De agora até aos próximos meses, a pergunta de todas as horas vai ser: será que o orçamento vai passar? Temos um governo em minoria que precisa de consenso no Parlamento para governar, e está a precisar que os partidos da oposição mostrem alguma responsabilidade. E por responsabilidade, quero dizer, mostrar respeito pelo que os portugueses querem e não apenas pelo que lhes é mais conveniente. Porque, sejamos sinceros, ninguém está com vontade de ter eleições todos os anos, com tudo o que isso traz: campanhas, gastos e instabilidade. O país praticamente para e as incertezas aumentam nesses períodos.
Como contraponto à Aliança Democrática (AD), de um lado, temos o Chega. Que, honestamente, ao longo destes meses, o que temos visto é um partido sem rumo nem coerência, porque não tem realmente interesse em negociar. Na sua cabeça, esta presente a hipótese de que, se tivermos eleições, podem chegar ao Governo. Por isso, a estratégia tem sido criar confusão e lançar o engano, em vez de produzir soluções.
Do outro lado da AD, temos uma parte da esquerda onde ainda é possível algum entendimento: o Partido Socialista, com um líder que, goste-se ou não, sabe controlar e organizar o partido. Que tem mostrado firmeza na gestão da estrutura interna, mas a verdade é que ainda não conseguiu conquistar a plena confiança dos portugueses nem mostrar um verdadeiro sentido de Estado. Certamente pelos exemplos do passado, mas também talvez pela forma como conduz as negociações e a realpolitik. Há sempre a sensação de um cálculo constantemente subjacente.
E é exatamente por isso que a minha desconfiança cresce quanto às intenções de aprovação deste orçamento. Quando chegar à hora de decisão, começo a acreditar que Pedro Nuno Santos, como líder, vai tomar em consideração aquilo que mais lhe convém e menos o que convém ao país. Analisando o seu percurso futuro, tem duas opções: arriscar uma nova candidatura ao Governo de Portugal, sustentada na pequena vitória nas europeias, ou decidir deixar o Governo consolidar-se, lançando as suas hipóteses para umas eleições autárquicas ao virar da esquina com possibilidade de as perder.
Recorde-se que muitos presidentes de Câmara socialistas estão em fim de ciclo. Se os resultados nessas eleições forem negativos para o Partido Socialista, isso pode ser um golpe duro que torna difícil um novo mandato. Tudo depende de como Pedro Nuno vê as possibilidades à sua frente.
Portanto, a questão do Orçamento é mais do que uma simples negociação. É um jogo político, com cada partido a tentar perceber qual é a melhor jogada para si próprio. Vamos assistir a muitas negociações ocas, muitas trocas de palavras e, provavelmente, a algumas surpresas pelo caminho. O que é certo é que os portugueses estão atentos e cansados de promessas vazias. E, no meio disto tudo, o que se espera é que as decisões sejam para o bem do país e não apenas para o interesse de alguns.