estar a aumentar em vez de diminuir. Na SIC Notícias de Fevereiro deste ano, leio o seguinte: «Do total dos jovens participantes num novo estudo, 68% não consideram violência no namoro comportamentos de controlo nas redes sociais, pressão para beijar, insultos ou empurrões e bofetadas sem deixar marca». Ora, como a maioria dos agressores são rapazes que se sentem rapazes e a maioria das vítimas são meninas que se sentem meninas (o estudo não refere o número de agressões entre os que se sentem golfinhos e cachalotes), logo torna-se imprescindível pôr estas bestas a menstruar.
O problema é a colisão entre a linguagem e a realidade. A realidade só pode ser patriarcal porque se recusa a obedecer à linguagem. Ou seja, os homens têm muita dificuldade em menstruar. À exceção da dinastia Quim da Coreia, entre cujas proezas mirabolantes se conta certamente a capacidade menstruar quando quiserem, parece que ainda nenhum homem o conseguiu fazer. Há quem consiga levitar, mover objetos com o poder da mente e, mais difícil ainda, acreditar que o verdadeiro Comunismo nunca existiu. Mas as tais pinguinhas de sangue na cueca, isso é que não.
Mas, alto, que pode estar a acontecer um fenómeno! Neste momento em que escrevo estou a sentir uma impressão no estômago que, noutros tempos associaria à fome, mas quem sabe não se não é mesmo o prenúncio de uma sangria menstrual. Pelo sim, pelo não, vou já para a farmácia.