O Professor de Barroso que acabou por ser seu assistente

Dusan Sidjanski é um eminente cientista político que as circunstâncias da vida fizeram cruzar o seu destino com Portugal e com portugueses ilustres.

A Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique, uma das mais importantes condecorações portuguesas, acaba de ser atribuída pelo Presidente da República a Dusan Sidjanski. A cerimónia de imposição das insígnias teve lugar na embaixada de Portugal em Berna.

Um ilustre desconhecido para a grande maioria dos portugueses, Sidjanski é, contudo, uma personalidade que os nossos académicos e alguns políticos conhecem muito bem.

Suíço de origem sérvia, nascido em Belgrado, especialista em questões europeias e cientista político, foi professor de Durão Barroso quando este fez o mestrado na Universidade de Genebra, na primeira metade dos anos 80. E a partir daqui teve lugar uma sucessão de factos que aprofundaram a relação entre os dois e mesmo com Portugal.

Na verdade, findo o mestrado em Genebra, Barroso torna-se assistente de Sidjanski – mas a seguir recebe uma bolsa da Suíça para fazer o doutoramento na Universidade de Georgetown, nos EUA. E é também nesta altura que Cavaco Silva, recentemente eleito primeiro-ministro de Portugal, o convida para secretário de Estado da Administração Interna. Estamos em 1985. Barroso pede opinião a Sidjanski, que lhe diz para não pensar duas vezes: «Ele pediu-me conselho. E eu disse-lhe que se tratava de uma oportunidade única, a agarrar imediatamente. Assim começou a sua carreira política» – recorda o professor.

A carreira de Barroso já a conhecemos: secretário de Estado da Administração  Interna, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, ministro desta pasta, e mais tarde líder do PSD e primeiro-ministro.

Em 2004, quando está na chefia do Governo, Durão Barroso recebe um contacto que determinará nova reviravolta na sua vida – e envolverá também o professor Sidjanski. Barroso é convidado para presidente da Comissão Europeia, aceita o desafio e convida Dusan Sidjanski para seu conselheiro. «É nesse momento que me chamou a Bruxelas como seu conselheiro político, função  que ocupei  durante os 10 anos da sua presidência» – conta Sidjanski, que acrescenta com ironia: «Assim, começando como seu professor, tornei-me mais tarde seu assistente!».

Adiante-se que a relação do professor suíço com Durão Barroso acompanhou de perto o fortalecimento da sua relação com Portugal. No início dos anos 80, Dusan Sidjanski veio por diversas vezes ao nosso país dirigir  seminários de formação para  responsáveis de áreas relativas à adesão à União Europeia. E aí passou temporadas em Lisboa e em Coimbra.

Marcelo também

entra na história

É desse tempo que Sidjanski conta uma história deliciosa : «Aquando das minhas diversas permanências na Universidade de Lisboa, conheci o professor Marcelo Rebelo de Sousa, hoje  Presidente de Portugal. Lembro-me de que numa mesa-redonda sobre Portugal e a Europa ele  impressionou-me muito, pois, enquanto participava no debate, ia escrevendo um artigo para o jornal Expresso no qual colaborava, assim como a esposa de Barroso, Guida».

Marcelo era mesmo assim: fazia duas e três coisas ao mesmo tempo.

A partir desses anos, Dusan Sidjanski nunca cortou os seus laços com Portugal – e, mais recentemente, organizou em coautoria com Fausto de Quadros, e a pedido da Comissão Europeia, um relatório publicado em 2017,   sob o título: The Future of Europe – The Reform of the Eurozone and the Deepening of Political Union.  Neste relatório, foram coligidos contributos de oitenta académicos de todo o mundo, titulares de cátedras europeias Jean Monnet, sobre as medidas necessárias para a reforma da União Económica e  Monetária e sobre o avanço da União Política.

O livro foi apresentado em Lisboa por Guilherme d’Oliveira Martins, numa sessão na Aula Magna presidida por Marcelo Rebelo de Sousa. 

Sobre este trabalho, Sidjanski escreve: «Uma colaboração mais  recente [com portugueses] foi o livro The Future of Europe que  dirigi com o meu amigo professor Fausto de Quadros, especialista da Europa e de conflitos territoriais, um livro sempre actual e útil».

Outra das obras marcantes da sua vasta bibliografia é O Futuro Federal da Europa, publicado em 1992 e traduzido para português por Durão Barroso.

Com 98 anos, que completará no próximo dia 23, Dusan Sidjanski continua em plena atividade. Sendo fundador do Departamento de Ciência Política da Universidade de Genebra, é professor emérito da Faculdade de Ciências  Económicas e Sociais do Instituto Europeu da mesma universidade, e presidiu de 2003 a 2008 ao Centro Europeu da Cultura, do qual continua a ser co-presidente. l

jose.c.saraiva@nascerdosol.pt