Como está a correr a atividade turística no Alentejo? No primeiro semestre assistiu-se a um crescimento nos proveitos e nas dormidas e em relação ao verão?
Ainda não temos a visão completa do verão, só vamos ter provavelmente no final de setembro quando o INE revelar a estimativa rápida de agosto. Continuamos a crescer, estamos a crescer no acumulado dos primeiros sete meses 4,4%, mas há uma desaceleração do crescimento ao longo do ano, especialmente a partir de julho e mais nas dormidas dos portugueses. No entanto, costumo dizer que não vamos conseguir crescer sempre na casa dos dois dígitos. Recordo que o Alentejo, entre 2013 e 2023, foi a região turística do país que registou maior crescimento médio anual na procura: o dobro da média nacional. Em 2024 vejo como muito positivo que a região continue a crescer sobre o resultado de 2013 que foi o melhor de sempre. Houve uma desaceleração, como disse, no mês de julho e foi mais visível no mercado das dormidas dos portugueses. Há fatores que explicarão esse abrandamento que, aliás, é um abrandamento registado um pouco por todo o país e é a primeira vez desde a pandemia que o mercado nacional cai compensado, em parte, pelo crescimento de cerca de 4% no total do país pelo mercado externo. Estamos otimistas em relação aos resultados referentes ao mês de agosto e de acordo com as informações que temos dos operadores hoteleiros admitimos que os próximos dois meses – setembro e outubro – vão ser bons para o turismo da região.
Houve várias notícias que apontavam para o aumento de preços no Algarve em agosto, valores quase proibitivos para os portugueses. O Alentejo foi visto como uma alternativa?
Temos procurado que o Alentejo seja visto como uma alternativa às outras regiões, ainda temos um longo caminho para fazer. Se olharmos para os dados de 2023 houve 23 milhões de dormidas de portugueses no país e a quota do Alentejo é de cerca de 10%, o Norte e o Centro têm quotas de 20% sensivelmente, o que mostra que temos um espaço grande de progressão em termos de mobilização de turistas nacionais. Aliás, no ano passado, o Alentejo foi a região do país que cresceu mais junto do mercado interno à volta 9,5% , este ano, a julgar e olhando para o mês de junho tivemos uma ligeira redução de 0,6% e penso que só Lisboa e a região de Setúbal é que não baixaram, mesmo assim, o Alentejo foi das regiões que melhor aguentou. O objetivo é posicionar o Alentejo como destino preferido dos portugueses e estamos a trabalhar para isso. É nesse objetivo que se enquadra o trabalho de promoção que fizemos no ano passado, que estamos a realizar este ano e que vamos realizar para o próximo, em que vamos ter como expoente máximo ser o destino convidado da Bolsa de Turismo de Lisboa, em março do próximo ano.
Mas acredita que o Alentejo tenha “roubado” turistas à região concorrente?
No passado, creio que a região foi muito competitiva e os empresários foram muito inteligentes em fazer algum ajustamento em termos de preço, nomeadamente em agosto e setembro. O mês de julho foi difícil e é notório que os portugueses voltaram a viajar mais para fora. A nossa expectativa é que terá havido uma recuperação no mês de agosto e os meses de setembro e outubro serão muito bons e serão acompanhados pelo aumento do crescimento do mercado internacional. O mercado internacional no Alentejo cresceu em junho 14% e foi a região do país que mais cresceu em termos de dormidas internacionais. A nossa expectativa é que nos próximos meses haja uma aceleração porque os mercados internacionais são muito importantes. Como costumo dizer se imediatamente a seguir à pandemia foi o turismo nacional que sustentou largamente o crescimento do turismo no Alentejo então agora vamos precisar que os mercados internacionais, especialmente alguns europeus que estão estagnados, possam crescer já que ainda estamos a cerca de 2,1% da quota de representatividade do mercado externo que existia antes da pandemia. Portanto, precisamos de recuperar quota de mercado internacional, continuando obviamente a crescer no mercado nacional. Ou seja, precisamos de crescer mais depressa no mercado internacional do que no mercado nacional, mas, obviamente, nos dois segmentos.
Está identificado o motivo desta quebra?
No mercado internacional crescemos mais em junho do que em julho. Há o mercado do mercado norte-americano que continua a ser muito representativo, mas não é um mercado que procure o Alentejo em julho. O mercado canadiano também é muito importante e o crescimento médio anual desses mercados para o Alentejo nos últimos 11 anos tem sido impressionante, o mercado americano já representa 3,7% da quota de todos os mercados da região. Houve uma redução de quase 10% no mercado espanhol, o que é uma preocupação já que é de proximidade. A partir do final deste ano vamos trabalhá-lo numa lógica de mercado interno alargado, ainda assim, continua a ser o nosso principal mercado externo. No passado tivemos mais de 240 mil dormidas, depois surge o mercado norte-americano que anda à volta das 120/125 mil dormidas. Mas de facto estamos a ter uma redução de dormidas no primeiro semestre de quase 10% e precisamos de recuperar. Os espanhóis estão a desaparecer de algumas regiões do Alentejo e é um mercado que está aqui à mão. Felizmente, com o apoio dos Fundos Estruturais da União Europeia temos uma campanha que irá para o ar ainda este ano para trabalhar o mercado fronteiriço, fundamentalmente as regiões da Andaluzia e da Extremadura que será complementada com as campanhas do Turismo de Portugal. Depois o mercado alemão não está a crescer tão rapidamente quanto pensaríamos e há algumas nuvens negras que pairam sobre a economia alemã que para já felizmente não estão a chegar à restante economia da União Europeia. O mercado francês continua a baixar desde a pandemia, mas é geral para o país, não é uma situação específica para o Alentejo. Cerca de 70% das nossas dormidas estrangeiras estão na Europa.
Em relação ao preço poderá haver alterações para ser mais atrativo?
O Alentejo registou no ano passado o terceiro rendimento por quarto vendido mais alto, o que talvez tenha sido uma surpresa. Os empresários vão ter de perceber qual é a política de preços que deverão seguir. Os proveitos de aposento continuam a crescer, aliás estão a crescer mais depressa do que os proveitos totais e não vejo a curto/médio prazo grandes possibilidades de abrandamento ou de redução de preços do alojamento turístico. No entanto, isso é uma decisão que compete às empresas. E o Alentejo tem um determinado posicionamento de mercado que torna difícil uma redução de preços muito significativa.
O Alentejo é um destino caro….
Pela grande qualidade da oferta que apresenta, quem quer qualidade vem para o Alentejo. Acho que essa é a grande decisão que o turista tem de ter, não quer dizer que não haja qualidade nos outros destinos nacionais e regionais, claro que há, mas o Alentejo tem um contexto de território, um contexto de paisagem e de produto que é muito distintivo. O luxo no Alentejo não é necessariamente um luxo que, às vezes, associamos a marcas internacionais , é um luxo do silêncio.
Não é só a Comporta…
Não é só a Comporta e mesmo a Comporta tem uma série de experiências. Posso fazer um passeio de cavalo na areia da Comporta, mas não tenho necessariamente de ficar em alojamentos com diárias de 800 a 900 euros. Por isso mesmo, os portugueses e o turismo internacional olham para o Alentejo como sinónimo de qualidade e isso dá a possibilidade aos operadores de terem preços acima da média. No ano passado tivemos um crescimento de proveitos de 16% face a 2022 e não acredito que este ano o crescimento de proveitos sobre 2023 seja muito inferior. Os preços não estão a baixar, acho que se estão manter e há casos que até estão a aumentar. O aumento de receita, muitas vezes, compensa uma ligeira redução da taxa de ocupação e é isso que temos estado a assistir no Alentejo nesses primeiros sete meses ano. É certo que o Alentejo tem uma multiplicidade de destinos e se há empresas que precisam de mais volume há outros conceitos hoteleiros que podem fazer outra gestão.
É por isso que o Alentejo na campanha de promoção agora aposta no gin e no surf? É para atrair outro tipo de turistas?
Por um lado, temos um marketing mais aspiracional. Estamos a lançar a atualização do nosso estudo de perfil do visitante porque o último data de 2012. Claro que vamos tendo informações do nosso observatório e de dados dos operadores e temos a noção que estamos a captar um turismo mais jovem. O turista que visita o Alentejo ainda está no perfil etário de 30/35 anos, articulado com o de 55, famílias e alguns seniores, mas estamos a começar a ter casais mais jovens 24/ 29/30. O Alentejo não é um destino com uma oferta muito adaptada para segmentos mais jovens como há, por exemplo, em algumas zonas do Algarve. Isso é algo que também temos de começar a trabalhar em termos da nossa oferta, mas esse caminho está a ser feito. Por exemplo, estamos a ter uma propagação de gins em quase por todo o território, estamos a pensar em preparar o Festival do Gin Alentejano e até temos o único parque temático de gin do mundo em Santiago do Cacém. Na campanha do ano passado avançámos com o gin e não com o vinho, nesta campanha de verão colocámos as duas realidades, tal como a questão dos desportos náuticos. Não é só no litoral, mas também no Alqueva com as nossas estacões náuticas do Alto Alentejo interior que chamamos o Alentejo azul porque sabemos que há um segmento de mercado que, por vezes, resiste muito ao calor alentejano que é muito intenso nos meses de julho e de agosto. O Alentejo tem um litoral fantástico e diferente, a sul de Sines mais selvagem, mas também com muita qualidade e depois o litoral mais cosmopolita, mais sofisticado aqui e ali, muito direcionado para um segmento premium de luxo, nomeadamente na zona da Comporta e depois com spots menos conhecidos que estão a emergir. É o caso do Parque Natural da Serra de São Mamede, onde começam a surgir projetos muito interessantes. Também Évora tem três investimentos muito interessantes para o turismo: a Capital Europeia da Cultura 2027, o novo Hospital Central que vai criar cuidados de saúde e vai evitar que não só os residentes, mas também os turistas evitem uma deslocação a Lisboa e a ligação Sines/ Évora/ Elvas/ Caia que vai permitir ter alta velocidade a passar para o Alentejo. Também estamos a apostar muito na candidatura do Baixo Alentejo a cidade europeia do Vinho. Portanto, temos um Alentejo autêntico, diverso, cosmopolita que quer ser mais moderno, mas que se mantém fiel à sua identidade e à sua autenticidade.
Em relação ao mercado internacional prevê captar cerca de 40% em 2030. É uma meta realista ou é ambiciosa?
Claro que há determinadas condições que têm de ser satisfeitas para que isso seja possível. O Alentejo tem muitos problemas em termos de acessibilidades, Portalegre é a única capital do distrito de Portugal que não é servida por uma autoestrada, na zona do Baixo Alentejo continuamos a não ter o IP8 com perfil de autoestrada que liga a A2 até Beja e depois a ligação ao aeroporto Beja e ligar Beja à fronteira, entrando em Espanha. Veja as vantagens que existem, por exemplo, para recuperarmos o mercado espanhol. Depois está no plano ferroviário nacional a eletrificação da linha Casa Branca/Beja, assim como também é muito importante a reabertura da ligação de Funcheira a Beja, uma ligação que fazia muito na minha infância adolescência que entretanto fechou. E depois a ligação de Sines à A2, o concelho de Sines em dois anos duplicou a sua capacidade hoteleira e temos também o grande investimento industrial do porto de Sines e é preciso termos uma ligação por autoestrada. Exigimos que se façam todos estes investimentos em acessibilidades. Para mim não é tão importante haver ou não isenção de portagens, o que é importante é que estas infraestruturas sejam construídas para que depois possamos beneficiar e que essa meta de 40% seja realista. Mas implica ter esse conjunto de pressupostos: melhoria das acessibilidades à chegada à região, aproveitarmos a rede de alta velocidade – mas é preciso que o comboio de alta velocidade pare em Évora e isso ainda não está decidido – e é preciso que o aeroporto de Beja que já está com um nível muito interessante aviação executiva também possa desenhar um plano de aproveitamento turístico. É preciso também aproveitar a Capital Europeia da Cultura de 2027 em Évora. Sabe-se que, desde meados de 80, que a seguir a todas as capitais europeias da cultura, o turismo cresce quase o dobro. Mas é preciso trabalhar o legado para que isso possa acontecer porque também há capitais de cultura, em que as dormidas baixam porque há um cansaço do mercado e isso tem de ser trabalhado em termos de marketing, etc. Temos de reforçar finalmente a promoção no mercado internacional porque vai impulsionar muitos dos investimentos que estão a ser feitos. O mercado nacional tem sempre uma limitação em termos de crescimento, disse que tínhamos 10% de quota, obviamente que gostaria que o Alentejo crescesse mais, mas temos a noção que o grande crescimento que a região pode fazer é pelos mercados externos.
Em relação ao aeroporto de Beja. O que pode ser feito para rentabilizar esta infraestrutura já que poderia ser uma porta de entrada importante para o turismo externo?
Foi muito importante quando a comissão técnica independente avaliou esta infraestrutura, claro que, pelo menos, as pessoas mais sensatas já sabiam que o aeroporto de Beja nunca poderia ser o aeroporto complementar à Portela, desde já porque não tem as tais acessibilidades que são fundamentais. O turismo do Alentejo em 2024 é muito diferente de 2011 quando o aeroporto foi inaugurado ou quando, na altura, se fez um estudo de captação de rotas para uma região turística em que tinha menos camas do que a freguesia de Fátima. Hoje o Alentejo tem 30 mil camas, tem camas muito qualificadas, tem projetos em pipelin, quer em quantidade, quer em qualidade que vão melhorar ainda mais a nossa promessa de valor. O aeroporto é muito procurado já pela aviação executiva. Claro que 90% do tráfego da aviação executiva que aterra vai para a zona do litoral, nomeadamente para a Comporta, mas começa a haver algum interesse, ainda tímido de alguns operadores em relação ao aeroporto de Beja. O que acontece é que o aeroporto de Beja não tem um plano de marketing. Costumo dizer que Santarém não tinha aeroporto mas tinha um excelente marketing e nós no Alentejo temos um aeroporto mas não temos um plano de marketing. O que vamos fazer? Não temos verbas para fazer um plano de marketing e quando falo com o secretário de Estado do Turismo ou com Ministro da Economia não tenho um documento que sintetize aquilo que são as forças e as linhas de ação do aeroporto de Beja. Vamos fazê-lo, contratámos uma equipa de consultores que conhece muito bem o tema e vamos fazer várias reuniões com a Vinci, com as câmaras municipais, com os operadores hoteleiros. Qual é o nosso objetivo? Até ao final do ano, queremos apresentar um pequeno memorando de 30, 40 páginas ao Ministro da Economia e ao Ministro das Infraestruturas da nossa visão sobre a vocação e a função comercial que o aeroporto deve ter. No final do ano veremos que pistas e que linhas de ação serão possíveis. Uma coisa é certa só um destino turístico burro, peço desculpa pela expressão, que não seja inteligente que tem um aeroporto dentro de casa não procure explorá-lo. Acredito que possamos no futuro ter linhas de desenvolvimento que ajudem a aumentar o turismo internacional via aeroporto de Beja na região.
A infraestrutura existe…
Repare na reação do treinador da seleção escocesa quando aterrou em Beja, claro que o futebol é muito especial porque, obviamente, estava preocupado com o cansaço dos seus atletas. Mas temos alguns grupos e alguns voos charter que aterram em Beja e que dão um feedback super favorável e super positivo do aeroporto. E a aviação executiva também. O aeroporto precisa de algumas obras, nomeadamente da pista para poder assimilar voos comerciais ou voos comerciais com maior frequência. É preciso investimentos, não só em acessibilidades, mas também no aeroporto. É certo que a Vinci está a fazer investimentos porque tem de ter todas as suas pistas devidamente certificadas, mas são precisos mais investimentos e são precisos mais investimentos fora do aeroporto, nomeadamente nas acessibilidades. É preciso colocar na ordem do dia que o aeroporto de Beja pode ser uma infraestrutura comercial que sirva os interesses dos operadores e o turismo do Alentejo e em 2024 é mais fácil e mais viável esse caminho do que era em 2011. É isso que vamos fazer em conjunto com todas as entidades para chegar no final do ano ao tal memorando para que possamos apresentar ao Ministro das Infraestruturas e ao Ministro da Economia e no qual todos os operadores e todas as entidades públicas e municípios, especialmente o Baixo Alentejo, se possam rever.
Outra aposta passa por captar nómadas digitais para a região…
Olhamos para um contexto de oportunidade que foi a saída muito noticiada dos nómadas digitais, por exemplo, de Lisboa. Um nómada digital procura muito uma experiência cultural autêntica e houve de facto uma saída das zonas metropolitanas e uma procura do interior. Não quisemos avançar com um projeto sem estar sustentado num estudo de viabilidade, até porque temos a noção que os nómadas digitais não são propriamente um segmento de mercado que vemos todos os dias nos restaurantes. Tivemos de identificar onde é que estão no Alentejo e depois propor cinco hubs. Neste momento temos o estudo de viabilidade pronto, estamos a apresentá-lo às comunidades intermunicipais que são nossas parceiras no projeto e queremos apresentar ainda este ano uma candidatura ao Turismo Portugal para então implementar um plano de comunicação e de atração de nómadas. Escolhemos cinco hubs porque sabemos que, além da infraestrutura digital que é absolutamente decisiva é preciso ter alojamentos e restaurantes com horários e preços flexíveis e uma agenda de eventos. É muito importante termos uma figura do gestor cultural, pois não nos interessa ter nómadas digitais que passem o dia fechados. Há uma ideia errada de que o nómada digital é só aquele profissional ligado às tecnologias de informação, pode ser um publicitário, pode ser um artista que procura estar dois ou três meses a viver numa região portuguesa, a trabalhar, mas também a consumir. A consumir alojamento, a consumir refeição, mas também quer se integrar com as comunidades, quer participar nos eventos, quer conhecer as pessoas e, às vezes, até pode querer participar ou contribuir para as causas sociais. Vamos ter uma figura que é o mediador social que vai fazer a integração entre os nómadas e a comunidade, claro que para isso é preciso trazer os nómadas. É esse o nosso esforço. Claro que há zonas, nomeadamente Porto Covo e Milfontes, onde vamos também trabalhar este tema, onde eles já estão e já sabemos ao longo do ano quais são os períodos onde estão mais, mas queremos que eles possam integrar-se mais na comunidade e dar mais à economia local do que dá, mas para isso é preciso ir buscá-los. É um programa muito voluntarista, mas como disse recentemente um estudo da Fundação Manuel dos Santos ninguém espere que os nómadas digitais resolvam o problema do despovoamento do interior. Claro que não, é um programa que queremos desenvolver nos próximos três anos. Não estamos à espera de grandes contingentes de nómadas digitais, mas entendemos que nos podem ser úteis, principalmente para ocupar muito alojamento e muita restauração, especialmente em zonas e alturas do ano com menor procura do turista tradicional.
Em relação à imigração. Como vê as alterações avançadas pelo Governo já que o setor vive desta mão-de-obra?
Por um lado, temos de gerir melhor a entrada, creio que essa é a noção dos portugueses e acho que desse ponto de vista as medidas do Governo parecem bastante equilibradas. Claro que em áreas como o turismo que tem vivido nos últimos anos com mão-de-obra estrangeira poderá causar algumas dificuldades, mas creio que o setor e as associações empresárias se adaptaram a isso. Fiquei muito satisfeito pelo facto de o Governo, no âmbito do Programa Acelerar a Economia – que conta com 60 medidas fiscais e económicas – ter anunciado um programa de integração dos migrantes e dos refugiados, uma medida que tem de ser calendarizada e orçamentada. Não quero ser injusto com ninguém, mas pelo que passou na opinião pública nem todos conseguiram acolher e reintegrar tão bem a mão-de-obra imigrante e o turismo sendo uma indústria de pessoas deve ter um papel muito relevante. O plano que o Governo anunciou de integração de mão-de-obra imigrante e dos refugiados parece-me muito interessante, no entanto, conhecemos o anúncio, mas não conhecemos os detalhes. Devemos estar muito focados e as entidades regionais do turismo devem ter um papel muito importante nesta matéria porque este programa, na minha opinião, tem de ser territorializado. No Alentejo hoje, como um pouco por todo o país, é absolutamente decisivo para sustentar o turismo, mas é preciso criar um plano de integração. Infelizmente, os municípios, na maior parte dos casos, não têm conseguido criar centros de fixação de migrantes ou ter uma política de acolhimento. É um desafio global do país.
Estamos quase na véspera de apresentação do Orçamento de Estado. Que medidas defende para o setor?
Em primeiro lugar, o meu desejo é que todas as medidas contempladas no Programa Acelerar a Economia – das 60 medidas fiscais e económicas há 18 para o setor – possam ter tradução e as que carecem de inscrição orçamental possam avançar. Em termos genéricos há medidas importantes. Uma delas está fora do Orçamento de Estado é a revogação da Contribuição Extraordinária sobre o alojamento local. Na lógica do Orçamento de Estado há a redução do IRC, admitindo que possa dar algum desafogo de tesouraria para as empresas, o que é muito importante. Também é importante a redução do IVA na restauração, numa altura, em que a restauração que é formada essencialmente por micro e pequenas empresas parece estar a entrar numa zona maior zona de turbulência económica.
Em relação às taxas turísticas. Como o Alentejo vê esta questão?
Não há taxa turística no Alentejo. É possível e plausível que, pelo menos, o município que tem o maior número de dormidas e de camas que é Évora possa avaliar esse caminho. Tenho uma opinião pessoal. Tenho muita dificuldade em perceber essa taxa porque o Estado é voraz por receita fiscal e, portanto, uma nova receita é sempre muito aliciante. Aliás, acho curioso que quando se prepara uma proposta de introdução de uma taxa turística se tenha de apresentar um estudo de viabilidade económica/financeira e nesses estudos gostava de ver, por exemplo, qual é o crescimento fiscal do IMT e do IMI que o turismo tem dado nesses concelhos. Talvez essa receita por via dos nossos hotéis pudesse também ser canalizada para todas essas medidas que se dizem ser muito importantes e que a taxa turística deve contribuir, como a limpeza ou a promoção. Para já, a taxa turística tem de ser algo muito transparente. Acho que cada município que cobra taxa turística devia ter uma espécie de portal da transparência até para o próprio turista perceber para onde vai o valor que paga se está a contribuir para a redução da sua pegada, se está a contribuir para termos um espaço público mais qualificado e se está a contribuir para ter uma maior integração do turista. Acho que devia haver uma maior transparência e uma maior prestação de contas à comunidade e ao turismo. Dito isto, sei que os próprios empresários em geral têm uma postura muito maior para o tema do que tinham há cinco, dez ou 15 anos. Acredito que esse tema se vai colocar. O assunto está em discussão na Câmara Municipal de Évora, mas não fomos consultados, nem contactados. Em 2020 fomos e é a mesma câmara que está em funções e, no meu entendimento, o nosso papel é pormos à disposição o nosso conhecimento ao serviço das câmaras municipais, dos empresários, dos produtores privados, da comunidade local, pois temos conhecimento, know-how para trabalhar um bom regulamento, um bom modelo e dar a garantia que taxa turística se vier a ser aplicada seja bem aplicada. Mas à data em que falamos o Alentejo é território livre em termos de taxas turísticas.