Antes da internet, das revistas de moda, da televisão ou até dos gostos e das partilhas no Facebook, Instagram ou TikTok, já os influencers existiam. Talvez lhes déssemos outro nome ou se calhar nem sequer saberíamos o que lhes chamar mas a verdade é que os influenciadores fazem parte da vida da humanidade desde muito antes da notoriedade e importância do digital.
Os relatos históricos apontam para o primeiro caso do rei Jorge III do Reino Unido e da marca Wedgwood.
Ora, naquela época – falamos de 1760 – Wedgwood fez pela primeira vez um conjunto de chá para a esposa do Rei. A realeza era a influenciadora da época, e Wedgwood rapidamente comercializou a sua marca como tendo aprovação “real”. Esta tendência deu-lhe um status de luxo tão grande que a marca ainda hoje é considerada de luxo, adequada para um rei.
Por essa altura não havia nome para se dar a este conceito de influenciar pessoas, de copiar, por assim dizer. Talvez só por volta de 1955, Paul Lazarsfeld e Elihu Katz divulgaram a pesquisa Personal Influence: The Part Played by People in the Flow of Mass Comunication [Influência pessoal: o papel desempenhado pelas pessoas no fluxo da comunicação de massa] onde argumentaram que existem pessoas que têm a capacidade de disseminar informações recebidas para outras dando a essas informações mais significado e valor.
É certo que ao longo da História há muitas personalidades que influenciaram mentalidades e formas de ver a vida.
Uma delas é Martin Luther King que, de certo modo, pela sua influência ativista, entre as décadas de 1950 e 1960, teve atuação de destaque ao posicionar-se de forma pacífica contra a segregação racial, que em muitos estados era lei. E conseguiu ‘influenciar’ multidões em torno da luta pela igualdade racial e pelos direitos civis para os negros.
A defesa da não violência Mas não foi o único. Podemos falar também de Mahatma Gandhi que foi um líder pacifista indiano que defendia o protesto de maneira não violenta a partir de demonstrações de resistência e de desobediência civil. Muitos seguiram o seu exemplo.
Ainda sem redes sociais ou televisões, podemos falar de Frida Kahlo, artista que teve uma grande influência na moda, beleza e comportamento. As flores na cabeça, o exagero, acessórios grandes ainda hoje se usam e muito por influência sua. A sobrancelha natural, por exemplo, que tanto se usou no seu tempo, está também hoje cada vez mais na moda novamente. Por tudo isto, é certo que a artista ainda hoje influencia muitas pessoas pelo mundo inteiro.
E quem fala de Frida Kahlo fala, por exemplo de Marilyn Monroe que foi, sem dúvida, uma influência atemporal do ícone dos anos 50. E até aos dias de hoje. Grande precursora na moda e influência da cultura pop, a diva do cinema norte-americana sempre foi uma personagem muito à frente do seu tempo, influenciando muitas mulheres a vestir-se de outra forma e também a maquilhar-se.
Deixando as pessoas de parte, é preciso também olhar para a influência das revistas no caso da moda. No Brasil, por exemplo, a revista Claudia foi pioneira ao iniciar sua atividade em 1961 e é considerada como um dos ícones do comportamento e da moda feminina. A primeira publicação considerada sobre a indústria da moda é Le Mercure Galant. Fundada pelo escritor Jean Donneau de Visé em 1672, a revista literária desempenhou um papel fundamental na disseminação de notícias sobre moda, bens de luxo, etiqueta e também sobre a vida na corte sob Luís XIV para as províncias e para o exterior.
Mas, neste papel da moda é impossível deixar de parte a Cosmopolitan, publicada pela primeira vez em 1886 em Nova Iorque ou a Vogue americana que nasceu em 1892. Ou até, claro, a francesa Marie Claire.
E poderão todos os que falámos anteriormente – e outros – serem considerados influenciadores? Claro. Mas a diferentes escalas do que é feito atualmente. “É mais fácil isolar o conceito de influencer quando há uma relação mais ou menos comercial. O objetivo dos influenciadores é exatamente passar a ideia que não é uma relação comercial e é muito mais espontânea. E isso é válido quer para as marcas quer para outro tipo de comunicação nomeadamente as causas que se defendem, orientações políticas, opiniões de modo em geral”, diz ao i Bruno Ribeiro, Senior Manager Interactive na Accenture Portugal.
Mas se os ‘influencers do antigamente’, chamemos-lhe assim, não ligavam a marcas, atualmente não é bem assim.
Influenciadores atuais A internet chegou e com ela trouxe várias mudanças. As marcas tiveram de se reinventar e tudo passou a estar à distância de um click. Qualquer pessoa pode ser influencer nos dias de hoje ainda que, claro, trabalhe para isso. Para Daniel Sá, diretor-executivo do Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM), é claro: “O que mudou [com o digital] foi o alcance porque as redes sociais permitem agora chegar aos pontos todos do globo com muita rapidez e mudou a velocidade da influência. Vivemos num mundo muito instantâneo com muito consumo instantâneo e conseguimos com muita rapidez para o bem e para mal que haja logo um impacto muito grande. É um bocadinho a velocidade que acabou também por se alterar nos últimos anos”.
Uma opinião que é partilhada por Bruno Ribeiro. “Primeiro temos o fenómeno da internet, das redes sociais e temos o fenómeno hoje em dia dos dados que nos permitem uma capacidade de segmentação muito grande. Os influencers acabam por ser uma forma, por um lado, de ter uma maior capacidade de segmentação e falar com grupos mais específicos e com nichos”, diz ao nosso jornal, lembrando que hoje em dia as pessoas têm mais tempo para estar nas redes sociais do que ver spots publicitários na televisão. E recorda que as marcas também poupam mais com a ajuda dos influencers ao invés de criar anúncios.
Com a evolução da tecnologia – ainda que a televisão e as revistas continuem a ter esse papel – é na internet que as pessoas mais se influenciam e que os influenciadores começaram a ganhar alcance. O número de seguidores é importante e as marcas também têm atenção a isso. Mas não é só sobre marcas que estes trabalhos funcionam. A partir do momento em que ganham mais seguidores, os influencers começaram a influenciar também sobre o seu estilo de vida. E há para todos os gostos: moda, maquilhagem, maternidade, ambiente e até para crianças. E aquilo que em muitos casos começou a ser visto como um hobbie, é agora um estilo de vida. Quase tudo vai parar às redes sociais. Afinal, é preciso aumentar o engagement e partilhas, comentário e reações às publicações são sempre bem vindos. E antes do Instagram, Facebook, TikTok ou até Snapchat, havia o Tumblr, o WordPress ou o BlogsPot.
A força de Chiara Ferragni No mundo da moda, um dos nomes que não passa despercebido é Chiara Ferragni. Só no Instagram, a italiana conta com mais de 17 milhões de seguidores mas as redes sociais são apenas mais uma porta para o seu sucesso. Começou seu blog TheBlondeSalad.com em 2009 e colabora atualmente com confeções de grande porte. Aparece nas capas das principais revistas de moda, é presença obrigatória nos maiores eventos mediáticos e e tem a sua própria linha de sapatos, desenhados 100% em Itália.
E, no caso da moda, é preciso também destacar Emma Chamberlain com 28 milhões de seguidores, Nikkie de Jager, com 41 milhões ou Charli D’Amelio com, imagine-se, 270 milhões de pessoas a segui-la. É preciso lembrar que o número de seguidores não é tudo uma vez que tem de ser acompanhado por um bom engagement.
Ainda neste mundo de moda, maquilhagem e tendência, as irmãs Kardashian contam também com milhões de seguidores. Em primeiro lugar está Kim Kardashian que tem várias marcas de moda e conta com 360 milhões de seguidores. Segue-se a irmã, Kendall Jenner que é modelo e tem 291 milhões de seguidores. Kylie, outra das irmãs, e que tem uma marca de maquilhagem, conta com quase 400 milhões de seguidores.
No mundo do futebol – e até fora dele – a estrela é, claro, Cristiano Ronaldo (ver páginas 4 a 7) mas logo abaixo está Leonel Messi. E, por falar em Cristiano Ronaldo, um dos maiores fenómenos atuais dos influenciadores desta geração é a namorada, Georgina Rodríguez. Com 64 milhões de seguidores, vai influenciando sobre o seu ‘estilo’ de vida, ainda que não esteja ao alcance de todos. O sucesso já deu até origem a uma série da Netflix.
Mas o melhor influencer do mundo é outro. Jimmy Donaldson – ou MrBeast, como é conhecido – tem quase 300 milhões de seguidores, um número quase tão grande quanto a população dos EUA. É no YouTube que dá mais cartas mas também usa as redes sociais. Entre muitos outros temas, mostra desafios, conteúdos extravagantes e começou aos 13 anos com reações a jogos. Atualmente tem 26.
E esta é uma profissão que dá muito dinheiro, ainda que não seja possível dizer ao certo quanto ganha cada um. Segundo um estudo da Hopper HQ, as celebridades digitais mais bem pagas dos EUA podem faturar até 1,2 milhões de dólares por uma publicação no Instagram, enquanto o valor pago a um influenciador com cerca de 100.000 seguidores ronda os 400 a 2000 dólares (367 a 1.835 euros). Quando maior for o número de seguidores e o número de publicações, mais elevado é o dinheiro que recebem. E os likes, as partilhas e os comentários também contam. Por isso, muitas destas pessoas não precisam de ter outra profissão que ajude a pagar as contas.
É caso para dizer que uma coisa é certa: influencer é uma profissão e veio para ficar.