A repetição sem fim de que a Polícia é racista começa a agitar a PSP e o Nascer do SOL sabe que o diretor nacional está a ser pressionado pelos seus pares para avançar com uma queixa-crime contra todos aqueles que acusam a instituição de ser racista. Luís Carrilho, diretor nacional, ainda pondera o caminho a seguir, assim como o mundo sindical da PSP. Dois sindicatos e uma organização sindical admitem avançar com uma queixa-crime contra os autores daquilo que consideram uma difamação. «Nós, Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia (SNOP), vamos ponderar processar essas pessoas, porque há comentários que são nauseabundos e são inadmissíveis, quando dito com um tom incendiário e claramente sem querer ou pretender almejar a paz. Ainda por cima, estamos a falar de pessoas com responsabilidade política, relativamente às quais as pessoas esperam um bocadinho mais de candura, moderação, e respeito pelas instituições democráticas, onde a PSP se insere», explica Bruno Pereira, presidente do SNOP.
Questionado se os políticos podem ficar de fora dessa queixa, o líder sindical não hesita: «A cor política é irrelevante, todos os que façam este tipo de comentários, ainda por cima nesta altura, não procuram a paz, procuram, claramente, alimentar o caos e alimentar uma discussão completamente estéril, sem qualquer tipo de razoabilidade, sem qualquer tipo de sentido democrático, poderão ser processados, se decidirmos avançar».
Bruno Pereira, líder dos oficiais e agora segundo comandante da divisão da Amadora, não cala a sua revolta: «Tudo o que seja etiquetagens, que associem a Polícia a racismo, excesso de violência, radicalismo e fascismo, como de tempos a tempos se costuma ouvir, estes tipo de comentários e narrativas desprovidas de qualquer tipo de facto, de moderação e cuidado, além de ofensivas a uma instituição, são ofensivas de todos os seus milhares de profissionais, que todos os dias lutam pela segurança de todos nós. Pegar em casos, totalmente isolados, factos longínquos para conseguir criar uma narrativa parece-me que, além de perigoso, extremamente ofensivo de uma instituição que tem 157 anos. E que não é uma instituição dos tempos pidescos, ou dos tempos autocráticos, mas é uma instituição humanista, que serve as pessoas, que são a sua razão de existência. Temos de ter muito cuidado na forma como falamos, na forma como tratamos e na forma como não respeitamos estes profissionais».
Negar o racismo e a xenofobia
Para Rui Amaral, presidente do Sindicato Nacional da Carreira de Chefes da PSP (SNCC-PSP), estão a misturar-se vários conceitos e problemas. «Nos últimos tempos os assuntos têm sido misturados. Tudo aquilo que queremos é transformá-los em assuntos diferentes. O primeiro tem a ver com a morte de um cidadão e acredito que tenha acontecido num quadro legal, mas o tempo é de apuramento da verdade. Ninguém me poderá levar a mal por isso. É tempo de presunção de inocência e aguardar serenamente pelo resultado da investigação. E o segundo aspeto é o que tem acontecido em relação a toda a criminalidade na Área Metropolitana de Lisboa. E o perigo é de encontrarmos uma atenuante ou algo que justifique aquilo que é injustificável. Há um aumento da criminalidade e da delinquência juvenil, fenómenos da Europa Central que têm sido importados. Temos de separar os momentos. Hoje, Portugal não é o país seguro que todos nós vamos alimentando. Vamos perdendo a sensação de segurança e, no meio disto tudo, queremos encontrar uma razão para a violência devido à ação policial. Nem é admissível que se louve determinadas ações policiais nem que haja atenuante para os atos criminosos que têm sido levados a cabo».
Quanto ao racismo da Polícia, Rui Amaral não perde tempo: «Peremptoriamente, nego o racismo e a xenofobia dentro desta força de segurança. Acredito que isto não está dentro da nossa formação. Somos produto da sociedade e, portanto, estamos a querer insinuar que a sociedade é da mesma forma», acrescentando que não descartam apresentar queixa contra aqueles que acusam a Polícia de ser racista. «Vamos ver o que faremos», avançou.
Também Pedro Carmo, da Organização Sindical dos Polícias, revela a intenção de avançar com uma queixa-crime, mas a última experiência não foi a melhor: «Estamos a pensar naquilo que haveremos de fazer. Da outra vez, apresentámos uma queixa-crime contra o senhor Mamadou Ba, o processo foi arquivado e ele ainda fez uma queixa-crime contra um colega».
Quem não quer ouvir falar em queixas-crime é Paulo Santos, líder da ASPP, o principal sindicato da PSP. «Achamos que a discussão que está a ser feita por problemas graves, que é o caso da segurança interna, está a ser feita de uma forma errada. Ou seja, muito radicalismo, muita falta de moderação, muito populismo, muito aproveitamento político, jornalístico e mediático. E nós queremos é ser um contributo para a moderação e para respostas concretas e políticas que possam beneficiar os polícias e a sua ação policial. Não queremos ser um contributo para mais ruído porque já há muitos intervenientes a provocar ruído».
Os acusadores
O SOS Racismo e o Bloco de Esquerda, além de vários jornalistas e comentadores, têm carregado na tinta do racismo e xenofobia das forças de segurança, havendo mesmo quem peça a demissão do diretor nacional da PSP. Serão estes que poderão responder nas eventuais queixas judiciais dos Polícias. Mamadou Ba e o seu SOS Racismo não têm dúvidas: «Em todos os casos de brutalidade policial que resultaram em mortes de cidadãos negros, racializados, a PSP nunca foi convincente sobre as condições e motivos destas mortes», adiantou, acreditando que a PSP está «inegavelmente infiltrada pela extrema-direita racista», pelo que «as mortes de pessoas negras às mãos de agentes policiais levantam as maiores dúvidas e preocupações sobre as reais motivações das intervenções».
Com Maria Moreira Rato