Conclusões da nomeada CTI estão viradas do avesso pelo Reino Unido

O exemplo inglês, extrapolado para Lisboa, mostra que em 2080 o novo aeroporto poderá chegar a 49 milhões de passageiros. Mas a CTI afiançou-nos que chegará quase a 150 milhões! Três vezes mais.

A imperativa atualização – 2024 dos equívocos CTI (I)

Em março 2024, o governo britânico disponibilizou aos cidadãos, via infrastruture.planninginspectorate.gov.uk, a mais atualizada informação técnica referente ao aumento da capacidade de um aeroporto londrino: acrescento de uma pista só de partidas (Gatwick Airport Northern Runway Project).

O informe técnico tem a credibilidade do país líder da aviação europeia, ao qual EUROCONTROL atribui taxa 0,8% de crescimento aéreo (como Portugal), cuja extrapolação da procura para o caso concreto de Lisboa conduz ao resultado ‘ano 2050-44M/ano 2080-56M’.

O informe técnico reporta-se a um aeroporto de 670ha gerido pela empresa VINCI (como Lisboa) e a um sistema de pistas proposto pela VINCI igual ao HUB Alverca, o qual é visto no horizonte –2050 em duas perspetivas: i) operar com uma (1) pista → 330.000mov-67M e ii) upgrade ‘1 pista + 1 pista só partidas’ → 390.000mov-80M.

A disparidade entre o atualizado informe técnico e o relatório preliminar da nomeada CTI é enorme em procura, em área aeroportuária e resposta do sistema de pistas. Se o informe técnico britânico estiver certo, a poupança para Portugal será superior a doze mil milhões de euros. A este nível de grandeza não se aplica o ditado: ‘Muitas vezes se perde por preguiça o que se ganha por justiça’. O país/UE tem que ir atrás do que está certo, sem olhar a quem.

Como tudo começou

Antes da pandemia, a VINCI entregou às autoridades técnicas nacionais (NAV e ANAC) uma projeção em que Lisboa no horizonte-2050 atingia 56M e em 2062 (termo da concessão) 64,4M, que se resolvia com uma área aeroportuária de 640ha e uma capacidade aérea de 72mov/h. E, deste modo, em 2019 a solução HUB Portela + Montijo foi aditada ao contrato de concessão.

E depois veio a pandemia

A consequência imediata foi a paragem, mas as mudanças comportamentais são mais pesadas e baixaram as expectativas de crescimento da aviação. O relatório IATA do ano passado coloca a par a Europa e a América do Norte (regiões maduras), no último lugar do crescimento de passageiros aéreos. Má notícia, que piorou no relatório semestral deste ano, onde a Europa já aparece sozinha no último lugar. E a média da região ainda é enganosa: se a cruzarmos com a informação EUROCONTROL, estamos no lado ocidental que cresce cerca de metade do lado oriental e, numa análise mais fina, até ficamos no grupo dos países de mais fraco crescimento, perto do fundo da tabela com companheiros ilustres como o Reino Unido.

É estranho o contraste com os companheiros do grupo 0,8%! Observemos em passageiros, que nos diz mais que os asséticos ‘movimentos’. No ano passado, o Reino Unido baixou o crescimento, em relação ao ano anterior, para 1,5% no período 2018-2040 e para 0,9% no período 2040-2050.

Extrapolemos estas taxas para Lisboa: no período 2018-2050 o volume sobe de 29M para 44M (52%) e, depois, mesmo com a taxa 0,9% até 2080 − o que até não é realista pois vai descer até residual –, no termo da concessão só se chega a 49M e, no longínquo final, a 56M.

Esperem aí, mas a CTI não nos afiançou que Lisboa podia chegar quase a 150M?

Será que as autoridades britânicas não sabem do que falam? Afinal o seu mercado aéreo é ‘apenas’ o primeiro europeu e Londres é mais do que a soma de Amesterdão com Frankfurt!

Será que a independente EUROCONTROL conhece pouco de aviação, não sabe fazer cálculos e é descuidada na informação aos países europeus que nela participam?

Será que a VINCI quis enganar as autoridades técnicas nacionais (NAV e ANAC) antes da pandemia? Será que, depois da danosa pandemia, está a tentar enganar as autoridades britânicas com métricas que baixam Lisboa–2062 para, em números redondos, 50M?

Ou será que a EUROCONTROL, IATA, Vinci e autoridades britânicas estão certas e foi a comissão nomeada CTI que torceu os números até se chegar ao giga-aeroporto? A nosso ver, a empoladíssima procura é apenas uma parte da engrenagem arquitetada para triturar tudo o que não fosse um aeroporto de 4 pistas na margem sul e a maior ponte rodoferroviária mundial.

No próximo artigo desfiaremos o novelo, deixando já a ponta solta: o aeroporto Bombaim – 1 pista já processou 334.391mov (recorde dia 1.032mov) → Capacidade 69M no horizonte–2050.