Han Kang já tinha antecipado a tendência, escrevendo uma história sobre uma mulher que deixa de comer carne e quer transformar-se numa planta.
Recorda-se da aluna em Inglaterra que deu que falar em 2023 por se identificar com um gato e exigia ser tratada como tal? E do homem em Tóquio que gastou o equivalente a 12 mil euros para se transformar num cão? Muito antes disso, entre 2003 e 2005, a coreana Han Kang já tinha antecipado a tendência, escrevendo uma história sobre uma mulher que deixa de comer carne e quer transformar-se numa planta. Publicado em 2007 na Coreia, A Vegetariana foi traduzido e publicado no Reino Unido em 2015, conquistando o International Booker Prize. Chegou a Portugal em 2016, altura em que a crítica literária Filipa Melo escreveu aqui no SOL: «A Vegetariana é um livro tão transgressivo e inesperado que, se feita de um fôlego, a primeira leitura pode garantir um estado semelhante ao da insónia». Oito anos depois do Booker, a autora coreana foi distinguida com o Nobel da Literatura, anunciou ontem a Academia Sueca.
«No conjunto da sua obra, Han Kang confronta os traumas históricos e conjuntos invisíveis de regras, e, em cada um dos seus livros, expõe a fragilidade da vida humana. Tem uma consciência única das ligações entre o corpo e a alma, os vivos e os mortos, e no seu estilo poético e experimental tornou-se uma inovadora na prosa contemporânea», justificou Anders Olsson, da Academia Sueca. No ano passado a D. Quixote publicou o mais recente livro de Kang, Lições de Grego.