Que país projetamos?

Portugal é hoje um país mais confuso e com menor noção da direção que quer tomar do que era nos finais da década de 80 e início de 90.

Ao escutar os líderes dos principais partidos fico com a clara noção da ausência, nuns e noutros, das capacidades necessárias para o desempenho responsável e competente a que os cargos e responsabilidades que assumiram, da perspetiva meritocrática, obrigariam. A forma como debatem e se tratam, resulta da escola das ‘jotas’ dos partidos que frequentaram, onde a capacidade de gerar trocadilhos de palavreado conta muito para o desenrolar do debate sem que a operacionalidade de qualquer coisa que não seja a obtenção do poder, tenha qualquer relevância. É mau demais e constitui, quanto a mim, a origem da causa do atraso português.

As ‘jotas’ são uma escola de acesso ao poder, não são uma escola de competência no uso do poder, nomeadamente quando se trata de governar o país e os dinheiros públicos. Os resultados dos dados socioeconómicos e demográficos da estatística de Portugal nas últimas décadas, são claros, e subscrevem esta posição.

Portugal é hoje um país mais confuso e com menor noção da direção que quer tomar do que era nos finais da década de 80 e início de 90 do século passado. A ausência de pensamento estratégico a décadas impede a criação e definição de objetivos claros e de avaliações de rumo. A prática dos trocadilhos, dos mini-casos e do teatro de encenação política serve claramente a bolha dos políticos que estudaram nas escolas jota, num estilo cada vez mais inconfundível que apelido de ‘falar muito sem nada dizer’, surpreendentemente adotado por todo o espetro político e legado de geração em geração. Ainda recentemente observava um debate de 3 representantes jovens, na casa dos 30 anos, dos 3 maiores partidos com representação parlamentar e identificava as piores tendências da geração que os antecede. Falam todos ao mesmo tempo, usam um conjunto de ataques injustificados aos argumentos dos outros, acusam-se mutuamente de mentir, e no final deixam quem os ouve na plena ignorância sobre o que defendem e o que os afasta.

Quando em plena discussão do Orçamento do Estado o tema que aparenta maior notoriedade se chama IRS Jovem, e que nem para esse tema a explicação dos diferenciais de opinião está clarificada, facilmente percebemos que nenhum dos líderes responsáveis pelos principais partidos tem uma qualquer ideia de estratégia para o país.

É essa incompetência e falta de preparação, que não angariaram nem na vida nem na escola, que nos tem prejudicado a todos, década após década. São campeões de palavreado e debate, e aprenderam bem a controlar as máquinas e os interesses partidários num sistema de proxy de uma democracia altamente controlada pelas máquinas de boys e girls dos partidos.

No entretanto, década após década, o país é gerido com base em táticas eleitorais onde importa conquistar e preservar o poder.

E o rumo e o lançamento de futuro da sociedade e economia do país?… É menos importante e relativamente colateral aos interesses destas máquinas partidárias e consequentemente vai sendo adiado.

CEO do Taguspark, Professor universitário