Sinto-me cada vez mais preocupado com o modo de atuação do presidente de Câmara de Lisboa. Essa preocupação surge por me ser evidente que a cidade está descuidada e maltratada, esburacada, suja, caótica, com um número crescente de sem-abrigo, com um modelo de turismo caótico, com insegurança crescente, péssima para estacionar e sem estratégia. Por outro lado e na minha opinião, o presidente da Câmara aparenta maior preocupação com a sua imagem pessoal que com a cidade. As evidências assim mo demonstram. A forma infantil, frágil e mal-humorada que expressou no passado dia 17 ao abandonar o debate político na Assembleia Municipal gerando na sequência um conjunto de intervenções que envergonham Lisboa, a democracia e o civismo, são uma demonstração narcísica de inaptidão e falta de estofo a que funções de presidente de Câmara num regime de governação sem maioria, obrigam. O livro Servir Lisboa com milhares de exemplares impressos publicado pela CML, da autoria de Carlos Moedas, com 252 páginas apresenta 260 fotografias do próprio Carlos Moedas. Para além de mais uma demonstração de profundo narcisismo, mas cada um é como é, e em democracia convivemos pacatamente com as diferenças, revela quanto a mim dois problemas graves; o primeiro prende-se com a utilização de fundos públicos para autopromoção, e o segundo, ainda mais relevante, prende-se com a dificuldade em apresentar boa obra feita. As publicações que sigo da Câmara Municipal de Oeiras são um excelente exemplo da promoção da obra bem feita. Obra bem feita que deveria inspirar Lisboa. A minha preocupação aumenta sempre que oiço ou leio declarações do presidente da Câmara de Lisboa. A cidade que descreve não é a mesma que eu vejo. Esse perigoso autismo, que tenho apelidado de fraude comunicacional, fala de uma cidade com fábrica de unicórnios (não tem nem um…), com uma zona oriental verde totalmente requalificada (um descampado de difícil acesso e poeirento), com investimentos únicos em equipamento de limpeza (cada vez são mais as evidências de sujidade e lixo acumulado em diversos pontos da cidade), uma cidade sustentável (não foram feitos quaisquer dos investimentos prometidos e anunciados em estrutura fotovoltaica nos edifícios camarários), uma cidade harmoniosa (um número assustadoramente crescente de turistas e de sem-abrigo), com o extraordinário projeto saúde 65+, (não funciona, a taxa de execução é inferior a 5% e cerca de 20% dos gastos realizados foram despendidos em, veja-se bem, comunicação)… Em paralelo perdem-se oportunidades no PRR ao nível da requalificação do parque escolar, e como mencionado pelo presidente de Câmara de Oeiras numa entrevista publicada no passado dia 15, por indefinição e falta de liderança do executivo de Carlos Moedas o projeto da Linha Intermodal Ocidental Sustentável (LIOS), projeto essencial ao desenvolvimento da mobilidade de transporte público na região metropolitana de Lisboa, corre o risco de perder a oportunidade do uso de fundos do PRR e, desse modo, tornar-se, por falta de capacidade de investimento, impraticável. É esta má gestão, na cidade capital, que me preocupa.
Tenho a clara noção da má gestão a que os cerca de €1.300.000.000 de orçamento anual da CML estão remetidos. Por conviver diariamente com as consequências, por considerar que contribui para má imagem de nós portugueses, por não ser um bom exemplo para o resto do país. Isso preocupa-me.