O turismo continua a puxar pela economia nacional e, apesar do setor ter começado a dar nos últimos meses alguns sinais de abrandamento, mantem um peso importante no Produto Interno Bruto (PIB) português. Só no ano passado, altura em que atingiu máximos históricos, representou cerca de metade do crescimento real do PIB. Aliás, o turismo foi a origem em Portugal de 19,1% da riqueza produzida no ano passado, de acordo com o relatório do World Travel & Tourism Council (WTTC), que aponta Portugal como o 5.º país onde é mais forte a contribuição do turismo para o PIB.
Depois de Grécia e Portugal, os países europeus onde o turismo tem mais peso no PIB são Áustria, com 15,4%, Espanha, com 14,6%, Itália, com 13,2%, Turquia com 12,1%, e Reino Unido, com 11%, todos acima da média na União Europeia, que é de 10,1%.
Em valor absoluto da contribuição do turismo para o PIB, Portugal surge em 29º entre os 40 países especificados na informação do WTTC, com 45 mil milhões de dólares (mais de 40 mil milhões de euros), à frente da Grécia, com 44 mil milhões (mais de 39 mil milhões de euros).
Um peso que é reconhecido pelo economista João César das Neves, que admite que o “setor do turismo é tradicionalmente muito importante na nossa economia” e que aumentou muito a sua capacidade e influência com a recente revolução produtiva, gerada pela internet. “Graças à internet, o setor libertou-se do poder das companhias das viagens e do sol e praia, aumentando muito e generalizando a sua oferta a todo o país e a muitos novos tipos de turistas”, revela ao i.
Também Paulo Monteiro Rosa, economista do Banco Carregosa, lembra que o turismo é atualmente o setor mais importante da economia portuguesa, facilmente justificado pelo peso dos números do turismo no PIB português. E recorda os dados do INE, em que é responsável por cerca de metade do crescimento do PIB em Portugal em 2023, ano marcado por um crescimento económico de 2,3%, tendo o turismo contribuído com 1,1 pontos percentuais. “Essa importância é explicada também pelo seu desempenho e peso nos anos anteriores. Em 2021 e 2022, a economia portuguesa cresceu 5,7% e 6,8%, tendo o turismo respondido por 1,7 e 4,2 pontos percentuais, respetivamente. Em 2020, ano mais impactante da pandemia de covid-19, ditado pelo distanciamento social, muito penalizador do turismo, o PIB português contraiu 8,3%, tendo 5,5 pontos percentuais dessa redução sido justificada pela diminuição da contribuição do turismo”. E ao nosso jornal não hesita: “O setor do turismo está nos bons e nos maus momentos do crescimento económico português”.
Peso vs outras apostas
Paulo Monteiro Rosa lembra que no setor do turismo trabalha quase 10% da população, recordando que, em 2021, o emprego nas atividades características do turismo, medido em equivalentes a tempo completo (ETC), fixou-se em 426 230 pessoas, representando 8,9% do total das pessoas empregadas em Portugal nesse ano. E vai mais longe: “O setor turismo representa mais de metade das exportações de serviços portuguesas, no entanto a balança se serviços pesa cerca de um sexto no total da balança de bens e serviços, mas mesmo assim o turismo é, com certeza, o principal motor das exportações nacionais, contribuindo com cerca de 9%”.
Menos otimista está João César das Neves ao defender que, em relação à criação de postos de trabalho, é “muito menos significativo, pois gera sobretudo emprego de baixa qualificação que os portugueses não querem, o que implica imigração”.
Já quanto às críticas em relação ao facto de a economia estar assente apenas neste setor, o economista considera que “os críticos falam como se pudessem mudar aquilo que faz uma sociedade de 10 milhões de habitantes. A economia é o que é, e não está assente apenas neste setor. As nossas exportações são bastante diversificadas, mas naturalmente alguns setores têm preponderância, e a do turismo é óbvia”, acrescentando que “a crítica correta devia ser à falta de planeamento estratégico nesse setor – e noutros – subindo a qualidade e o valor acrescentado”. Ainda assim, afirma que no turismo esse planeamento estende-se a muitas áreas, do urbanismo à saúde, passando por outras infraestruturas e abastecimentos. “Infelizmente, a tradicional incapacidade prospetiva nacional e a tolice das quezílias entre autoridades parecem indicar que vamos continuar a improvisar como fazemos há décadas. Por vezes, temos sorte”.
Já Paulo Monteiro Rosa acredita que uma economia deve especializar-se, mas é fundamental diversificar. “O setor do turismo pesa já cerca de 10% do PIB português, um valor relativamente elevado. A pandemia corroborou as desvantagens dessa mesma dependência. O distanciamento social ditado pela pandemia diminuiu substancialmente o turismo e as suas receitas, tendo o PIB português sido dos mais penalizados a nível mundial”.
E exemplifica: “Por exemplo, o setor do turismo também contribui para a formação do PIB da Suíça, mas tem um peso muito menor do que em Portugal, sendo a economia suíça alicerçada também na indústria química, farmacêutica, relojoeira e financeira. Assim, o PIB suíço foi muito menos penalizado durante a pandemia, relativamente ao PIB português. Uma ajuda crucial. Sem o setor do turismo, a par também do aumento substancial da população empregada desde 2013 (mais meio milhão de trabalhadores), a economia nacional não teria crescido acima da economia da Zona Euro nos últimos dois anos”.
E, face a este cenário, o economista admite que não aprendemos a lição durante a pandemia, já que o turismo foi o setor mais afetado, desde logo porque não permitia a circulação de pessoas. “À ‘vista desarmada’, a perceção é de que não se aprendeu o suficiente, mas a diversificação de uma economia leva tempo, e dificilmente poderá ser realizada em meia dúzia de anos. Muito provavelmente, o turismo continuará a ser o motor da economia portuguesa. No entanto, urge diversificar a economia nacional e enveredar gradualmente por setores de elevado valor acrescentado. Caso contrário, perante uma recessão e diminuição do rendimento disponível, o setor do turismo é prontamente um dos mais afetados, tratando-se de consumo discricionário que é reduzido para garantir rendimento suficiente para satisfazer plenamente o consumo básico. A pandemia foi um aviso cabal de que a economia portuguesa não deve estar demasiadamente dependente de um só setor, sobretudo do turismo, caracterizado pela proximidade social”.
Também para César das Neves, a pandemia foi de tal modo devastadora no turismo que é difícil tirar lições válidas. “Talvez a mais importante, que devia ser estudada e preservada, tem a ver com os métodos usados pelos agentes e empresas para sobreviver no meio do deserto daqueles meses. Houve alguns meios muito imaginativos e outros desastrosos. Guardar essas lições pode ser muito útil para futuras catástrofes”, conclui.