Crimes para a história      

As histórias de crimes reais continuam no topo das preferências: tornamo-nos juízes e advogados, substituindo a beca e a toga pelo pijama de trazer por casa.

As histórias de crimes reais continuam a estar no topo das preferências. Seja pela tentativa de perceber o perfil do criminoso, seja pela motivação do crime ou pelo seu desfecho, tornamo-nos juízes e advogados, substituindo a beca e a toga pelo pijama de trazer por casa. Nas plataformas de streaming, cada nova entrada de um documentário, série, seriado ou filme de crimes é praticamente sinónimo de sucesso garantido, com acesso direto ao lugar mais alto do top dos conteúdos mais vistos. Entre os mais recentes e chocantes estão, por exemplo, as reconstituições das atrocidades perpetradas pelo canibal americano Jeffrey Dahmer ou pela calculista brasileira Suzane Von Richthofen. Mas casos não faltam e, ainda antes, programas em canais por cabo, como Presos no Estrangeiro, mostravam o gosto por narrativas verdadeiras que acompanhavam prisioneiros que ficavam em algumas das penitenciárias mais perigosas do mundo bem longe de casa. Sendo histórias verídicas, recuperando nalguns casos os protagonistas na primeira pessoa, a fórmula de sucesso estava garantida, resultando o formato num total de 15 temporadas.

Mas se para muitos a prisão pode ser a última morada, as fugas compreendem normalmente outra parte da saga. Nos últimos dias, o caso dos cinco fugitivos da prisão portuguesa de Vale dos Judeus  fez reavivar algumas das fugas mais espetaculares da história. E são realmente capazes de impressionar, sobretudo na perspetiva do que alguns destes reclusos poderiam ter construído caso as suas capacidades tivessem sido aplicadas no lado certo da vida. Mas isso agora é irrelevante.

O que não deixa também de ser admirável é o facto de as fugas levantarem cada vez mais dúvidas por a simplicidade destas contrastar com um mundo tecnológico, onde a probabilidade de dar dois passos sem se ser sinalizado é diminuta.

Mas enquanto o mundo avança e a inteligência artificial domina o mercado das telecomunicações, com promessas de uma linha cada vez mais ténue entre a vida real e a realidade virtual, os smartphones aparentemente vão continuar como aparelho indispensável para partilhar momentos nas redes sociais, mesmo quando se trata de festas em estabelecimentos prisionais – ainda está bem presente na memória de todos a celebração, com direito a transmissão em direto no Facebook, diretamente da cadeia de Paços de Ferreira.