Do sucesso inegável de CR7 às novas caras

Em setembro, Cristiano Ronaldo tornou-se a pessoa com mais seguidores nas redes sociais. No entanto, Portugal tem cada vez mais personalidades influentes que nascem nas redes sociais.

Quando alguém fala em influenciadores, pensamos automaticamente no verbo influenciar. E com razão. Em Portugal, o maior exemplo de como é possível utilizar as redes sociais para chegar ainda a mais pessoas é Cristiano Ronaldo. No início de setembro, tornou-se a primeira pessoa no mundo inteiro a chegar aos mil milhões de seguidores nas redes sociais. Como seria de esperar, o craque celebrou este momento com uma publicação no Instagram.

“Fizemos história – Mil milhões de seguidores! Isto é mais do que apenas um número – é um testemunho da nossa paixão partilhada, do nosso impulso e do nosso amor pelo jogo e não só”, escreveu o capitão da Seleção Nacional e do Al Nassr (Arábia Saudita). “(…) Obrigado por acreditarem em mim, pelo vosso apoio e por fazerem parte da minha vida. O melhor ainda está para vir, e vamos continuar a esforçar-nos, a ganhar e a fazer história juntos”, concluiu Ronaldo na sua publicação.

Segundo a revista Forbes, Margarida Corceiro mantém o nível de influência no topo, com 38 milhões de visualizações num reel mencionado naquela revista, exemplificando o seu poder digital. António Castro consolida o seu sucesso no TikTok e estreia-se no topo da lista dos mais influentes no Instagram, no setor de viagens.

Maternidade e séries

A atriz Kelly Bailey e a cantora Bárbara Bandeira entram pela primeira vez no Top 5, com Bailey a destacar o sucesso da série Rabo de Peixe e a maternidade, enquanto Bandeira brilha nos concertos dos Coldplay em Portugal. O ator Lourenço Ortigão mantém-se relevante com parcerias com marcas como Nespresso e Carolina Herrera.

Diogo da Silva e Paulo Borges (Wuant) continuam a liderar entre os nativos digitais, com forte presença no Instagram e Youtube, enquanto Rita Pereira, uma das figuras mais seguidas, permanece um sucesso desde 2018.

O humorista Bruno Nogueira, a atriz Francisca Cerqueira Gomes e o futebolista Gonçalo Ramos destacam-se com grandes engajamentos, sendo que Ramos mantém-se relevante mesmo após a mudança para o PSG. Influenciadoras como Helena Coelho e Cristina Ferreira também se afirmam, com Ferreira a destacar-se como uma das mais seguidas, com 1,6 milhões de seguidores.

No setor da música, Carolina Deslandes e Diogo Piçarra entram na lista, com Deslandes a comemorar um ano intenso de concertos e Piçarra a lançar o álbum SNTMNTL.

Por fim, influenciadores como Catarina Gouveia, David Carreira, Cláudia Vieira e Liliana Filipa continuam a manter o seu lugar entre os mais seguidos, representando marcas e lançando novos projetos pessoais. Pedro Teixeira e Cifrão também marcam presença, com Teixeira a revisitar o seu papel icónico em Morangos com Açúcar e Cifrão a regressar aos palcos.

Esta diversidade reflete a evolução das redes sociais em território nacional, com influenciadores a impactar vários setores.

Os ganhos e a controvérsia

Ana Garcia Martins, Sofia Ribeiro, Raquel Strada e Catarina Gouveia são algumas das influenciadoras portuguesas com maior presença e faturação no Instagram. Os valores que estas influenciadoras supostamente ganham por publicação variam entre 1.200 e 4.000 euros, dependendo da campanha e do número de seguidores.

Além das publicações pagas, elas também podem receber honorários por participações em eventos. Outras formas de obter rendimento incluem lançamentos próprios, marketing de afiliados e vendas de fotografias e presets. As agências de comunicação atuam como mediadoras entre as marcas e as influenciadoras, facilitando esse crescimento contínuo do mercado em Portugal e globalmente.

No entanto, o i sabe que a rainha da faturação no Instagram é a ‘Tia Lena’, Madalena Abecasis, sendo que recebe milhares de euros por publicitar produtos. A criadora de conteúdos foca-se no humor, na moda, na beleza e no lifestyle. Começou a ganhar destaque na internet com o seu conteúdo que muitos consideram autêntico e envolvente, partilhando dicas de moda, looks do dia e aspectos do seu cotidiano. Posteriormente, começou a fazer publicações pagas com mais frequência, aumentando a sua faturação através de publicações comerciais e colaborações com marcas.

Porém, o mundo dos influenciadores portugueses não tem somente pontos positivos. Em junho, Bruno Savate, Ritinha e Henrique Mota viram-se envolvidos numa controvérsia após a Associação Portuguesa de Apostas e Jogos Online (APAJO) ter apresentado queixas-crime contra eles por promoverem websites de apostas ilegais nas redes sociais.

A APAJO também incluiu influenciadores como Numeiro e Cláudia Nayara, que usaram links de afiliados para direcionar seguidores a operadores não licenciados em Portugal, como Betify e Stake, resultando em perdas estimadas de 100 milhões de euros em impostos não pagos ao Estado. Portugal está a intensificar a fiscalização contra a publicidade de jogos ilegais, com a APAJO a liderar esses esforços.

O mercado digital em Portugal

Nos últimos anos, o mercado digital em Portugal tem assistido a um crescimento exponencial, com a ascensão de criadores de conteúdos que exploram áreas como moda, beleza e lifestyle. A influenciadora Alice Trewinnard partilha a sua experiência sobre o que a diferencia neste setor e os desafios enfrentados ao longo do seu percurso.

“Acredito que o que me destaca neste meio é a minha personalidade, autenticidade e capacidade de me conectar com o público”, afirma a criadora, que começou o seu percurso em 2015. Ao longo dos anos, a indústria digital passou por uma evolução significativa e a necessidade constante de adaptação tem sido um dos maiores desafios. “Um dos maiores desafios é a constante necessidade de adaptação à evolução das plataformas e algoritmos”, refere.

A seleção de conteúdos a partilhar é uma das principais preocupações desta criadora, que valoriza a relação de confiança com o seu público. “Penso sempre no valor que o conteúdo agrega à minha audiência. […] Para mim, é crucial manter-me fiel a mim mesma e à minha essência, porque foi isso que me fez chegar onde estou hoje”, revela.

Em relação à evolução das redes sociais em Portugal, a criadora acredita que o mercado está mais maduro e que tanto marcas como público valorizam cada vez mais a autenticidade.

Quando se trata de parcerias comerciais, a influenciadora sublinha que a autenticidade é o valor essencial. “Evito colaborações que possam parecer desonestas ou forçadas e só aceito parcerias que realmente ressoem comigo e com o que acredito”, salienta. A coerência entre o produto ou serviço e a sua personalidade, bem como a credibilidade da marca, são fatores determinantes na escolha das colaborações.

No entanto, a exposição constante nas redes sociais pode ter um impacto significativo na saúde mental, e a criadora não esconde que este é um dos maiores desafios da profissão. “Tento definir limites de tempo para estar nas redes sociais, fazer pausas regulares e tentar separar o tempo pessoal e vida privada do tempo dedicado às redes”, partilha, acrescentando que, desde 2020, faz terapia semanalmente para lidar com a pressão do seu trabalho.

A jornada, admite, tem sido “super gratificante”, e a criadora não imagina a sua vida sem este trabalho, que a permite conectar-se de forma verdadeira com a sua audiência e colaborar com marcas que admira.

A intersecção entre o mundo da moda e as redes sociais tem sido uma força transformadora e Beatriz Lé, influenciadora digital e coordenadora de moda na Escola de Moda de Lisboa, está no centro dessa mudança. Combinando a criação de conteúdo focado em moda e lifestyle com o seu papel na educação, Lé partilha a sua visão sobre a influência digital e o seu impacto no consumo de moda, especialmente entre os jovens.

Mudanças profundas

Para Beatriz, as redes sociais mudaram profundamente a forma como as tendências de moda são lançadas e consumidas. “As redes sociais atuam como vitrines globais, permitindo que as tendências ganhem força rapidamente”, explica. No entanto, o papel do influenciador vai além de apenas mostrar produtos: “Os influenciadores não se limitam a mostrar produtos; também contam histórias autênticas e conectam-se com o público”. Para Lé, essa conexão pessoal é o que realmente faz a diferença na forma como os consumidores veem e interagem com a moda.

O equilíbrio entre a sua vida profissional na Escola de Moda de Lisboa e a criação de conteúdo nas redes sociais exige organização e planeamento. “A organização é a chave para equilibrar a criação de conteúdo e as exigências do meu trabalho”, explica Beatriz. Para ela, quando os conteúdos são criteriosamente selecionados, as duas áreas podem complementar-se mutuamente, enriquecendo tanto o seu trabalho como influenciadora quanto o seu papel como coordenadora.

Quando questionada sobre o impacto dos influenciadores digitais na perceção da moda entre os jovens, Beatriz destaca o papel crucial da internet na democratização da moda. “Os influenciadores digitais estão a transformar a forma como os jovens percebem a moda”, afirma, apontando que a conectividade proporcionada pelas redes sociais tornou a moda “mais inclusiva e acessível”. A internet, segundo ela, não só mudou a forma como a moda é consumida, como também como é entendida pelas novas gerações.

Beatriz Lé tem experiência internacional e, ao comparar o papel dos influenciadores de moda em Portugal com outros países, identifica uma diferença significativa na escala de atuação. “Embora os portugueses sejam bastante recetivos às influências e comportamentos de consumo, ainda há um longo caminho a percorrer para que as marcas reconheçam plenamente a eficácia da influência dos criadores de conteúdo”, reflete. Enquanto em mercados internacionais os influenciadores estão bem integrados nas estratégias de marketing das marcas, em Portugal ainda se está a trabalhar para alcançar esse reconhecimento.

O crescimento nas redes sociais

Rebeca Caldeira, uma das influenciadoras digitais em ascensão nas redes sociais em Portugal, tem visto o seu impacto crescer exponencialmente no Instagram e no TikTok. Com uma abordagem que valoriza a autenticidade, Rebeca partilha como se mantém fiel a si mesma, mesmo com uma audiência cada vez maior, e como lida com as pressões da viralidade.

Apesar do crescimento rápido da sua presença digital, Rebeca destaca que o seu papel como influenciadora pouco mudou. “Desde o início, quando tinha cerca de 2000 seguidores, sempre me mantive fiel a mim mesma e ao que acredito. O que partilho reflete genuinamente quem sou”, diz, sublinhando que a responsabilidade de influenciar se mantém, independentemente do tamanho da sua audiência.

“Se não gostar ou acreditar nelas, simplesmente não partilho”, garante.

No entanto, com uma audiência maior, a responsabilidade também cresce, especialmente considerando o impacto imediato das redes sociais. “Sinto uma enorme responsabilidade, especialmente porque sei que muitas pessoas confiam nas minhas opiniões, porque sempre fui autêntica e bastante orgânica!”, afirma. O compromisso em partilhar mensagens verdadeiras reflete-se em todo o seu conteúdo, que tenta manter sempre consciente e responsável.

A viralidade, contudo, pode ser imprevisível e, para muitos criadores de conteúdo, há uma pressão constante para manter a relevância. Rebeca admite que essa pressão aumenta em certos casos, principalmente em conteúdos patrocinados, onde as marcas esperam resultados. “Nesses casos, o cliente espera resultados, mas não temos total controlo sobre como a audiência vai reagir”, partilha. Mesmo assim, ela opta por focar-se na qualidade dos seus conteúdos e na autenticidade.

Ao comparar o panorama dos influenciadores digitais em Portugal com outros mercados, Rebeca acredita que a principal diferença reside na proximidade que se cria com os seguidores. “Em Portugal, o público é bastante atento e valoriza a proximidade e a transparência. O que nos diferencia, no entanto, é a capacidade de criar um sentimento de comunidade mais íntimo”, observa. Essa conexão emocional, reforçada por interações calorosas e um suporte genuíno, é o que permite que os influenciadores portugueses criem um impacto duradouro.

A influência nas viagens e na gastronomia

André Chaíça, influenciador digital conhecido pelas suas experiências no mundo das viagens, lifestyle e gastronomia, fala sobre a forma como escolhe os seus destinos e o compromisso em manter-se autêntico num setor altamente competitivo. Com uma abordagem visual e estética, André partilha as suas descobertas de lugares únicos e pouco conhecidos, oferecendo aos seus seguidores uma perspetiva diferente e cativante.

Quando se trata de escolher os destinos e experiências que partilha nas suas redes, André confia no seu gosto pessoal e na riqueza estética de cada lugar. “Escolho também sempre lugares que me permitam criar conteúdos visualmente apelativos e que se destacam pela sua beleza e singularidade”, revela. Esta curadoria visual é o que faz com que o seu público aprecie a sua forma de “mostrar histórias, tradições e emoções em cada sítio”, um estilo que lhe valeu o reconhecimento como influenciador.

Criar conteúdo autêntico, no entanto, é um desafio, especialmente em nichos tão saturados como viagens e gastronomia. André destaca a importância de procurar “novos lugares em cada cidade ou região”, em vez de se limitar aos pontos turísticos já conhecidos.

Um exemplo foi uma viagem a Zurique, onde pediu para visitar um restaurante antigo e pouco frequentado. “É nesses lugares que se veem imensos pormenores e detalhes”, afirma.

“Já recebi mensagens de pessoas a dizer que a experiência delas não foi igual à minha e isso eu não acho justo”, admite.

O impacto do seu trabalho não se limita a Portugal. Ao explorar culturas e gastronomias diversas, André acredita que o seu conteúdo promove o turismo e o património gastronómico tanto em Portugal como no estrangeiro. “Acabo por fazer de guia de bolso”, afirma, descrevendo como a sua plataforma serve como uma janela para lugares e restaurantes que os seus seguidores podem visitar, seja em território nacional ou internacional.

O segredo por trás do Sucesso

Mário Skepis, com mais de 800 mil seguidores no TikTok, é um nome em ascensão no mundo dos influenciadores digitais em Portugal. Com conteúdos marcados pela interação direta com o público e um toque de comédia, Mário reflete sobre o que é necessário para se manter relevante e autêntico numa plataforma tão dinâmica como o TikTok.

Quando questionado sobre o segredo para manter uma audiência engajada, Mário revela que a consistência é fundamental. “O TikTok é uma plataforma muito rápida no que toca ao início e fim de trends, e se não se entra no barco a tempo, estamos a passar a oportunidade a outra pessoa”. Destaca que a rápida mudança de tendências exige uma adaptação constante, o que o ajuda a manter o interesse dos seus seguidores.

A interação direta com o público também é uma marca do trabalho de Mário, principalmente através dos seus vídeos de vox pops. Esta proximidade influencia a sua visão sobre o papel de um influenciador digital. “No meu caso, é fácil falar para uma câmara como falar para qualquer pessoa que venha a entrevistar”, afirma.

A relação entre influenciadores e marcas em Portugal tem evoluído, de acordo com Mário. “Cada vez mais as marcas têm feito parte da rotina de qualquer criador de conteúdo”, comenta, explicando que a oferta de produtos para promoção ou as parcerias para campanhas de marketing são agora uma prática comum. No entanto, o influenciador acredita que há sempre espaço para melhorias na forma como essas colaborações se desenrolam.

Além do entretenimento, Mário sente que o seu trabalho tem um impacto positivo nos seguidores. “Sei que pode parecer um pouco clichê, mas o facto de saber que com um vídeo consigo fazer pessoas rir deixa-me muito feliz”. Feliz e com algum dinheiro nos bolsos.