Os BRICS – agremiação económica e política composta pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – estarão reunidos durante a próxima semana na cidade russa de Kazan. O grupo, que ganhou o nome pela mão de Jim O’Neill no relatório Building Better Economic BRICs do banco Goldam Sachs e se formalizou em 2009, acolherá nesta cimeira, de forma oficial, mais cinco economias emergentes, passando a denominar-se BRICS+.
A Arábia Saudita, o Egito, os Emirados Árabes Unidos, a Etiópia e o Irão pertencerão agora ao bloco que apresenta uma ameaça real à hegemonia do G7 e que não mostra sinais de abrandamento. Porém, a integração poderá ser uma faca de dois gumes, porque se por um lado a aliança se fortalece com as entradas, por outro irá certamente aprofundar as divergências internas de um grupo que tem sido marcado, desde a sua fundação, por uma heterogeneidade difícil de ser ignorada.
A entrada oficial do Irão é uma confirmação da formação de um eixo antiocidental impulsionado pela Rússia e pela China e constitui uma incontornável ameaça para uma já frágil ordem internacional liberal e para o multilateralismo que lhe é inerente.
O peso dos BRICS
Segundo dados de 2024 do Fundo Monetário Internacional, os BRICS detêm 32,67% do Produto Interno Bruto (PIB), expresso em paridade de poder de compra mundial. Número que ascenderá aos 36,7% com as cinco novas economias e que aumenta o fosso para o G7 (29,63%) neste aspeto.
O grupo composto por economias emergentes representa cerca de 46% da população global, o que faz com que assuma uma importância significativa na representação do chamado ‘Sul Global’ que se sente esquecido pelos países desenvolvidos. Este é um fator que tanto a Rússia como a China têm explorado para alavancar a sua cruzada por uma ordem multipolar em que os Estados Unidos deixam de ser a principal potência.
Apesar de afirmarem na sua declaração dirigida à Organização Mundial do Comércio (OMC) que se comprometem «a apoiar o sistema de comércio multilateral baseado nas regras e nos princípios da OMC», o grupo é um dos principais responsáveis por expor a ineficácia da organização, afetando, consequentemente, o multilateralismo que se encontra longe daquilo que foi na década de 1990.
Os objetivos de Kazan
A agenda da cimeira da próxima semana será pautada, para além das questões habituais, por discussões de alargamento, pela criação de um estatuto de nações parceiras e, talvez o aspeto mais importante, pela adoção de uma estratégia que seja capaz de substituir o dólar nas interações comerciais entre os integrantes, como noticiou a CNN Brasil. Este último objetivo, a ser concretizado, marcaria uma mudança definitiva no sistema financeiro internacional e colocaria os Estados Unidos numa posição delicada.
Contudo, as divergências no seio do bloco, que se aprofundarão à medida que o alargamento pretendido for ganhando forma, mina a homogeneidade necessária para poder, de facto, levar a cabo uma reforma substancial da arquitetura económica mundial.
Na agenda da cimeira estarão ainda temas como o conflito no Médio Oriente e a divulgação dos países considerados para os estatutos de parceiros, bem como os critérios que necessitam de ser cumpridos. O que não está, para já, em cima da mesa é o conflito na Ucrânia, o que surpreende pouca gente.