O artista saiu de campo

Andrés Iniesta anunciou o fim de carreira aos 40 anos, com 38 títulos conquistados, só faltou a Bola de Ouro.

Foi com um misto de alegria e lágrimas… de felicidade que o genial jogador anunciou a decisão de terminar a carreira de futebolista, ele que sempre teve o engenho e a arte para jogar bem com uma calma desconcertante. As fintas saíam perfeitas e os passes para os colegas eram meio golo, grande parte da história de Messi começou nos pés de Iniesta.


Sentado sozinho num banco no meio do palco, no dia 8, o seu número talismã, Iniesta falou do percurso que começou no Fuentealbilla, da viagem para Barcelona juntamente com os pais e o avô aos 12 anos e do adeus no Emirates Club. «Estou feliz, a minha carreira foi um conto. Vivi o melhor que se pode viver a nível pessoal e profissional», foram as suas primeiras palavras. Um dos jogadores mais talentosos do futebol moderno, que pensava o jogo como nenhum outro, explicou que «as lágrimas são de emoção e orgulho e não de tristeza. São lágrimas de um menino que tinha o sonho de ser futebolista e conseguiu graças a muito trabalho, sacrifício e nunca desistir. Esses valores são imprescindíveis na minha vida».


Andrès Iniesta relembrou momentos marcantes através de vídeos com declarações dos seus antigos treinadores Luis Enrique, Louis van Gaal, Pep Guardiola, Vicente del Bosque, mas também da família. Seguiram-se, naturalmente, inúmeras homenagens de personalidades ligadas ao futebol, algumas de fazer doer o coração. Especialmente marcante foi o desabafo do seu ex-companheiro no Barcelona Lionel Messi: «És um fenómeno. Um colega mágico e um dos quais mais gostei de jogar. Vais fazer falta ao futebol e a todos nós. Desejo-te o melhor», disse. Os dois jogadores partilharam o balneário do Barcelona entre 2004 e 2018 e venceram juntos muita coisa, ou não tivessem feito parte do dream team de Pep Guardiola. Foram protagonistas maiores de um futebol-espetáculo que marcou uma época.
O médio realizou 674 partidas, marcou 57 golos com a camisola culé – é o quarto futebolista com mais jogos pelo clube – e ganhou 32 títulos: nove campeonatos de Espanha, quatro Ligas dos Campeões, sete Supertaça de Espanha, seis Taças do Rei, três Supertaças europeias e três Mundiais de clubes. «O Barça mudou a minha vida. O grupo de jogadores e de treinadores era único», lembrou. Pelo Vissel Kobe ganhou um campeonato japonês, uma Taça do Imperador e uma Supertaça. Além disso, foi bicampeão europeu (2008 e 2012) e campeão mundial (2010) por Espanha. Fez parte da equipa do ano da UEFA por seis vezes e foi eleito o melhor jogador em campo na final do Mundial de 2010.


Iniesta esteve nomeado duas vezes para a Bola de Ouro, que consagra o melhor jogador do mundo, mas o troféu acabou por ir parar às mãos de Messi. «Gostaria de ganhar, mas é algo que não faz falta na minha vida», disse. Tem outro bem mais importante, o de campeão do mundo de futebol pela Espanha, até porque foi ele que, num lance de génio, marcou o golo da vitória sobre a Holanda. Disputou 131 partida com La Roja e fez 13 golos. «A seleção é outro nível. Tive o privilégio de ter estado na melhor época com vitórias do Europeu e Mundial». Quando terminou a aventura catalã, o médio rumou ao Japão para jogar no Vissel Kobe. A sua última experiência profissional, nos Emirados Árabes Unidos, terminou no final da época passada. O Barcelona pode, no entanto, voltar a ser a sua casa. Na despedida, não escondeu o desejo de treinar os culés. «Não quero estar longe do futebol. É a minha vida e vai continuar a ser. Vou tentar voltar para fazer um grande trabalho como treinador», frisou. O antigo internacional espanhol tinha preparado o fim de carreira como jogador. Criou a sua academia de futebol com o objetivo de um dia treinar o seu clube de (quase) sempre. «Agrada-me muito a ideia de treinar e, claro, gostava de voltar ao Barcelona em algum momento, porque é o clube da minha vida. Seria uma honra um dia treinar o Barça», reconheceu.


Iniesta tem outros gostos e dedicou-se à produção de vinho por influência do pai. Comprou uma propriedade com 300 hectares em Fuentealbilla, onde produz vinhos tintos, brancos e rosés com base em castas típicas espanholas e internacionais (Chardonnay, Petit Verdot e Sauvignon Blanc). A sua quinta já foi considerada por alguns especialistas como a melhor bodega do mundo.