A notícia não mereceu chamada de capa, mas fez correr muita tinta, pois não faltam palpiteiros televisivos que amam narrativas que se encaixam na sua visão deturpada do mundo. A manchete do Público, de 28 de setembro, dava conta de que ‘Portugal só cumpre 4% das ordens emitidas para expulsão de estrangeiros’, mostrando que o país viola assim as regras da UE. É óbvio que essa notícia, fundamentada com os dados do Eurostat, não mereceu grande destaque nos comentadores habituais, o mesmo não acontecendo com uma notícia do interior do jornal do mesmo dia, em que uma socióloga descobriu a ‘cura’ para os problemas da criminalidade. Catarina Reis de Oliveira concluiu, ‘cruzando’ os dados da Direção-Geral da política de Justiça, que os municípios com mais imigrantes têm menos criminalidade. A socióloga, com presença assídua no esquerda.net, dava os exemplos de Odemira e Vila do Bispo, em contraponto a Lisboa e Porto. Olhemos para a notícia em questão: «Numa análise feita a pedido do Público, o resultado é claro: em municípios com maior número absoluto de estrangeiros a criminalidade desceu; por outro lado, o rácio de crimes por total de residentes é mais baixo em municípios onde a população estrangeira tem mais impacto».
Calculo que a cientista estará, seguramente, na calha para o Prémio Nobel da Segurança e que os autarcas das cidades mais perigosas do mundo, como sejam os casos de Caracas, Rio de Janeiro,Pretória, Durban ou Tijuana, entre outros, estejam a pensar importar hordas de imigrantes para que as suas cidades tenham menos criminalidade.
O conteúdo destas duas notícias tem servido aos dois lados extremistas da barricada para defenderem a sua dama, com tudo o que têm à mão, acabando por fazer um péssimo serviço ao país. Qualquer pessoa que esteja minimamente atenta à realidade, sabe perfeitamente que o país não vive sem imigrantes – basta olhar para o que se passa na hotelaria, na agricultura e na construção civil, entre outras atividades. Mas também qualquer pessoa que viva neste mundo sabe perfeitamente que onde há desempregados que vivem na rua, as probabilidades de a criminalidade aumentar é enorme. Sejam eles de que nacionalidade forem. Ora, o que não faz qualquer sentido é estarmos a importar imigrantes que vão engrossar o número de sem-abrigo, que, naturalmente, vão ter que fazer alguma coisa para arranjar dinheiro para comer. Daí se dizer que se deve ‘controlar’ quem vem para cá e quem podemos integrar com dignidade. Deixar esta constatação óbvia para os extremistas, de esquerda e de direita, é muito perigoso. Ambos se alimentam do ódio e isso é algo que não augura nada de bom. Resumindo, defender que a criminalidade é um exclusivo dos imigrantes é tão disparatado como afirmar que a imigração contribui para a baixa de criminalidade. E o problema está na forma como estas duas realidades são noticiadas. Se um imigrante assalta ou viola alguém, é preciso ‘esconder-se’ a sua origem, mas se o migrante é vítima de violência, logo se fala em xenofobia, racismo e por aí fora. Isto, além de perigoso, é desonesto.
Mudando as agulhas, António Costa deve estar a rir-se mais do que o Joker quando conseguia irritar o Batman. O país está um verdadeiro campo de batalha porque o antigo primeiro-ministro decidiu criar o subsídio de missão para a Polícia Judiciária, esquecendo-se de todas as outras forças de segurança, justiça e proteção civil. Os bombeiros foram os últimos a manifestar-se – e ultrapassaram largamente os limites do razoável – com toda a razão, mas o principal responsável pela sua frustração está a viver alegremente em Bruxelas…