Conhecer a privatização do Grupo TAP (Manutenção Brasil e TAP SA) em 2015 implica considerar a dinâmica empresarial do Grupo, David Neeleman (DN) e Airbus. A IGF erra ao não o fazer e gera clamorosas vagas de intoxicação política e mediática, quando em 2020 o Ministério Público considera: «não houve nem gestão danosa nem nenhum outro crime do género».
1. Desde 2000, a política para a TAP SA é ‘privatizar para o privado capitalizar’. Os governos Sócrates (2005/11) nada fazem e são o maior responsável político da descapitalização da empresa. ‘Isto’ e o Grupo TAP estar em falência técnica desde 2008 explicam que, em 2015, o Grupo seja avaliado entre €-36 e €-532 milhões (PwC e Deloitte) e o Consórcio Gateway pagar simbólicos €10 milhões para o adquirir. É falso dizer que DN comprou ‘a TAP’ com dinheiro da Airbus.
Em 2015 a TAP SA entra na fase terminal da descapitalização. Não é segredo. No início de 2013, o CAPA, reputado centro de business intelligence, estima que, em dezembro de 2015, a TAP não pode pagar os Airbus A350 e «a pressão sobre o Balanço e, mais importante, a sua liquidez tornam-se insuportáveis a não ser que uma solução seja encontrada depressa». A intoxicação em curso ignora a gravidade da situação… conhecida desde 2013. É obra.
2. DN vê a TAP SA em rota de insolvência, mas rentabilizável com novo modelo de negócio, apoiado por financiamento da Airbus e da chinesa HNA. O valor de DN é a capacidade empreendedora de rentabilizar a TAP que vai falir. DN escolhe frota adequada ao mercado da TAP (os 330neo e os A321 LR) e rotas do hub Lisboa com os EUA, ligadas ao code-share com a Jet Blue, que abrem o mercado dos EUA ao destino Portugal. A realidade confirma a justeza desta opção estratégica. A TAP falha o pagamento dos A350 e DN salva o deposito pago (€43,5 milhões). A TAP não pode ceder posição contratual nem reclamar mais-valia que a Airbus realiza com novo preço de mercado.
3. Com base na credibilidade e capacidade empreendedora de DN, a Airbus assegura o ‘financiamento de cliente’ perante cliente que vai falir e financia empreendedor credível que o rentabiliza.
É negócio privado simples a implementar pela TAP SA privada. A Airbus fornece ‘financiamento antecipado)’ de prestações acessórias de capital, com garantia de 30 anos. Impõe a condição lógica da TAP privada não falhar os pegamentos da compra dos aviões.
Os aviões são comprados a ‘preço de mercado’, sem considerar o financiamento antecipado’. Preço é confirmado por avaliadores de reputação internacional (Ascend, Avitas e Commercial Services Aviation) a pedido da Parpública.
Em 2022, a Airborne Capital avalia a compra $254 milhões acima do preço de mercado. Não há contraditório de Airbus, DN e Parpública nem a credibilidade das auditorias anteriores. O ministro abusa ao falar de auditoria que envia para o DCIAP. Utilizar este valor é calúnia e desinformação.
4. Após processo competitivo, a ‘assinatura’ do Contrato entre o Consorcio e o Governo é de junho de 2015. O ‘fecho’ é formalizado pelo segundo governo de Passos Coelho, quando o Parlamento já o reprovou. O Governo tem de decidir entre respeitar a Ética republicana e gerar inevitável insolvência desordenada da TAP, com poder destrutivo incalculável ou salvar a Empresa. Opta pela segunda opção, como nós optaríamos.