Como em tudo o que queremos sustentável a longo prazo, não devemos começar a construir a casa “pelo telhado”. O mesmo se passa com a crise de habitação que vivemos e a escassez de imóveis no mercado, que tanto tem afetado quem procura casa para viver numa altura em que começamos a notar, novamente, um aumento da procura face à oferta disponível.
Precisamos de construir mais? A falta de mão-de-obra, a excessiva burocracia, as elevadas obrigações fiscais, e a demora nos processos de licenciamento não nos permitem. Precisamos de construir melhor? A questão da qualidade nem sequer se coloca, quando não há possibilidade de avançar para a construção. Precisaremos, afinal, de reabilitar? Nas últimas semanas, temos assistido a várias posições contrárias. Por um lado, há quem defenda que a solução para a crise da habitação não passará por mais construção, mas por colocar no mercado os imóveis que existem, mas não estão a ser utilizados. As opiniões dividem-se, e em grande parte porque não existe um inventário atualizado que disponibilize informação real sobre que imóveis existem no mercado, os que estão vazios e precisam de reabilitação, os que já estão reabilitados, e os que estão prontos para serem colocados no mercado.
É urgente descobrir e pôr em marcha alternativas viáveis para responder aos verdadeiros entraves que impedem que se consiga reforçar o parque habitacional. Se o objetivo é alcançarmos os 59 mil fogos em 2025 – entre novos e reabilitados – temos de começar já.
Uma das respostas a curto prazo poderá ser a construção alternativa, como já vemos acontecer, por exemplo, em alguns países do Norte da Europa, com a pré-fabricação ou a construção modular, e aplicar novos materiais para construção dos edifícios em altura. Por exemplo, através da primazia de materiais como a madeira, como é o caso do CLT (sigla em inglês para Cross Laminated Timber), um sistema que tem por base traves de madeira, que são dispostas em camadas longitudinais, com outras camadas transversais. A justaposição destas camadas permite elevar paredes muito robustas e num tempo de construção mais curto – uma equipa de quatro a seis profissionais pode instalar mais de dez mil metros quadrados de construção por dia utilizando placas CLT.
O mesmo acontece com as casas modulares ou impressas em 3D. Temos hoje impressoras que já imprimem com base em cimento, e que permitem erguer uma casa de 100 metros quadrados em cerca de 18 horas – uma enorme discrepância quando sabemos que o tempo médio de construção pode demorar entre um a cinco anos – e que consegue ser finalizada em pouco mais de um mês, sendo sempre preciso ter em conta os tempos previstos para os licenciamentos necessários. Com este tipo de soluções novas no mercado conseguiremos alcançar a construção massiva. É possível contruir-se com este tipo de classificações. E com todas as certificações obrigatórias. Contudo, para que isto aconteça é preciso termos mais empresas em Portugal certificadas e que, acima de tudo, invistam e vejam retorno neste tipo de investimento e tenham uma estrutura fiscal atrativa que não as faça pensar duas vezes.
Além disso, com estas soluções também o ambiente agradece, já que o edifício tradicional tem um peso, durante o período da construção, que representa 11% de emissões de CO2. Já durante o seu tempo útil que ronda os 70 e os 100 anos, chega a representar outros 29%. Temos de olhar para estas alternativas, não só como uma forma de reforçar o mercado, mas também pelo menor impacto ambiental deste tipo de construção.
Da mesma forma, também os bancos e as seguradoras terão de adaptar-se, e valorizar este tipo de casas de construção alternativa. Precisamos urgentemente de simplificar burocracias, até porque a percentagem de edifícios licenciados para fins de construção nova tem vindo a diminuir; de reduzir o IVA na construção; reforçar a mão-de-obra, já que sabemos que seriam necessários dezenas de milhares de profissionais para dar resposta aos desafios atuais do País (pelo menos 80 mil, de acordo com os dados mais recentes da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas, AICCOPN); e apostar em novas tecnologias, sistemas de construção e materiais que permitam construir casas com intervenções de curta duração, e assim reforçar o mercado com uma quantidade significativa de imóveis.
Por fim, é preciso não ter medo de arriscar. Numa altura em que temos um novo Orçamento do Estado, é minha esperança que saibamos, com estes fundos, olhar para o melhor que se faz na Europa e no mundo, direcionar os investimentos e tornar o setor da construção mais atrativo. Só assim conseguiremos dar resposta no médio-longo prazo à crise que já vivemos há tantos anos.
Adriano Nogueira Pinto, Coordenador Nacional da DS Private